Paraná
FAEP coordena ações para controle efetivo de javalis
Grupo de Trabalho surgiu por demanda da Comissão Técnica de Suinocultura da entidade
Por: Comunicação Social – Sistema FAEP/SENAR-PR
A superpopulação de javalis no território brasileiro acendeu um sinal de alerta às autoridades. O animal, considerado uma espécie invasora, acarreta uma série de prejuízos econômicos, ambientais, sanitários, e até mesmo riscos de ataques físicos a seres humanos. Por ser uma espécie exótica, o javali não possui predador natural, o que contribui para sua rápida capacidade de adaptação e reprodução. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o animal está presente em 563 municípios brasileiros, sendo 88 no Paraná.
No ano passado, o Boletim Informativo trouxe relatos de agricultores e pecuaristas paranaenses que sofrem com o problema da invasão de javalis em suas atividades, além dos SANIDADE danos ambientais causados nas propriedades (leia o conteúdo completo na edição 1479). Um agravante, ainda, é a questão sanitária que envolve a criação comercial de animais, preocupação que atinge, principalmente, os suinocultores.
Por conta disso, a Comissão Técnica de Suinocultura da FAEP convocou entidades parceiras para debater as demandas dos produtores e articular ações para o controle efetivo do javali. A partir disso, foi estruturado o Grupo de Trabalho de Javalis, com participação do Mapa, Ibama, Exército Brasileiro, Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) e Associação Paranaense de Suinocultores (APS), sob coordenação da FAEP.
Segundo a técnica do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR Nicolle Wilsek, o javali representa uma ameaça ao status sanitário da carne suína por ser transmissor de doenças virais como Peste Suína Africana (PSA) e Peste Suína Clássica (PSC). “A epidemia de PSA na China aumentou a preocupação entre os suinocultores, visto que o Paraná é o segundo maior produtor de suínos do Brasil. A falta de um controle efetivo da população de javalis é um risco que não podemos correr”, aponta.
Vigilância sanitária
O objetivo do Grupo de Trabalho de Javalis é estruturar um plano de ação para manejo da espécie a fim de melhorar a eficiência do controle do animal em território paranaense. Para o coordenador do programa de sanidade de suínos da Adapar, João Teotônio de Castro, uma das principais estratégias da entidade é o monitoramento sorológico de suídeos, o que inclui javalis e seus cruzamentos. Para isso, é necessária coleta de amostras de soro pelos manejadores, profissionais autorizados pelas autoridades competentes a realizar o abate destes animais.
“O objetivo da Adapar é estreitar o relacionamento com os manejadores para intensificar o monitoramento e controle da espécie. Nós promovemos treinamentos modulados pela Embrapa, em que são tratados temas como educação sanitária e biossegurança. São treinamentos teórico-práticos para formar colaboradores da defesa sanitária do Estado”, destaca Teotônio (leia mais sobre os treinamentos na página 9).
Nesse sentido, em breve, será publicada uma portaria sobre a utilização de lacres, fornecidos pela Adapar, no transporte de carcaças de javalis. Para o coordenador, esta ação pode aumentar em até dez vezes o número de amostras colhidas por ano no Estado.
Manutenção do status
Outro ponto a se considerar em relação à vigilância sanitária da espécie é o reconhecimento do Paraná como área livre de PSC, isoladamente. A Instrução Normativa (IN) assinada em dezembro de 2019 pela ministra Tereza Cristina autorizou o desmembramento do Paraná de um grupo até então formado por 14 Estados. O reconhecimento internacional pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) será concedido em 2020. “Para manter esse status, temos que continuar fortalecendo o controle sanitário no Estado, o que inclui um monitoramento sorológico mais preciso”, reforça Teotônio.
Somado à atuação da Adapar, também está prevista a distribuição de um material informativo, desenvolvido pelo Sistema FAEP/SENAR-PR, para educação ambiental e sanitária. “Esse material tem a finalidade informar os produtores e outros envolvidos sobre a situação da espécie no Estado, os danos causados, impactos econômicos que podem ocorrer pela disseminação de doenças e como será a atuação do grupo”, explica Nicolle, técnica do Sistema FAEP/SENAR-PR.
O presidente da Comissão Técnica de Suinocultura, Reny Gerardi, ratifica a preocupação do setor produtivo sobre o risco de transmissão de PSC e outras doenças pelo javali. “Se um suíno é acometido, tem que fechar a granja e abater todos os animais. O prejuízo seria muito grande. O javali rondando as granjas comerciais traz muita preocupação para os suinocultores, tanto que a IN 265, da Adapar, nos orienta a instalar cercas de isolamento por questões de biosseguridade”, diz.
Em uma situação hipotética na qual um vírus de PSC ou mesmo febre aftosa atinja a população de javalis, os prejuízos podem chegar a R$ 50 bilhões a nível nacional.
Controle da espécie precisa ser pelo abate
Devido às características de adaptabilidade da espécie, a forma mais efetiva de controle é pelo abate. Os manejadores, também chamados de controladores, precisam seguir uma série de procedimentos rigorosos e estarem devidamente legalizados junto ao Ibama e, em caso de uso de armas de fogo, ao Exército Brasileiro.
Uma das demandas do Grupo de Trabalho de Javalis é a padronização e aperfeiçoamento de procedimentos no âmbito de credenciamento e fiscalização destes manejadores, de modo que haja maior controle e integração entre os órgãos responsáveis sobre os cadastros e abates realizados. Esse foi o tema da reunião que aconteceu no 62º Batalhão de Infantaria de Santa Catarina, em novembro de 2019.
Nesse momento, houve proposta do Exército para a troca de informações entre os Estados, visto que em Santa Catarina existe um aplicativo de celular em que é possível fazer o monitoramento do manejo de javalis por meio do cadastro de propriedades rurais.
Segundo Lincoln Schwarzbach, do Ibama, o órgão está à disposição para ampliar o debate sobre a invasão de javalis no Paraná e propor ações conjuntas de trabalho. “Já existe um plano de ação de combate à criação e introdução do javali a nível nacional [Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Javali (Sus scrofa)], o qual o Ibama segue, e participamos do Comitê Estadual de Espécies Exóticas Invasoras, que existe sob coordenação do IAP [Instituto Ambiental do Paraná]. Agora, com esse grupo, também podemos compreender quais são as reivindicações dos produtores em relação ao controle de javalis, e, se for entendido que uma demanda deve ser levada ao Ibama Nacional, assim o faremos”, pontua.
Curso orienta sobre o manejo da espécie
Para realizar a coleta de material, a Adapar oferta treinamentos aos manejadores de javalis, com base em orientações da Embrapa para controle e monitoramento populacional de suídeos asselvajados nos Estados de área livre de PSC. A proposta é a estruturação de um sistema de controle sanitário, aliando o trabalho realizado pelos manejadores à vigilância sorológica.
Por encaminhamento da FAEP, por meio do Grupo de Trabalho de Javalis, em dezembro do ano passado, a Adapar realizou treinamento teórico, via webconferência, simultaneamente nos municípios de Maringá, Curitiba e Concórdia (SC), com participação do Exército Brasileiro e Instituto Ambiental do Paraná (IAP).
Responsável pelo treinamento, a pesquisadora em sanidade animal na Embrapa Suínos e Aves, Virgínia Santiago Silva, discorreu sobre controle populacional do javali com foco na vigilância na saúde animal e humana, com temas como zoonoses, questões ambientais, práticas corretas de coleta e biossegurança. O treinamento prático aconteceu em Maringá, com a participação de 42 manejadores.
Segundo João Teotônio de Castro, da Adapar, o manejador de javalis é um parceiro indispensável no trabalho de defesa sanitária do Estado e na manutenção do status do Paraná como área livre de PSC. “Estes treinamentos têm o objetivo de promover a conscientização sobre a responsabilidade no abate de javalis e fornecer educação sanitária aos manejadores, visto que não existe obrigatoriedade em realizar a coleta de amostras sorológicas”, complementa.
Um dos manejadores que fazem essa coleta é Rodrigo Menon, de Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Médico veterinário e manejador de javalis há 15 anos, Menon compartilha o interesse em formar uma associação para fortalecer o controle e integrar maior número de manejadores na questão sanitária. “Ainda são poucos os (manejadores) que se preocupam com a coleta. Acredito que se isso fosse colocado como condição obrigatória para conseguir a licença de manejo, seria um facilitador”, afirma.
A Adapar também alerta sobre os riscos de transmissão de doenças para seres humanos e orienta que os manejadores legalizados e interessados participem do treinamento. A previsão é que o próximo seja ofertado ainda no primeiro semestre de 2020.
Registro
Para conseguir a autorização de manejo de javalis é preciso fazer inscrição no Cadastro Técnico Federal (CTF) do Ibama e emitir um certificado de regularidade. Em seguida, é necessária uma autorização de manejo no Sistema de Monitoramento de Fauna (Simaf) e cadastro dos locais onde serão executadas as ações. Para uso de armas de fogo, é obrigatório ter registro no Exército.
O manejador, ainda, deve entregar relatórios das ações de manejo na plataforma do Simaf a cada seis meses. O passo a passo completo pode ser acessado no site www.ibama.gov.br/javali#passo-a-passo .