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Paraná

SENAR-PR apresenta Herdeiros do Campo em evento internacional
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26 de agosto 2019

Por: Comunicação Social - Sistema FAEP/SENAR-PR

A sucessão rural familiar na atividade agropecuária é uma preocupação que está no radar dos produtores brasileiros e de diversos outros países do mundo. Mas uma série de ações para despertar o interesse dos jovens a dar continuidade aos empreendimentos rurais tem trazido resultados expressivos.

Uma das principais referências nesse sentido é o programa Herdeiros do Campo, desenvolvido pelo SENAR-PR. Nos últimos três anos, a capacitação já auxiliou centenas de produtores paranaenses a estabelecerem o diálogo sobre o tema, além de envolver os demais membros da família na rotina dos negócios e nas tomadas de decisões.

Uma das maiores dificuldades encontradas por proprietários rurais e seus sucessores é estabelecer o primeiro diálogo. Isso ocorre principalmente pela visão, muitas vezes, cheia de tabus, de que sucessão envolve apenas processos de desembaraço de heranças. “A sucessão pode ser por exclusão [morte] ou com planejamento. Esta última feita em vida. Então esse nosso programa trata sobre a vida e debatemos sobre isso”, explicou Luciana Matsuguma, técnica do SENAR-PR responsável pelo programa Herdeiros do Campo, durante apresentação a representantes de 10 países em um evento internacional.

Luciana enfatizou que a formação traz um panorama completo sobre a temática sucessória, envolvendo desde aspectos de mudanças culturais até conhecimentos técnicos e jurídicos relacionados. “São diversos assuntos tratados em 50 horas de formação, que envolvem regras básicas de convivência, sucessão e governança nas empresas rurais. Há também temas como desenvolvimento de uma visão estratégica da empresa rural e seus cenários, mediação de conflitos e construção da confiança, aprendizado e prática”, exemplificou.

Evento internacional

É cada vez mais comum que eventos do agronegócio destinem uma parte ou mesmo toda a sua programação ao debate da sucessão rural. Foi o que ocorreu durante o 15º Holstein de las Américas Brasil 2019, realizado de 14 a 17 de agosto, em Curitiba e nos Campos Gerais. Um dos grandes destaques foi o painel “Sucessão Familiar na Fazenda do Futuro”, no qual o Sistema FAEP/SENAR-PR fez uma apresentação contando com o depoimento de participantes que já fizeram o Herdeiros do Campos.

Nesta palestra, Ann Louis Carson, CEO da Holstein Canadá, organização que atua na seleção e classificação genética de gado holandês, entre outras áreas, fez um panorama de como o país da América do Norte atua para despertar nos jovens o desejo de trabalhar com atividades relacionadas à produção de alimentos. “A importância de preparar os jovens para assumir uma fazenda não começa aos 25 anos, mas ainda muitos jovens. No Canadá temos um histórico de um programa chamado 4H, com viés para diversas áreas, como a rural, mas não necessariamente para crianças de fazendas. É sobre valores, como os escoteiros. O 4H permite que crianças do campo e da cidade com os mesmos interesses estejam juntas, se sentindo parte de algo maior”, revela.

Gerald Schipper, produtor de leite do Canadá há três gerações e que hoje ordenha cerca de 420 vacas, destacou a importância do planejamento e a preparação para a sucessão nos negócios.

“Meu papel na propriedade mudou com o tempo. Hoje sou mais um treinador, sempre encorajando as ações e pronto para celebrar os sucessos. E é importante sempre deixar que as pessoas cometam erros, pois é a maneira como aprendemos. Não existe alegria maior que ver filhos e netos na propriedade”, compartilha.

O evento contou com a presença de produtores, técnicos e outros representantes da cadeia produtiva do Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Costa Rica, México, Estados Unidos e Canadá. Na programação, o debate de aspectos técnicos, como o compartilhamento de diferentes análises e opiniões sobre as tendências mundiais da pecuária leiteira; como o intercâmbio de conhecimentos técnicos e científicos e conquistas geradas com a Raça Holandesa. A organização ficou a cargo da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH) e da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH).

Participantes do Herdeiros

A família Rosseto, de Toledo, no Oeste do Paraná, concluiu o Herdeiros do Campo recentemente. Valdir Rosseto, à frente dos negócios (agricultura e pecuária), compartilhou, durante o evento internacional, que a família está há sete décadas na mesma propriedade. Segundo ele, o programa ajudou a tornar o processo sucessório um assunto a ser debatido entre os membros da família. “Hoje, o desejo maior para o futuro é que os filhos continuem a seguir o que estamos construindo há muitos anos, produzindo alimentos de qualidade que chegam à mesa”, compartilhou. “Depois do curso, reuniões familiares passaram a fazer parte e nós fomos nos interessando e criamos confiança.

Agora podemos ajudar nas tomadas de decisão”, completou a filha Francieli Rosseto. O pai Hernani e o filho Bruno Liendeman, de Teixeira Soares, no Sudeste paranaense, trabalham exclusivamente com produção de leite em uma área de cerca de 30 hectares. Os dois demonstram como o programa ajuda a superar possíveis conflitos que surgem com a diferença de gerações. “No caso do falecimento de alguém, você pega algo que nunca viu. Como não sabe dirigir, pode até levar a propriedade à falência. Achei importante essa parte porque o diálogo com meu pai nunca foi muito bom e melhorou muito”, revela Bruno. “Uma coisa que se fala é a questão do planejamento. A sucessão deve começar o mais cedo possível, pois mais fácil é o entendimento entre as pessoas envolvidas e o núcleo familiar”, comenta.

Durante o curso, a própria instrutora Francieli Cristina Grings percebeu que o conteúdo também era aplicável na propriedade da família, voltada à produção de leite, em Pitanga, no Centro-Sul. “Durante quase todo o curso eu fiquei me perguntando o porquê de meu pai não passar as coisas para mim, não falar de sucessão”, reflete. “Mas quando pensei um pouco mais, percebi que, na verdade, ele preparou eu e o meu irmão, desde criança, quando nos ensinava a andar de trator, a tirar leite, fazendo com que nós gostássemos do campo. Fiz o curso com a minha mãe e no nosso plano de ação promovemos uma série de mudanças para tornar a sucessão mais natural”, aponta.