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Lácteos: Reconhecimento e busca por novos mercados*
SUEME

Artigo: Sueme Mori

15 de julho 2022
Por CNA

O Brasil produz o melhor queijo do mundo! No mês passado, o queijo Canastra chegou ao primeiro lugar do ranking do site americano “The Taste Atlas”. Esta "enciclopédia de sabores" utiliza a opinião dos próprios usuários para avaliar comidas do mundo todo. A notícia foi amplamente divulgada e comemorada, especialmente pelo grupo de cerca de 800 produtores da região da Serra da Canastra.

Essa conquista é positiva e importante não apenas para esse grupo de produtores, mas sim para todo o setor de lácteos. É um reconhecimento internacional da qualidade do produto brasileiro.

O Brasil é o quinto maior produtor de leite do mundo. Em 2020, foram produzidas quase 37 milhões de toneladas. O topo desse ranking é ocupado pela Índia, que produz cerca de 184 milhões de toneladas por ano.

Apesar de ocupar posição de destaque na produção de leite, em termos de exportação de produtos lácteos o Brasil figura apenas na 28º colocação. União Europeia encabeça essa lista.

O mercado mundial de lácteos movimenta cerca de US$ 50 bilhões anualmente. De acordo com a FAO, somente 7% da produção mundial é comercializada internacionalmente. Isso se deve, principalmente, à natureza perecível dos produtos. Somado a isso, trata-se de um mercado muito regulado e protegido pelos governos nacionais.

Nos países em desenvolvimento, mais de 80% do leite é produzido por pequenos produtores. Por essa razão, governos tendem a adotar políticas setoriais voltadas à redução das importações de lácteos e ampliação da produção doméstica, visando a melhoria da renda das famílias produtoras.

No Brasil, 71% dos produtores de leite tem uma produção diária de até 50 litros. Esses produtores estão espalhados por cerca de 99% dos municípios brasileiros.

Para a grande maioria dos produtores de lácteos, incluindo os queijos, o mercado internacional é uma realidade distante e não considerada como alternativa de comercialização.

Reconhecimentos com o do “Taste Atlas” e outras iniciativas semelhantes são importantes porque valorizam os chamados “produtos artesanais”, ampliam a visibilidade e contribuem para o aumento das vendas.

Em 2018, uma pesquisa realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apontou que 56% dos produtores de alimentos artesanais têm dificuldades em atender as exigências legais quanto à produção e processamento e outros 25% enfrentam dificuldades para obter lucro e ter uma clientela fixa.

Buscando apoiar esse produtor, a CNA lançou, em 2019, o Programa de Alimentos Artesanais e Tradicionais, cujo propósito é auxiliar na profissionalização do pequeno e o médio produtor e na capacidade de agregar valor aos alimentos artesanais e tradicionais.

Essa iniciativa também possui em seu escopo uma premiação que reconhece os melhores produtos de cadeias específicas. Na edição deste ano, o queijo artesanal foi o escolhido. A cerimônia de premiação ocorreu esta semana e, de acordo com depoimentos dos vencedores, a iniciativa valoriza o trabalho artesanal, a agregação de valor e vai impulsionar as vendas.

Para conquistar tanto o mercado nacional quanto internacional é fundamental investir em fatores de diferenciação. No caso do queijo Canastra por exemplo, o reconhecimento alcançado via Indicação Geográfica estabelece um diferencial competitivo, protege os produtores da região e promove uma imagem positiva ligada à qualidade do produto. Além disso, em 2008, o seu modo de produção foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural imaterial brasileiro.

A Indicação Geográfica (IG) é um tipo de proteção de Propriedade Intelectual que distingue produtos e serviços devido à sua origem. O Brasil possui cerca de 60 IGs. Além do queijo Canastra, outros exemplos são o café da Alta Mogiana, os vinhos do Vale dos Vinhedos, as amêndoas de cacau do Sul da Bahia e o melão de Mossoró.

De acordo com um representante da associação que representa os produtores de queijo canastra, o reconhecimento via IG, além de valorizar o produto, protege os 800 produtores da região. A venda para o mercado internacional é um dos objetivos desse grupo, mas o caminho entre a propriedade rural e o exterior é longo e cheio de obstáculos.

O aumento da competitividade dos produtos lácteos brasileiros em relação a outros países também passa pela redução do custo de produção no país. Estima-se que a matéria-prima nacional seja, em média, 30% mais cara, quando comparada ao dos principais players no mercado internacional.

Outro fator importante é em relação às barreiras impostas pelos mercados, sejam elas tarifárias ou não tarifárias. As tarifas de importação do Canadá, Suíça e Japão chegam a 248%, 195% e 95%, respectivamente. Acordos que reduzam ou retirem essas barreiras são fundamentais para ampliar a participação de produtos lácteos brasileiros no mercado internacional. Sem isso, o Brasil já entra em desvantagem, independente da qualidade da oferta.

Os dados são animadores. Entre 2017 e 2021, o valor das exportações brasileiras de produtos lácteos cresceu 50%. No mesmo período, as exportações mundiais subiram 11% e países que têm participação mais relevante do que o Brasil, como Suíça e Uruguai, registraram queda de vendas, de 12% e 18% respectivamente. Primeira colocada do ranking, a União Europeia cresceu proporcionalmente menos do que o Brasil: 11%.

Não existe fórmula mágica. É preciso resolver questões essencialmente internas da cadeia produtiva de lácteos e melhorar as condições de acesso ao mercado internacional para que os produtos brasileiros ganhem o mundo.

Nesta semana, o Ministro da Agricultura, Marcos Montes, declarou que o Brasil precisa perseguir a meta de se tornar o maior exportador de lácteos. Para que isso aconteça, setor privado e governo devem trabalhar juntos.

Só assim para que o queijo canastra seja tão famoso, reconhecido e comercializado internacionalmente como o Champagne da França e o Chocolate Suíço.

Sueme Mori é diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

*Artigo originalmente publicado na Broadcast

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