Campo Futuro levanta custos de produção de quatro cadeias produtivas
Painéis analisaram as culturas da pecuária de leite, grãos, frutas, silvicultura e aquicultura em cinco estados
Brasília (14/06/2024) – O Projeto Campo Futuro promoveu, essa semana, 11 painéis para levantar os custos de produção nas cadeias da aquicultura, pecuária de leite, grãos, frutas e silvicultura.
Os painéis aconteceram nas modalidades presencial e online, com a parceria das Federações de Agricultura e Pecuária e a presença de produtores e técnicos de Mato Grosso, Rondônia, Santa Catarina, Bahia e Paraná.
Leite - Na cadeia do leite, o levantamento de custos aconteceu em São Francisco do Guaporé, Ouro Preto do Oeste e Buritis (RO).
De acordo com o técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Leite da CNA, Guilherme Dias, as propriedades analisadas têm entre 65 e 70 hectares de área total, com sistemas de produção a pasto gerando em torno de 70 a 80 litros/dia, com mão de obra majoritariamente familiar.
“A receita obtida com o leite possibilitou ao produtor cobrir apenas os custos operacionais efetivos, uma vez que o baixo uso de insumos na atividade não onera demasiadamente o pecuarista”, afirmou.
“Entretanto, quando são computados os custos operacionais totais que contemplam além dos desembolsos, a depreciação e o pró-labore do produtor, a atividade passou a operar no vermelho devido às dificuldades na diluição dos custos fixos em função de um baixo volume de leite produzido”, ressaltou.
Frutas - No Paraná, o Campo Futuro levantou os custos da maçã na região de Lapa. A propriedade analisada possui 20 hectares com o cultivo da maçã Eva, em sistema não irrigado e semimecanizado com colheita manual. A produção é destinada ao mercado e à indústria.
“Conforme relato dos produtores, para a safra atual, a produtividade registrada foi de 40 toneladas, sendo comercializado com intermediários, classificadoras e direto para as indústrias”, explicou a técnica em Fruticultura, Letícia Fonseca.
Letícia explicou que um painel semelhante foi realizado em 2018 e, à época, a propriedade modal possuía plantios das variedades Eva e Gala, áreas mais expressivas e menor participação de maçã indústria na comercialização.
“Essas modificações no pacote tecnológico estão atreladas à elevação dos custos de produção, em especial aos riscos da atividade, como a ocorrência de granizo, períodos de alta amplitude térmica, e menos horas de frio do que as demandadas pela cultura.”
Grãos – A análise dos custos de produção aconteceu em Xanxerê, Campos Novos e Araranguá (SC).
De acordo com o levantamento, a safra 2023/24 em Xanxerê foi de margens mais apertadas devido ao menor preço de negociação e queda na produtividade de soja, milho e trigo devido ao fenômeno El Niño.
Para a soja, a produtividade média relatada pelos participantes foi 24% menor (62 sacas/ha) que a safra passada (77 sacas/ha). Segundo o técnico de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, Tiago Pereira, para o milho e trigo, as reduções foram de respectivamente 18% (160 sacas/ha) e 28% (57 sacas/ha). Além do clima adverso, os preços também reduziram no período. Para a soja, o preço médio de comercialização caiu 15%, enquanto para o trigo a redução foi de 14%.
Em Campos Novos, a safra 2023/24 também foi marcada por um achatamento significativo das margens dos produtores rurais. A combinação de baixas produtividades devido ao clima adverso e preços pouco atrativos resultou em uma temporada desafiadora para a soja, milho e trigo.
No caso da soja, as produtividades ficaram bem abaixo do esperado, com médias que não ultrapassaram as 60 sacas por hectare. O milho também apresentou quebra, com rendimentos na casa das 130 sacas/ha, 20 sacas/ha a menos que na temporada anterior.
Já o trigo também sofreu com produtividades reduzidas, girando em torno de 35 sacas/ha, redução de 42%. Segundo Pereira, além das baixas produtividades, os preços das commodities agrícolas sofreram uma queda acentuada. Os preços médios para a soja caíram 12%, para o milho 5% e para o trigo, 48%.
“A combinação desses fatores resultou em margens achatadas, pressionando ainda mais os agricultores que já enfrentam desafios climáticos e econômicos das safras anteriores. Essa conjuntura adversa exigirá dos produtores uma gestão ainda mais eficiente e a busca por alternativas que possam mitigar os impactos negativos dessa safra.”
Em relação ao arroz, o levantamento em Araranguá revelou que os custos permaneceram em patamares semelhantes aos da safra passada. Itens como sementes e herbicidas tiveram altas no período, de respectivamente 64% e 24%. O clima colaborou significativamente para o bom desenvolvimento da cultura do arroz, com chuvas bem distribuídas ao longo do cultivo.
Silvicultura – Na Bahia, o projeto analisou a cultura do eucalipto em Teixeira de Freitas e Eunápolis. A propriedade modal analisada nos dois municípios é de 100 hectares, com produção e Incremento Médio Anual (IMA) de 35 m 3 /ha/ano e 38 m3/ha/ano, respectivamente. Nas duas localidades, a madeira produzida é destinada à produção de celulose.
Aquicultura – Na área de aquicultura o Campo Futuro analisou dados da produção em Sorriso e Cuiabá (MT).
Em Sorriso, foi realizado levantamento do custo de produção do Pintado da Amazônia em uma propriedade modal característica da região de 2000 hectares e produção em cinco viveiros escavados de área de 2ha cada.
A produção tem duração de aproximadamente 365 dias, ou seja, um ciclo por ano, com produtividade média de 152 toneladas. O item de maior impacto no Custo Operacional Efetivo (COE) foi a ração, sendo responsável por 60,2% dos desembolsos realizados pelos produtores com a atividade. As despesas administrativas responsáveis por 20,8% e 6,7% mão-de-obra.
Na região de Cuiabá, o painel analisou a produção de Tambatinga, em uma propriedade com área total de 50ha e produção em lâmina d’água de 5ha, com 10 viveiros escavados de 0,5ha cada, alojando 25 mil alevinos em média e mortalidade de 15% com ciclo de produção anual de 365 dias.
De acordo com o levantamento, essa propriedade apresentou resultados econômicos positivos, com margem bruta de R$ 1,01. Os insumos mais representativos e onerosos à produção são ração, administrativo e mão-de-obra, representando 68,9%, 16,9% e 5,6% do Custo Operacional Efetivo (COE).