CNA mostra impactos dos custos para os produtores de alimentos
Dados foram apresentados na live de encerramento do Circuito de Resultados do Projeto Campo Futuro, na terça (8)
Brasília (08/11/2022) – A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apresentou, na terça (8), os resultados do Projeto Campo Futuro que levantou, em 2022, os custos de produção de 11 atividades agropecuárias em 116 municípios de 21 estados brasileiros.
Os dados gerais foram apresentados no evento de encerramento do Circuito de Resultados do Projeto Campo Futuro, que trouxe um panorama dos custos na pecuária de leite, silvicultura, cana-de-açúcar, fruticultura, aves, suínos, hortaliças, cereais, fibras e oleaginosas, cafeicultura, pecuária de corte e aquicultura.
Na abertura do encontro, o diretor técnico adjunto da CNA, Maciel Silva, afirmou que o objetivo do Campo Futuro é gerar dados para que sejam transformados em informação e, sobretudo, em subsídio para a tomada de decisão dos produtores, estimulando a eficiência e assertividade no dia a dia.
Segundo Maciel, este foi um ano desafiador para os produtores brasileiros, principalmente em razão das adversidades climáticas e geopolíticas. “A cada ano, os desafios do setor aumentam e vão desde a interferência do mercado internacional na oferta dos insumos até na formação dos preços dos produtos agropecuários”, disse.
Durante a live, o assessor técnico da CNA, Thiago Rodrigues, apresentou os resultados do projeto, com destaque para os itens de maior participação nos custos agrícola e pecuário. No caso das atividades agrícolas, os gastos com fertilizantes, defensivos agrícolas e diesel pesaram no bolso do produtor em 2022.
A instabilidade da oferta mundial por causa do conflito entre Rússia e Ucrânia promoveu elevação nos preços internacionais que, aliados a problemas logísticos, encareceram o produto no mercado nacional, principalmente no segundo trimestre deste ano. Considerando o preço médio de janeiro a setembro de 2022, Ureia, MAP (fosfato monoamônico) e KCL (cloreto de potássio) estão 94%, 71% e 125% mais altos, respectivamente, em comparação ao mesmo período de 2021, em valores nominais.
O glifosato continuou o seu movimento de alta observado em 2021. No acumulado de setembro de 2021 a setembro de 2022 a alta chegou a 45%. O preço dos combustíveis, em especial do diesel também afetou a colheita da safra passada e o plantio atual. Considerando apenas os dados médios, de janeiro a setembro de 2022, os produtores sentiram a alta acumulada de 26% no preço do combustível. Nos últimos 12 meses, o incremento passou a ser de 44%, afetando principalmente o plantio da safra de verão, iniciada em setembro.
Já em relação as atividades pecuárias, Thiago Rodrigues explicou que os principais itens dos custos dos produtores neste ano foram mão de obra, ração e energia. O preço de ração na pecuária de corte e leite, por exemplo, teve um incremento de 11% na média de janeiro/setembro se comparado ao mesmo período de 2021, principalmente pela alta do sal mineral (50%). Considerando um período maior, desde o início da pandemia (mar/20), o setor vivencia uma alta acumulada até setembro de 96% no preço da ração.
Custos de produção por atividade agrícola:
Soja
As lavouras de soja sofreram com grandes variações climáticas na temporada 2021/22. No Sul do País, parte do Centro-Oeste e do Sudeste, os baixos índices pluviométricos impactaram negativamente na produtividade e, consequentemente, na rentabilidade das propriedades típicas do Sul. Já no Sudoeste de Goiás, Nordeste do Mato Grosso do Sul e em parte do Mato Grosso, as condições climáticas foram mais favoráveis, com luminosidade, temperatura amena e bom volume de chuvas, favorecendo a produtividade e resultando em uma colheita volumosa.
Na média, o COE (Custo Operacional Efetivo) da produção de soja aumentou 34,6% na safra 2021/22 em relação à 2020/21, em termos nominais. Por outro lado, a Receita Bruta (RB) registrou diminuição de 8,3% em 2021/22 frente à temporada anterior, com pressão da produtividade.
Milho
O clima foi adverso ao longo das produções do “milho verão” e “de segunda safra” de 2021/22. No Sul, o tempo seco na temporada de verão prejudicou as lavouras, enquanto o bom volume de chuva no Norte-Nordeste favoreceu a produção. Para a segunda safra, as áreas semeadas no início da janela de plantio tiveram boas colheitas, entretanto as mais tardias foram prejudicadas pela falta de chuva e a colheita ficou abaixo do esperado. Mesmo com essa diversidade climática nas duas temporadas de cultivo, a produção nacional de 2021/22 foi recorde.
O Custo Operacional Efetivo médio nacional da produção de milho subiu 31,1% na safra verão e 56,7% na segunda safra entre 2020/21 e 2021/22 e a receita bruta caiu 7% no mesmo período.
Feijão
No caso do feijão, foram avaliadas duas regiões em Goiás e Paraná para primeira safra e três (duas no Paraná e uma em Santa Catarina) para a segunda safra. No geral, o clima foi mais favorável ao desenvolvimento das lavouras de feijão segunda safra, sendo a primeira safra afetada pelo baixo índice pluviométrico. Em média, os custos com fertilizantes na produção de feijão alcançaram um incremento de 50% em relação à última safra.
Arroz
A produção de arroz irrigado da safra 2021/22 registrou comportamento distinto dentre as três propriedades típicas acompanhadas pelo Projeto Campo Futuro nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A região de Camaquã/RS registrou o maior COE, enquanto a de Tubarão/SC – que cultiva o cereal no sistema pré-germinado, o menor. O COE do arroz irrigado subiu 20,3% na safra 2021/22 em relação à anterior, em termos nominais. Destaque para o custo com fertilizantes que aumentou 80% na safra 21/22.
Trigo
Em 2022 foram avaliadas pelo Projeto Campo Futuro oito regiões produtoras de trigo do Sul do Brasil, tendo a colheita de 2021 como referência. Embora o preço médio recebido pelo produtor e a colheita tenham sido superiores aos da temporada anterior (2020), a rentabilidade caiu na safra 2021, fruto da alta de 58% nos custos.
Café
O custo de produção para a cafeicultura foi levantado em 15 praças no ano de 2022, sendo 10 representantes do café arábica e 5 do café conilon. A elevação nos preços dos insumos foi sentida principalmente nos custos com atividades mecanizadas e fertilizantes. Outro fator que impactou os custos foi o desembolso com mão de obra, item que representa 28% do COE.
Cana
Durante o período de junho a setembro de 2022, foram analisados os custos de produção da cana-de-açúcar em 13 municípios das regiões Centro-Sul e Nordeste. Em relação à edição 2021 do Projeto Campo Futuro, o atual ciclo de produção registrou aumento dos custos de produção, pressionados principalmente pela escalada de preços de insumos usados no processo produtivo. Os eventos climáticos adversos reduziram a eficiência produtiva dos sistemas, que somado a alta dos custos, pressionou as margens líquidas na maioria das propriedades. O aumento do Custo Operacional Efetivo alcançou 46% nesta safra em comparação a anterior nas regiões pesquisadas.
Frutas
As culturas que tiveram os custos de produção apurados no Projeto Campo Futuro 2022 foram abacate, limão e uva. Os painéis foram realizados em 7 municípios localizados nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. Questões climáticas, fitossanitárias e de precificação das próprias frutas foram os principais desafios relacionados às atividades analisadas. O custo médio com mão de obra comprometeu em média 32% do preço recebido no cultivo das frutas pesquisadas, enquanto o custo com mão-de-obra e com defensivos agrícolas teve um impacto de 14% para ambos os itens.
Custos de produção por atividade pecuária:
Pecuária de corte
Para a pecuária de corte, os levantamentos ocorreram em 17 municípios nos estados do Acre, Bahia, Mato Grosso, Pará e Tocantins, resultando na amostragem de 19 sistemas de produção em 2022. Os dados apontam que o processo de intensificação nas propriedades vem ocorrendo, principalmente, nas etapas de cria (produção de bezerros) e terminação de bovinos.
O ágio da reposição e os altos custos com a suplementação animal observados nas praças pesquisadas foram fatores limitantes, bem como a capacidade de produção por área. Em termos de composição dos custos, nos painéis de recria e engorda o desembolso com a aquisição de animais para reposição representou em média 74% do COE. Outro destaque foi o impacto que o sal mineral possui nos modelos de cria e ciclo completo, representando 26% do Custo Operacional Efetivo.
Nos últimos 12 meses, em 13 estados brasileiros, os valores obtidos pelos pecuaristas que trabalham com o sistema de recria e engorda pela arroba comercializada decresceram 9,7% e nos modelos de cria o valor médio do bezerro caíram 11,4% no acumulado.
O arrefecimento dos custos com a reposição, que no acumulado de out/21 à set/22 foi de 14,1% nas regiões monitoradas, contrapõe a alta nos preços de insumos dependentes de matéria-prima importada, como suplementos minerais, que teve alta de 29,9%, para sistemas de cria, e 12,9% para os de recria e engorda.
Pecuária de leite
Campo Futuro visitou 12 regiões produtoras de leite nos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Sergipe e Pernambuco e, com base nos dados levantados, os sistemas de produção que operaram com menor eficiência produtiva e um alto valor de capital empatado com a atividade em máquinas, benfeitorias, equipamentos e terra, não conseguiram operar com margem favoráveis.
Em 5 das 12 regiões, os resultados de margem líquida foram negativos. A alta dos insumos agrícolas encareceu a produção de forrageiras. Com isso, os desembolsos com a alimentação do rebanho imobilizaram nas regiões pesquisadas, em média, 48% da receita gerada com a venda do leite. Para os sistemas mais intensivos, esse desembolso variou de 58% a 69%, com a aquisição de ração comprometendo 35% da receita gerada por litro.
Aves e Suínos
Nas atividades de aves e suínos os modelos levantados mostram a realidade produtiva de 10 municípios brasileiros, retratando o cenário de custos de sistemas de integração da avicultura de corte e da suinocultura, além de modelos de produção independente de suínos e de avicultura de postura. Em comparação ao último ciclo de painéis, foram identificados maiores desembolsos com nutrição para as atividades de suinocultura independente, onde a ração representou 84% do custo. Nos sistemas integrados, os altos custos fixos foram os fatores preponderante para os resultados de margens líquidas negativas observado na maioria das propriedades modais.
Aquicultura
O Projeto ainda levantou dados para as atividades de aquicultura (piscicultura e carcinicultura). Nos modelos de piscicultura, as espécies pesquisadas foram a tilápia, em Goiás e Santa Catarina, e o Tambaqui, em Rondônia. Já o cultivo do camarão, as praças pesquisadas refletem a situação produtiva de Santa Catarina e Bahia. Apesar dos desafios apresentados, todas as regiões do levantamento apresentaram resultados positivos para margem bruta sendo, portanto, atrativas no curto prazo. Entretanto, quando analisamos a viabilidade das propriedades no médio prazo, ou seja, que apresentaram margem líquida positiva, apenas 57% das propriedades modais conseguiram arcar com as despesas de pró-labore, depreciações dos ativos imobilizados e os custos correntes do dia a dia.
O Projeto Campo Futuro
Realizado há 15 anos, o Campo Futuro é uma parceria do Sistema CNA/Senar com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Pecege (Esalq/USP), Labor Rural (Universidade Federal de Viçosa), e Centro de Inteligência de Mercados da Universidade Federal de Lavras.
A iniciativa considera nos levantamentos a metodologia de Custo Operacional composto pelo Custo Operacional Efetivo (COE), Custo Operacional Total (COT) e o Custo Total (CT). O COE inclui todos os itens considerados variáveis ou gastos diretos, como insumos, operações mecânicas, comercialização agrícola.
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