CNA e entidades discutem entraves e soluções para transporte ferroviário
Seminário reuniu representantes do setor produtivo
Brasília (06/08/2025) – O evento “Desafios do Transporte Ferroviário e Competitividade do Setor Produtivo” realizado na terça (5), na sede da CNA, contou com especialistas para discutir a situação das ferrovias no Brasil e os desafios para aumentar a competitividade do setor produtivo.
Representantes do setor produtivo, especialistas em infraestrutura e autoridades públicas discutiram entraves logísticos e apontaram soluções para ampliar a eficiência do transporte ferroviário no país.
Depois da abertura do seminário pelas autoridades foi realizada a palestra magna “Ferrovias no Brasil: muita carga, pouco trilho” pelo professor da FGV e sócio da GO Associados, Gesner Oliveira, e pelo professor da Esalq/USP e coordenador do Grupo ESALQ-LOG, Thiago Guilherme Pera.
Gesner Oliveira apontou questões fundamentais na discussão sobre as ferrovias. Para ele, a mudança na matriz atual de transporte é essencial para a economia brasileira, e não basta aumentar a malha ferroviária, mas é urgente torná-la mais eficiente. E afirmou que regulação, tecnologia e sustentabilidade devem fazer parte da agenda de futuro do setor.
Thiago Guilherme Pera apresentou um diagnóstico do atual cenário do sistema ferroviário e falou da sua importância para a economia. “Enquanto o mundo busca diversificar seus modos de transporte utilizando mais ferrovias e hidrovias, no Brasil a gente está usando mais caminhões, concentrando mais riscos e mais custos”.
Primeiro painel – O tema do primeiro painel foi a “Situação do transporte ferroviário no Brasil, competição com outros modos de transporte e evolução no escoamento da produção”.
Participaram do debate Valter Souza, diretor de Relações Institucionais da CNT; Luis Baldez, presidente-executivo da ANUT; Wagner Cardoso, superintendente de Infraestrutura da CNI; Luiz Antonio Pagot, presidente da Comissão de Infraestrutura e Logística do IPA/FPA e Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da Comissão de Logística e Infraestrutura da CNA.
Na abertura das discussões, Elisangela Pereira Lopes ressaltou as dificuldades do escoamento da safra e a dependência das rodovias brasileiras.
“A infraestrutura não tem acompanhado a evolução do agro brasileiro. Basta pegar os últimos números da safra de grãos da Conab. O levantamento mostrou que o Brasil produz 339,7 milhões de toneladas de grãos. Por onde vamos escoar essa produção? Vamos continuar dependendo de uma matriz predominantemente rodoviária? É necessário tirar do papel outros projetos e fazer com que eles aconteçam”, disse.
Luiz Antônio Pagot falou da necessidade de mais recursos e investimentos em ferrovias. “Se o Brasil tem a intenção de produzir mais, de transportar mais e de maneira mais eficiente e com menos custos, também tem que fazer uma oferta compatível de recursos”.
Para Luis Baldez, presidente-executivo da ANUT, há trechos ferroviários abandonados que poderiam ser reativados. “Temos a chance de retomar esses trechos com baixa densidade de tráfego. Esse evento, com certeza, é um passo nesse caminho”
Já Wagner Cardoso, superintendente de Infraestrutura da CNI, o Brasil convive com contrastes na malha ferroviária. “Temos trechos de padrão internacional, mas também enfrentamos situações muito difíceis. Nossas estradas estão em condição bem inferior às dos nossos concorrentes globais”.
Segundo Valter Souza, diretor de Relações Institucionais da CNT, a logística do agronegócio precisa de uma abordagem estratégica de longo prazo. “Logística deve ser tratada como projeto de Estado”.
Segundo painel - “Desafios legais e regulatórios das concessões de ferrovias e competitividade do setor produtivo” foi o tema do segundo painel.
Os participantes foram Leonardo Ribeiro, secretário nacional de Transporte Ferroviário; Alessandro Baumgartner, superintendente de Transporte Ferroviário (Sufer/ANTT); Maurício Wanderley, diretor de auditoria externa no setor ferroviário do TCU; André Nassar, presidente-executivo da Abiove; Eduardo Heron, diretor do Cecafé e José Ricardo Noronha de Carvalho, especialista em regulação.
O secretário Leonardo Ribeiro ressaltou a importância do Plano Nacional de Ferrovias, que está em execução, e inclui a concessão de quase 5.000 quilômetros de novas ferrovias à iniciativa privada.
O diretor de auditoria externa no setor ferroviário do Tribunal de Contas da União, Maurício Wanderley, falou sobre os trâmites da análise pelo TCU dos estudos complementares da Ferrogrão.
Já o presidente-executivo da Abiove, André Nassar, ressaltou que também é necessário melhorar a eficiência das ferrovias que já existem. “Melhorar a eficiência do serviço e aumentar o volume de carga transportada”.
Eduardo Heron (Cecafé) falou dos obstáculos regulatórios que prejudicam o setor. “Precisamos trabalhar a regulação, precisamos aprimorá-la”.
Alessandro Baumgartner, superintendente de Transporte Ferroviário da ANTT, apontou que o modelo verticalizado leva ao abandono de trechos menos lucrativos. “As concessionárias priorizam rotas mais rentáveis, e outras vão sendo deixadas de lado, muitas vezes sem autorização ou explicação. O serviço vai se tornando tão difícil que o cliente acaba desistindo”.
José Ricardo Noronha de Carvalho, especialista em regulação, afirma que é inaceitável que o controle das ferrovias permaneça exclusivamente com as concessionárias. “O trecho foi completamente abandonado. É preciso analisar juridicamente o contrato — talvez já existam fundamentos para retomá-lo”.
O evento foi promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e outras entidades.