Mastite: Como pequenas perdas diárias se transformam em grandes prejuízos
Pecuária de Leite | Campo Futuro
A incidência de doenças do úbere em vacas leiteiras é um fator que impacta a produção nacional de leite, com a mastite figurando como a de principal interesse. Acosta et al, 2016, apontam que, a depender da região do Brasil, a mastite subclínica (quando não há alteração visível no aspecto do leite e/ ou úbere dos animais) pode acometer até 48,6% do total de vacas leiteiras. Já na fase clínica (MC), os autores ponderam uma incidência de 2,6% do plantel.
As perdas decorrentes da mastite subclínica (MS) variam de acordo com a idade do animal, o estágio da sua lactação, a bactéria causadora, entre outros. De forma geral, há uma perda de 0,18 a 0,88 litro de leite dia por teto afetado a depender do agente infeccioso (Gonçalves et al, 2018). Winckler, 2019, aponta para uma média de incidência de 46,95% de mastite subclínica em rebanhos leiteiros, com uma distribuição entre 10,23% e 94,90% das fêmeas acometidas.
Para ilustrar os possíveis efeitos da mastite subclínica na margem do produtor, foram utilizados dados da propriedade típica de Uberlândia/MG, amostrada pelo Projeto Campo Futuro (CNA/Senar, em parceria com o Cepea). O rebanho da propriedade é composto por 22 vacas em lactação, com captação média diária total de 400 litros.
A propriedade, de acordo com dados atualizados para agosto/25, teve um COE de R$ 2,28/litro de leite e receita de R$ 2,38/l, levando a uma margem bruta de R$ 0,10/l.
Assumindo que o desempenho descrito é resultado de um rebanho sadio, a incidência de mastite em parte dele afetaria diretamente sua produtividade e, por consequência, a rentabilidade do sistema. Para se medir o potencial impacto, foram simulados diferentes cenários de diagnósticos positivos de MS e níveis distintos de queda na captação diária na propriedade avaliada, estimando-se, então, as perdas em termos de litros de leite que deixariam de ser comercializados (Gráfico 1).
Gráfico 1: Perdas na receita mensal em decorrência de casos de mastite subclínica no rebanho leiteiro de Uberlândia/MG (R$/mês).
Fonte: Projeto Campo Futuro (2025) – Sistema CNA/Senar. Elaboração: Cepea - Esalq/USP, Sistema CNA/Senar.
Tomando como base os cenários mais comumente observados de mastite subclínica, com 30% a 60% de animais infectados, o que equivale de 7 a 13 vacas e perdas diárias de 1,08 litros por dia, com a média de um par de tetos afetados pela doença por vaca infectada, o impacto financeiro variou entre R$ 547,02 e R$ 1.015,89/mês.
Como referência, a cada vaca com diagnóstico positivo para mastite subclínica, o impacto na receita bruta mensal variou entre R$ 25,62 e R$ 128,11 por animal acometido, a depender do nível de perda observado, reduzindo a margem bruta mensal da propriedade avaliada entre 2% e 10%.
Com o avanço do quadro para a mastite clínica, o descarte de produção é de 4 a 6 dias, a depender do protocolo adotado. No caso de Uberlândia/MG, a perda de produção resultante de um caso de mastite clínica seria entre R$ 173,06 e R$ 259,60, além de R$ 80,00 a R$ 120,00/caso adicionais, dadas as despesas com medicamentos, variando com o período de tratamento.
Somando-se as despesas oriundas dos desembolsos com medicamentos antimastíticos, perdas de receita com o descarte de leite para o controle de um caso de mastite clínica a cada dois meses (equivalente a 2,27% de incidência no rebanho por ano) e perdas produtivas com a mastite subclínica, o impacto anual da doença totalizaria de R$ 8.082,59 a R$ 14.468,25 anuais (tabela 1), reduzindo entre 55% e 98% a margem bruta anual da propriedade.
Tabela 1: Custos anuais com perdas produtivas e controle de mastite subclínica e clínica na propriedade típica de Uberlândia/MG.
Fonte: Projeto Campo Futuro (2025) – Sistema CNA/Senar. Elaboração: Cepea - ESALQ/USP, Sistema CNA/Senar.
Com o alto risco que a doença apresenta tanto para a longevidade das vacas no rebanho, quanto para a produtividade dos animais, a principal forma de controle se dá pela prevenção e monitoramento. Os custos vinculados a protocolos de manejo da mastite tendem a não crescer conforme a produtividade do rebanho aumenta, fazendo com que a tolerância que determinada propriedade possui para a presença de mastite no rebanho diminua.
O custo médio de um pacote de insumos para acompanhamento e prevenção de casos de mastite na propriedade é estimando em R$ 19,61/cabeça mês (Gráfico 2), sendo composto sobretudo pelo consumo de produtos para higiene durante a coleta do leite.
Gráfico 2: Custos médios mensais para protocolo de prevenção, controle e acompanhamento de mastites subclínicas em agosto/25.
Fonte: Projeto Campo Futuro (2025) – Sistema CNA/Senar. Elaboração: Cepea - ESALQ/USP, Sistema CNA/Senar.
Considerando os prejuízos anuais descritos na tabela 1, o custo médio anual da prevenção, controle e monitoramento da mastite subclínica, de R$ 235,30/vaca/ano, ficaria em R$ 5.176,51 para a propriedade modal de Uberlândia. Esse valor representa entre 36% e 64% do prejuízo advindo da incidência de mastite nas diferentes simulações. Esse resultado evidencia a importância dessa ferramenta de manejo para evitar prejuízos na atividade. A perda produtiva, por si só, já se demonstra como motivo suficiente para seu monitoramento.
A incidência de mastite, além de impactar a produtividade do rebanho, também aumenta o nível de células somáticas no leite captado para a indústria. As empresas, ao fazer a avaliação de CCS (contagem de células somáticas), podem penalizar o leite captado pelo produtor caso não atenda os parâmetros vigentes para a qualidade do leite (hoje definida como 500 mil células por ml de leite, conforme estabelecido pela IN Mapa nº 76/2017)
Apesar da existência de protocolos para controle da doença, destaca-se que o principal ponto de atenção para o produtor rural, no papel de gestor e controlador de processos, é garantir a correta aplicação de boas práticas de manejo pelos colaboradores responsáveis, sobretudo durante a ordenha.
Ademais, com a existência de agentes infecciosos no ambiente que podem levar à quadros de mastite, as condições de umidade e higiene do local em que os animais permanecem são essenciais, não apenas para as vacas em produção, mas também vacas secas e animais em período pré-parto.
Por fim, o treinamento de mão de obra sobre a adoção de boas práticas de higiene, além do manejo da ambiência das fêmeas do rebanho, são ponto chave para se garantir a segurança sanitária da propriedade leiteira.
Acosta, A. C., da Silva, L. B. G., Medeiros, E. S., Pinheiro-Júnior, J. W., Mota, R. A. 2016. Mastites em ruminantes no Brasil.
Gonçalves, J. L., Kamphuis, C., Martins, C. M. M. R., Barreiro, J. R., Tomazi, T., Gameiro, A. H., Hogeveen, H., dos Santos, M. V. 2018. Bovine subclinical mastitis reduces milk yield and economic return.
Winckler, J. P. P. 2019. Prevalência da mastite subclínica em rebanhos brasileiros e o efeito sobre a composição do leite.
MENDONÇA, L. C. Tratamento da Mastite Clínica e Subclínica - Capacitação em bovinocultura de Leite, EAD SENAR.