Um natal de vendas aquecidas para as empresas de carnes
Por: Valor Econômico
Após dois anos decepcionantes, o Natal voltará a ser comemorado pelas empresas de carnes do país. Embaladas pelo ambiente econômico favorável, as vendas de produtos comemorativos - carne de peru e frango especial, sobretudo - podem crescer mais de 5% neste ano, além de proporcionarem maior rentabilidade.
Também o churrasco, que é feito principalmente com cortes de carne bovina, deve ganhar espaço nas festas de fim de ano. Em 2017, as festas cairão em uma segunda-feira, o que pode fazer as comemorações se estenderem por três dias, desde o sábado. Nesse cenário, a catarinense Aurora estima que as vendas de produtos típicos de churrasco cresçam de 5% a 8%.
"Os dados da campanha [natalina] que temos até agora são muito positivos", afirmou ao Valor o vice-presidente Brasil da BRF, Alexandre Almeida. Dona das marcas Sadia e Perdigão, a BRF lidera a produção de aves e de suínos no país. Em todo o país, as vendas de carnes comemorativas movimentam mais de R$ 700 milhões por ano, segundo estimativas do setor.
A avaliação positiva sobre o Natal é compartilhada pela Seara, subsidiária da JBS. "Está surpreendendo. Quando fizemos [o planejamento], até pensava-se que o mercado não pudesse ter recuperação. Mas a recuperação está bastante expressiva", disse ontem, em encontro com analistas, o executivo-chefe de operações da JBS, Gilberto Tomazoni.
No Grupo Pão de Açúcar (GPA), segunda maior varejista de alimentos do Brasil, a expectativa é que as vendas das carnes consumidas nas ceias de Natal e Ano Novo aumentem 7%, em volume. Para tanto, a rede reforçou o estoque de natalinos.
Perguntado, o executivo da BRF não quis revelar o crescimento esperado nas vendas de comemorativos, mas sinalizou que as projeções das redes varejistas estão em linha com a expectativa da companhia. "Procuramos estar bem próximos do varejo para calibrar muito bem a oferta que é feita", argumentou.
De acordo com o vice-presidente da BRF, o "prenúncio" de que o consumo nas festas de fim de ano seria forte ocorreu em setembro, quando a companhia iniciou as vendas de kits comemorativos para empresas. "Fechamos setembro com quase 1 milhão de kits vendidos", revelou o executivo. No mesmo intervalo do último ano, as vendas somaram somente 300 mil kits, conforme Almeida.
Diante do ritmo aquecido, a BRF atingiu o volume comercializado de 2016 já na primeira semana de novembro. Ao todo, a companhia prevê fechar o ano com vendas de 2,6 milhões de kits comemorativos, incremento de 8% na comparação com os 2,4 milhões do último ano.
Ao todo, o BRF prevê comercializar 11 mil toneladas de itens comemorativos por meio de kits, em uma operação de guerra. Em apenas 20 dias, a dona de Sadia e Perdigão faz mais de 50 mil entregas. Para o tamanho da companhia, que fatura mais de R$ 40 bilhões por ano no mundo, o volume de kits vendidos não é pequeno, e responde por mais de 20% das vendas dos produtos natalinos da BRF. Neste ano, as vendas de carnes comemorativas para o varejo devem atingir 37 mil toneladas.
Embora menos otimista do que o GPA e a BRF, a cooperativa catarinense Aurora, que é uma das maiores processadoras de carnes do Brasil, também considera que as festas de fim de ano serão positivas, com aumento de 3% a 5% nas vendas de carnes natalinas. "Para o momento, é excelente", afirmou o diretor comercial da Aurora, Leomar Somensi, sem deixar de lembrar do "péssimo" desempenho do ano passado, quando a cooperativa foi muito afetada pelo consumo fraco no Brasil.
Afora a recuperação do consumo no mercado doméstico, os frigoríficos de aves e suínos também contam com preços mais comportados do milho. Em 2016, a quebra da safra brasileira de inverno espremeu as margens do segmento, o que fez a BRF amargar o primeiro prejuízo da história. Neste ano, porém, a recomposição da oferta de grãos no Brasil fez os preços do milho caírem, em média, 31,8%, segundo indicador Esalq/BM&FBovespa.
Ao permitir a recomposição da rentabilidade da indústria, o milho mais barato também representou estímulo ao consumidor neste fim de ano. "A situação está equilibrada sem necessariamente aumentar os preços", afirmou Almeida, da BRF. Na Aurora, o mesmo aconteceu. "Os preços ficaram mais ou menos nos mesmos patamares de 2016", apontou Somensi.