Paraná
Encontro de coordenadoras fortalece participação feminina no agronegócio paranaense
1º Encontro de Coordenadoras da Comissão Estadual de Mulheres da Faep (CEMF) reuniu 164 dirigentes de comissões locais, em Campo Mourão
“O Paraná precisa de nós!”. O grito de guerra bradado na abertura do 1º Encontro de Coordenadoras da Comissão Estadual de Mulheres da FAEP (CEMF) sintetizou a tônica em que transcorreu o evento, realizado em 13 de abril, na sede da Coamo, em Campo Mourão, Noroeste do Paraná. A participação foi maciça: reuniram-se 164 coordenadoras de comissões locais, provenientes de todas as regiões do Estado. Além de promover a integração e o networking das participantes, o encontro estabeleceu a convergência de estratégias para que a participação feminina continue aumentando no campo e nos sindicatos rurais do Paraná. Com o fortalecimento dos grupos de mulheres, o próprio sistema de representatividade sindical se vê mais forte.
Lançada em janeiro de 2021, a Comissão Estadual acumula resultados impressionantes. A CEMF estimulou a articulação de 52 comissões locais, cada uma vinculada a um sindicato rural, mobilizando um total de mais de 1,8 mil mulheres. A partir do apoio do Sistema FAEP/SENAR-PR, cada comissão local dispõe de um consultor, que ajuda na elaboração de um planejamento estratégico individualizado, mas que leva em conta o contexto do Estado. Além disso, o movimento tem levado aos municípios cursos específicos para as mulheres e promovido visitas técnicas. Com isso, elas passaram a integrar o sistema sindical rural de forma mais efetiva, além de agregar valor às suas rotinas de produtoras rurais.
Importância
Na abertura do encontro, o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette, contextualizou a importância dessa mobilização para a representatividade do setor agropecuário. O líder rural apontou episódios recentes, como uma proposta enviada em regime de urgência pelo governo do Estado à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), com o objetivo de criar um fundo de infraestrutura, que seria mantido a partir da taxação de produtos agropecuários. Com a pressão exercida por produtores e produtoras rurais, o governo recuou e retirou a urgência do projeto. Com isso, a proposta passou a tramitar normalmente, dando a possibilidade de o setor ser ouvido ao longo do processo legislativo.
“Isso mostra o quanto é importante estarmos reunidos e organizados. Esse movimento evitou a taxação de R$ 2 bilhões do nosso setor, que é um dinheiro que continua circulando na nossa economia”, exemplificou o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR. “Quero agradecer a todas vocês pelo ótimo trabalho que têm feito nos sindicatos rurais. Que esse exército possa crescer ainda mais”, acrescentou Meneguette.
O vice-presidente do Sindicato Rural de Campo Mourão, Wilson Godoy, apontou que as comissões locais de mulheres têm sido determinantes para trazer as produtoras para junto dos sindicatos rurais. Além disso, ele mencionou o quanto esse movimento tem sido importante para garantir a sucessão familiar dos negócios rurais. Nesse contexto, Godoy conclamou as mulheres a atuarem para expandir ainda mais o alcance das comissões.
“Como é importante que vocês, mulheres, estejam nessas comissões, nos sindicatos rurais de suas cidades. Eu peço: continuem convidando outras mulheres para que façam parte dessa mobilização. Vocês são um exemplo. São um batalhão. Unidas, vocês são muito mais fortes”, discursou.
Anfitrião da iniciativa, o presidente do Conselho de Administração da Coamo, José Aroldo Gallassini, destacou a ampliação da representatividade feminina na cooperativa. Hoje, as mulheres respondem por mais de 16% do quadro de cooperados. Ele destacou que a Coamo já tem dado suporte às produtoras rurais e destacou a iniciativa da FAEP, de fomentar o desenvolvimento feminino para atuar nas propriedades.
Gallassini exemplificou a importância desse movimento, apontando o caso de sua filha, Larissa Gallassini, que é responsável pelo setor de pecuária dos negócios da família e uma das coordenadoras da Comissão de Mulheres do Sindicato Rural de Campo Mourão. “Só na Coamo, são mais de 5 mil mulheres, que são herdeiras ou filhas de produtores rurais, e que hoje estão cuidando dos negócios da família. As mulheres têm qualidades muito positivas para coordenar as propriedades. É preciso capacitá-las cada vez mais. Esse trabalho da FAEP é muito importante”, disse Gallassini.
Ele também proferiu uma palestra, apresentando um histórico da Coamo e detalhando as operações da cooperativa. Na sequência do evento, no período da tarde, as participantes do encontro fizeram uma visita técnica ao parque industrial da Coamo.
Integração e bons exemplos
Ao longo do encontro, as coordenadoras contaram com um espaço propício para se integrarem e trocarem experiências. Logo na chegada, elas tiravam fotos e faziam contatos, compartilhando suas histórias de vida. Após a abertura, elas participaram de uma atividade em grupo, em que puderam conhecer detalhadamente a estrutura do sistema de representatividade, partindo dos sindicatos rurais, passando pela FAEP e chegando à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). As mulheres também aprofundaram conhecimentos relacionados ao SENAR-PR e ao Programa de Sustentabilidade Sindical (PSS), lançado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR como forma de estimular os sindicatos rurais a criarem alternativas que garantam sua autonomia, inclusive do ponto de vista financeiro.
“O objetivo deste encontro é que as mulheres saiam pertencentes ao seu grupo: de produtoras rurais, que têm o nobre ofício de alimentar o mundo. É isso que a gente faz bem-feito e do qual precisamos nos orgulhar. Somos organizados e temos força”, definiu Claudinei Alves, consultor do Sistema FAEP/SENAR-PR e que conduziu as atividades do encontro. “É um movimento crescente”, destacou.
O caso mais recente dessa mobilização é a comissão de mulheres de Ampére, Sudoeste do Paraná. O grupo, que se articulava informalmente desde dezembro de 2022, tornou-se oficial no início de março deste ano. Para a coordenadora da comissão, a produtora rural Joice Catiane Lopes, a mobilização tem tido um papel determinante em sua vida e na sucessão familiar, destacando que mais mulheres têm assumido o protagonismo nas propriedades rurais de sua região.
“Temos visto muitas mulheres engajadas nos negócios da família. É fundamental prepará-las para isso. E a FAEP e o SENAR-PR têm vindo com tudo nesse sentido, prestando todo apoio e saber técnico”, disse Joice. “Temos uma participante, cujo esposo faleceu. Com o trabalho na comissão, ela se sentiu encorajada a ir adiante. Hoje, além de administrar a propriedade, ela está fazendo faculdade”, contou.
Um dos grupos mais longevos, o de Campo Mourão, também acumula bons exemplos. Um deles é o da produtora Marcia Regina Ferri. Ela trabalhava como psicóloga até que, 16 anos atrás, o pai faleceu. Em parceria com o irmão, que é médico, Marcia passou a gerenciar a propriedade da família, de 110 hectares e voltada à produção de soja, trigo e milho. Há seis anos, no entanto, o irmão decidiu sair do negócio. Com isso, Marcia passou a administrar a fazenda sozinha.
Hoje, ela é uma das oito coordenadoras da comissão de mulheres de Campo Mourão e não perde um evento promovido pelo sindicato rural ou pela FAEP. A produtora também destaca que a mobilização tem motivado outras mulheres a assumirem um papel de relevância. “Antes, eu entendia que o que eu faço não precisava ser valorizado. Agora, eu entendo que a gente não pode ficar quieta. Muitas mulheres se enxergam na gente. Então, estamos uma ajudando a outra pelo exemplo”, disse Marcia. “A gente não quer ser valorizada pelos homens. A gente já tem o nosso espaço e quer ser valorizada entre si, uma reconhecendo o valor da outra”, acrescentou.
Participação feminina em números
Dados do Censo Agropecuário de 2017 (o levantamento mais recente disponível) apontam que, naquele ano, quase um milhão de mulheres estavam à frente de propriedades rurais no Brasil. Só na região Sul, eram mais de 104 mil gestoras do campo. A cada dez lideranças no campo, duas são mulheres. Como a estimativa leva em conta um cenário de seis anos atrás, é de se supor que esses números sejam, hoje, maiores.
No Paraná, a criação da Comissão Estadual de Mulheres da FAEP catapultou a participação feminina. Nos eventos promovidos pela Federação, elas já vêm assumindo o protagonismo. No Encontro Estadual de Líderes Rurais, realizado em dezembro de 2022, as mulheres responderam por mais de 70% dos 4 mil participantes. Na série de encontros Liderança Rural – Cultivando Conexões, realizada em dez municípios do Paraná, ao longo de junho, as mulheres representaram 46% do público.
Todo esse trabalho tem resultado em reconhecimento além dos limites do Paraná. A Comissão Estadual de Mulheres da FAEP foi citada pela revista Forbes na lista “50 Grupos de Mulheres do Agro do Brasil”. Ao longo de 2023, diversas federações estiveram na sede da FAEP para conhecer a experiência da CEMF. A própria CNA decidiu criar a Comissão Nacional de Mulheres do Agro, inspirada no trabalho realizado no Paraná.
“Nossa missão é incentivar, proporcionar capacitação e ampliar nossa rede de produtoras. Somos referência para todo o Brasil. Tudo isso é fruto do nosso trabalho”, destaca a coordenadora estadual da CEMF e vice-presidente da FAEP, Lisiane Rocha Czech, que comanda a comissão desde a sua criação. “Quando fazemos encontros como este, aprendemos umas com as outras. Temos perfis e histórias de vida diferentes. Quando a gente se envolve, concretiza o aprendizado. Participamos de algo muito maior no Estado”, completou a liderança feminina.