Programa Do Rural à Mesa traz benefícios para quem produz, prepara e consome alimentos
Futuros cozinheiros visitaram uma propriedade rural em Alexânia (GO)
Com pouco mais de seis meses, o programa Do Rural à Mesa já está mudando a vida de quem participa. Até pouco tempo Deodato da Costa utilizava uma bicicleta para vender as suas hortaliças de porta em porta na cidade. Hoje, ele conta com um pequeno caminhão, adquirido em parceria com outros produtores, para transportar os seus produtos até Brasília. Além disso, comprou uma nova bomba para puxar água do poço artesiano e pretende construir mais quatro estufas para a produção de hortaliças.
Costa é um dos 26 integrantes do programa realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), no município de Alexânia (GO), que vêm melhorando de vida com o retorno financeiro que a iniciativa está proporcionando para a sua família. Há sete meses ele fornece couve, rúcula, alface, manjericão, salsa, coentro e hortelã para 10 restaurantes, lanchonetes e cafés do Senac, em Brasília.
“Antes eu vendia um pé de alface por R$ 1 e hoje consigo uma média de R$ 2,50. O programa está excelente e melhorou bastante a minha vida. Estou fazendo investimentos na minha estrutura e pagando com o dinheiro que recebo. Hoje tenho condições de pagar cursos para os meus filhos e até pretendo fazer um tratamento dentário para um dia ir almoçar no restaurante do Senac”, brinca tímido.
Proporcionar qualidade de vida e aumentar a renda dos produtores sem “atravessadores” são justamente algumas das metas do programa, explica a coordenadora do Do Rural à Mesa, Bárbara Evelyn Magalhães Silva. O exemplo prático disso pôde ser conferido nesta terça-feira (1º/3) durante uma visita de um grupo de alunos do curso de Aperfeiçoamento em Cozinha, do Senac, à propriedade de Deodato.
“Hoje eles puderam vivenciar como a muda é produzida, transportada e plantada. Às vezes, o público urbano não tem a dimensão do tanto que o produtor precisa trabalhar para oferecer um produto vistoso. Estamos conseguindo qualidade e reduzindo o uso de defensivos graças à Assistência Técnica e Gerencial do SENAR”, ressalta Bárbara.
A expectativa é de ampliação e implantação do programa nas regionais do SENAR e Senac nos demais estados. A partir do projeto piloto está em desenvolvimento um plano estratégico que prevê ainda aumentar o número e a diversidade de parceiros, considerando redes de hotéis, restaurantes, escolas, universidades e outros clientes potenciais que acreditem na proposta e nos resultados técnicos, sociais e econômicos que a iniciativa pode gerar na sociedade.
A informação é confirmada pela gerente pedagógica do Senac Gastronomia, Patrícia Garcia. Segundo ela, mais de nove toneladas de produtos foram entregues nos estabelecimentos da entidade entre setembro de 2015 e janeiro deste ano, o que gerou um retorno financeiro de R$ 40 mil para os participantes do Do Rural à Mesa.
“A projeção é bastante positiva e pretendemos levar a ideia para todo o Brasil. O programa tirou os intermediários e vem fornecendo alimentos com uma qualidade infinitamente superior para manipular, como atestam os nossos profissionais. É uma relação de extrema dependência. Não existe um bom cozinheiro sem um bom produto”, resume ela.
Contato enriquecedor
Vinda de uma família de agricultores, a paraense Graziane de Oliveira Gomes, 29 anos, ficou à vontade na hora de manusear as mudas de alface na propriedade de Deodato Costa. Para a aluna do Senac, a oportunidade de conhecer o trabalho de um produtor e o processo de plantio é essencial para que os profissionais valorizem os alimentos e evitem o desperdício.
“Achei fantástico esse programa. A oportunidade de vivenciar isso e ter esse contato com a terra é um grande diferencial. Precisamos enxergar o processo como um todo e ver a importância de cada agente. Quando sabemos de onde o alimento vem e para onde ele vai, conseguimos ter uma relação com a comida muito melhor”.
Com a experiência de já ter administrado dois restaurantes, Marcelo Carlson Thadeu, 39 anos, destaca a valorização que a integração da cadeia produtiva tem na culinária atual. O estudante gaúcho avalia que ter conhecimento sobre a origem dos produtos é uma tendência em estabelecimentos que desejam oferecer pratos de alta gastronomia, além de ser uma exigência de consumidores cada vez mais conscientes com sua alimentação.
“Existe um restaurante em Nova Iorque que tem a sua própria fazenda para produzir e fazer o melhoramento dos produtos conforme o que eles querem. Outro fator muito importante que pude observar no programa é o uso consciente de defensivos. Penso em ter outro negócio no futuro e vou seguir a metodologia desse projeto”, conta.
Assista ao vídeo do programa:
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