Paraná
Herdeiros do Campo entra no radar das cooperativas
Sucessão dentro da propriedade é a forma de garantir as produções agrícolas e pecuárias, que abastecem a atividade agroindustrial
Refletir e se preparar para a sucessão familiar é fundamental em qualquer empreendimento rural. No caso de produtores integrados e/ou cooperados, essa preocupação passa a ser também da cooperativa, uma vez que o futuro destas famílias está ligado diretamente ao desenvolvimento da instituição.
Desde 2016, o Programa Herdeiros do Campo, criado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR, atua para despertar na família rural a importância do planejamento sucessório na propriedade, do ponto de vista dos negócios. Nos últimos anos, o programa entrou no radar das cooperativas paranaenses. Como essas entidades trabalham com planejamentos de longo prazo e realizam grandes investimentos na produção agropecuária, a indefinição em relação à troca de comando nas propriedades dos seus cooperados pode significar prejuízos no futuro. Afinal, as produções agrícolas e pecuárias abastecem a atividade agroindustrial destas instituições.
“Olhar para a sucessão familiar nas propriedades é uma forma de garantir longevidade e segurança dos sistemas de produção e de integração. Isso resulta na viabilidade econômica tanto individual quanto coletiva”, observa o consultor do Sistema FAEP/SENAR-PR Antônio Poloni.
O processo junto às cooperativas teve início em 2018, com turmas realizadas com cooperados da Agrária, cooperativa da região Centro-Sul do Estado, e outra junto aos associados da Primato, no Oeste. A pandemia do novo coronavírus fez com que a realização de novas turmas demorasse para acontecer.
Em 2021, o programa foi levado para a Frimesa, formada por cinco cooperativas filiadas: Copagril, Lar, C.Vale, Copacol e Primato, todas na região Oeste. O primeiro passo, após sensibilizar as diretorias destas entidades, foi elaborar um curso voltado aos técnicos de campo das mesmas, que iriam mobilizar os participantes das turmas do Herdeiros do Campo. Estes profissionais estão no dia a dia dos cooperados e mantêm uma relação de confiança.
A C.Vale foi a primeira a participar deste processo, com 15 técnicos capacitados em 2021, que por sua vez mobilizaram duas turmas de famílias de cooperados: a primeira em outubro de 2021 e a segunda em andamento.
Segundo a assessora de cooperativismo da Copacol, Elizete Lunelli Dal Molin, o objetivo com o programa é auxiliar as famílias a abordarem o tema da sucessão de forma mais estruturada. “Esse é um tema delicado e pouco abordado. E muitas vezes, por não ser abordado corretamente, traz consequências graves, como, por exemplo, perdas de patrimônio, da história da família e também de relacionamento”, observa.
A Copacol (foto no topo da página) também comprou a ideia e já realizou a primeira turma com 80 técnicos de campo, que mobilizaram uma turma de famílias para ser realizada ainda este ano. A Copagril treinou seus técnicos em maio deste ano e, em breve, planeja uma turma junto aos cooperados. Ainda, a Lar tem programada uma turma de técnicos neste mês de junho e, na sequência, duas turmas de familiares.
“O foco é trabalhar a cultura sucessória e a sustentabilidade das empresas e propriedades rurais”, explica a técnica do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR Luciana Matsuguma, que acompanha o Herdeiros do Campo desde sua criação. Segundo ela, o desafio deste trabalho é promover uma mudança cultural no meio rural, para que a sucessão familiar não seja encarada como um tabu. Afinal, a sucessão acontece quando o patriarca ou a matriarca da família encontram-se impossibilitados de exercer suas funções, deixando a administração do seu empreendimento rural para os herdeiros que nem sempre são os sucessores naturais do negócio.
“Não tem problema que seja assim. É possível transformar herdeiros em sucessores ou preparar um sucessor que pode vir até de fora da família, do mercado”, avalia Luciana. “O importante é que a família sente para conversar”, complementa.
O próximo passo, após a aplicação do programa junto às cinco cooperativas, é realizar uma avaliação para levantar os resultados. “Vamos verificar se houve realmente uma mudança cultural que possibilite um diálogo sobre a sucessão”, afirma Poloni.
Herdeiros do Campo
Desde que foi criado em 2016, o Herdeiros do Campo já realizou diversas turmas em todas as regiões do Paraná. Para participar da formação, é pré-requisito a participação de pelo menos duas gerações de uma mesma família (pai e filha, avô e neto ou tio e sobrinho).
Com uma carga-horária de 46 horas, os participantes trabalham conteúdos como integração, dimensões da empresa familiar, mediação de conflitos e os diferentes cenários de uma empresa rural. Desta forma, a família consegue elaborar um plano de ação que contemple as dimensões: empresa, patrimônio e família.