Campo aberto para a inovação
Setor primário atrai startups que prometem soluções inovadoras para aumentarão lucro dos produtores rurais
O investimento em inovação não é novidade no campo. Há sempre a busca por soluções que possam facilitar e ampliar a produtividade. Mas, além das companhias tradicionais, startups também têm se voltado para o agronegócio, que é o setor que possui o melhor desempenho na economia do País. Elas são empresas em fase de desenvolvimento com projetos promissores e que têm como base pesquisas e ideias criativas.
Voltadas para o agronegócio, são chamadas de agrotech e, nos últimos cinco anos, expandiram 70%. Mas, o número ainda é tímido, especialmente se comparado com o potencial do setor. No censo de 2016, realizado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/Esalq) com a aceleradora AgTech Garage, somaram 75 no País.
“O agronegócio é intensivo de capital e de tecnologia e as soluções vão desde melhoramento genético de sementes até plataformas de integração”, explica o analista da unidade de Inovação e Competitividade do Sebrae Goiás, Francisco Lima Junior. As iniciativas têm possibilitado aumentar o lucro de fazendas com a melhoria de gestão e a redução de custos. “O mercado tem problemas e oportunidades que geram um valor grande nas transações”, completa sobre a atratividade para as agrotechs.
Um exemplo foi a venda por quase US$ 1 bilhão da Climate Corporation para a Monsanto em 2013. Com o conceito de fazenda digital, em que a produção do campo deixa de ter gestão puramente humana, a inovação e a sua venda representam um impulso para as startups. “Goiás importa soluções tecnológicas do mundo inteiro. A nossa vocação é agrícola e tem regiões com agropecuária intensiva com grandes players e um mercado aquecido”, observa Francisco sobre o potencial a ser explorado.
Os sócios da Gado e Cia, Ydaiano Abdalla, e João Guilherme Soares fazem parte do grupo de empreendedores que já aproveitam esse potencial. “Percebemos a carência e desenvolvemos um aplicativo que é um classificado rural”, afirma Ydaiano. Com 90 dias de lançamento, comemorou mil downloads. O diferencial é que garante as informações e trabalha com veterinários e zootecnistas para checar se o gado de corte ou de leite realmente está como o descrito pelo vendedor, fotografa e filma para dar confiabilidade ao anúncio.
“São mais de 4 mil clientes no Estado e acompanhamos o processo dos dois lados, compra e venda”. A forma de monetizar é com a participação de 1% nas negociações de cada um dos envolvidos. “Com parceiros, consigo fazer atendimentos simultâneos com custo baixo. São 1,6 mil cabeças mensais”. A agrotech está em fase de incubação, recebe apoio como empresa nascente, e para os próximos 12 meses ele diz que é necessário investimento de cerca de R$ 200 mil.
Validação
Uma ideia semelhante à da goiana Gado e Cia foi desenvolvida pelo empreendedor baiano Matheus Ladeia. Em 2013, a seca fez o pai dele perder animais, por isso, teve a ideia de fazer um site para aluguel de pastos para auxiliar nessa situação e nasceu a Pastar. Com o tempo, foi além e entendeu que alugar áreas não era o que o mercado queria, mas sim comercializar as criações: boi, carneiro, ovelha e cavalo. Conectar produtor e comprador.
Ao torná-la viável, hoje a Pastar é reconhecida em todo o Brasil. “As startups têm chegado ao campo com a difusão das ferramentas digitais. As pessoas que têm ligação com o campo têm começado a aproximar as demandas com as coisas que são possíveis de se fazer com a tecnologia”. Erros e acertos fazem parte da validação.
Por outro lado, alerta. “Tem de ter cuidado, porque é um mercado muito modernizado”. Matheus indica entre os pontos importantes conhecer bem os dois lados, a tecnologia e o agronegócio. “Para sair do papel, é importante ir para o campo entender a necessidade real do produtor e buscar os de referência para que possam abraçar a sua causa”.
Saber como ganhar escala, como a solução pode chegar ao cliente e as técnicas e nuances do mercado tecnológico, como pontua, têm de estar no centro da atenção. “Ao mesmo tempo, parte do core business é o campo, por isso, tem de conhecer o mercado dentro do agronegócio, que historicamente é muito fechado, tradicional”.
Incentivo
Municípios goianos que concentram a força no agronegócio também têm se despertado para a tendência de startups no setor. É o caso de Rio Verde e Jataí, que querem se tornar polos de incentivo às agrotechs. O secretário de Desenvolvimento Econômico de Jataí, Francis Barros, afirma que inovações com soluções simples para problemas antigos trazem possibilidade de ganhos maiores, por isso cada vez mais ganham atenção.
“O foco maior é investir para na mesma área ter mais produtividade e agregar valor exportando não só insumos como tecnologias”. Ele avalia que para os produtores há também a oportunidade de investir nessas empresas. Foi para o Laboratório Exata que o empreendedor de Jataí, Jocemar Ferreira Garcia, desenvolveu o aplicativo de celular INFOSoil, que disponibiliza pedidos e resultados de análise de solo e folhas.
Depois dessa solução que tem cerca de um ano, criou a Analista Rural, que tem como objetivo mostrar quais as práticas de manejo com melhor resultado para o produtor, por meio de sistema que mede as técnicas, leva em consideração solo, clima e pesquisas. “Recebemos investimento da Funtec e estruturamos as primeiras etapas. Agora, pleiteamos editais e o projeto é incubado na Beetech da UFG”.
Os incentivos crescem mas, por outro lado, também é preciso preparo para passar por cada etapa. “É importante a fase de teste e experimentação. Só com feedback se melhora o protótipo”, detalha o diretor de marketing do Instituto Gyntec e investidor-anjo, Marcos Bernardo Campo, ao reforçar que depois da ideia ganhar a forma de protótipo entram as aceleradoras que apoiam e investem para o rápido crescimento. Somente a Ace Gyntec tem cerca de R$ 1 milhão para investir por ano e interesse por agrotechs.
“Se a ideia é um negócio desejável no ponto de acabar com a dor de alguém, consegue se tornar um protótipo, é tecnicamente e economicamente viável, consegue ir bem no mercado”, completa Cynnara Bretas, que é sócia da Chris Taveira na aceleradora Grupo NorthON. No ecossistema goiano, crescem o número de aceleradoras e investidores, o que tem facilitado o surgimento de startups, que não precisam mais deixar Goiás para crescer.
Evento
Para estimular esse empreendedorismo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (SENAR Goiás), a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), o Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Goiás) lançaram em agosto o Desafio Agro Startup. “O intuito é promover mais inovação e introdução de tecnologia no setor agropecuário no Estado de Goiás”, explica o superintendente do Senar Goiás, Antônio Carlos de Souza Lima Neto. Serão oferecidas capacitações e mentorias, sob a forma de competição, para a criação de novos negócios. Ele pontua que será feito trabalho com o programa Faeg Jovem para fortalecer e formar novas lideranças no meio rural e incentivar a criação de projetos para resolver gargalos que interferem na produtividade. Outro pilar é a sucessão familiar.
Porém, o Desafio Agro Startup é aberto a toda a comunidade. Ele possui quatro fases: capacitação, seleção inicial, mentorias e a final, que será em abril de 2018. Na primeira parte, os participantes têm acesso a conteúdo especializado por meio de cursos de Educação a Distância (EaD) para o desenvolvimento de um negócio inovador, com temas como empreendedorismo, Design Thinking, Lean Startup e Business Model Canvas.
Na segunda fase, as propostas por escrito serão recebidas, avaliadas e selecionadas para participar do desafio. As 50 melhores ideias passarão pela avaliação de uma comissão técnica. Na etapa seguinte, os empreendedores terão acesso a um ciclo de mentorias especializadas para refinar os modelos de negócios e, posteriormente, haverá nova seleção para a final, que é presencial e compreende a avaliação por banca de especialistas, investidores e empresários. Primeiro, segundo e terceiros lugares serão premiados.
O contato com investidores e aceleradoras que possam viabilizar investimentos para startups será possível e faz parte do ecossistema que se pretende fomentar para criar oportunidades não só para os vencedores. “O projeto finda durante a Tecnoshow, em Rio Verde, por ser a maior feira de tecnologia de Goiás e uma das maiores do País”, informa Antônio Carlos ao lembrar que não há custos para participar, basta uma boa ideia.
“Pretende-se mostrar para quem está vinculado às atividades rurais que é possível empreender no modelo de alto impacto”, completa Francisco Lima Junior, do Sebrae. Entre as dicas para empreender, pontua que é preciso identificar mercado, entender o que o cliente espera e realizar pesquisas para checar as possibilidades.
Assessoria de Comunicação do SENAR Goiás
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