Status sanitário pode ampliar embarques
Por: DCI
O reconhecimento do Brasil como livre de febre aftosa com vacinação pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), é o primeiro passo para o acesso a mercados que podem garantir US$ 1,2 bilhão adicionais em exportações de carne bovina ao ano. Em 2018, o País deve bater recorde de embarques da proteína animal.
“Vencer este primeiro estágio do objetivo final, que é retirar a vacinação, é extremamente significativo pelos avanços que poderá nos permitir”, avalia o presidente da Associação Brasileira das Indústrias dos Exportadores de Carne (Abiec), Antonio Camardelli. A certificação reconhece todo o País livre da doença com vacinação, exceto Santa Catarina, que já é livre sem vacinação.
Segundo ele, o incremento projetado equivale ao acesso a 5% do mercado dos principais países que só importam carne bovina oriunda de nações livres da doença sem vacinação, como Coréia do Sul, Japão, Taiwan e Indonésia.
Deixar de vacinar em todo o território nacional é o próximo desafio brasileiro após esse reconhecimento. Atualmente, a vacinação do rebanho, estimado em 217 milhões de cabeças, é feita em duas etapas a cada ano.
O Ministério da Agricultura projeta que esse reconhecimento se estenderá a todo o País em 2023, ainda que a retirada da aplicação das doses para imunização de bovinos e bubalinos contra a doença não seja uma unanimidade na pecuária. O processo de retirada terá início em 2019.
Na avaliação da diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, ainda é cedo para que o reconhecimento obtido ontem tenha impacto nas exportações de carne bovina. “Mas esse status é importante pois faz com que os importadores deixem de ter desculpas para as sanções impostas ao produto brasileiro”, avalia.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, destacou que o reconhecimento tem como “efeito colateral” favorecer também os embarques de carne suína. “Se o país não é livre de aftosa, o mercado não aceita a carne suína. Temos um estado na federação que é livre sem vacinação, então, esse podia exportar, por exemplo, para o Japão, Coreia e outras nações. Em resumo, mudamos o status e ao mudá-lo, há mais gente para negociar, mais países para comercializar.”
Na avaliação da superintendente de relações institucionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Lígia Dutra, a certificação tem um impacto mais importante para a imagem do Brasil no exterior, que sofreu sucessivos abalos nos últimos anos devido a operações como a Carne Fraca, do que um impacto direto nos embarques. “Esse movimento demonstra o fortalecimento do sistema sanitário”, ressalta.
Conforme o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, a vacinação do rebanho custa em torno de R$ 500 milhões por ano ao pecuarista, considerando apenas os custos com a aquisição de doses. “Este momento é resultado de um trabalho de longa data que foi financiado pelo produtor.”
Mercado aquecido
Embora tenha efeitos de longo prazo, a mudança ocorre em um ano favorável às exportações brasileiras, que devem ser recordes e crescer entre 5% e 10% ante 2017, quando o País embarcou 1,53 milhão de toneladas com receita de US$ 6,2 bilhões. “As perspectivas são extremamente positivas. Temos reuniões previstas com os Estados Unidos e a visita de uma missão da China que, sozinha, pode ampliar em 50% as nossas exportações em relação ao ano passado”, estima Camardelli. “Também estamos só esperando o fim do Ramadã para exportar para a Indonésia”, acrescenta o dirigente.
No acumulado do ano até abril, o Brasil exportou 508 mil toneladas de carne bovina, para US$ 1,9 bilhão.
Para as entidades, a greve dos caminhoneiros não deve afetar os embarques do setor, mas apenas postergar os abates que já estavam previstos, diferentemente do que ocorre com carnes de aves e suínos, que já somam 120 unidades processadoras com atividades suspensas em decorrência dos protestos. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estima prejuízo de US$ 100 milhões, considerando 20 mil toneladas embarcadas por dia.