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Goiás

Dos alicerces de concreto às raízes dos pomares
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Após uma transição de carreira da engenharia civil para a citricultura, mesmo com 20 anos de experiência, Gilmar de Paula descobriu com a assistência técnica do Senar Goiás, que como nas obras, ajustes são necessários para resultados mais sólidos

9 de maio 2025

Se na engenharia civil o segredo para uma construção bem edificada está em um bom alicerce, na citricultura o princípio é o mesmo: uma base com boa estrutura garante frutos saudáveis e um negócio próspero. Gilmar de Paula Lemes entende bem desses dois mundos. Engenheiro por formação, passou décadas no comando de uma construtora, erguendo obras públicas. Mas, em 2005, decidiu fincar raízes em outro tipo de empreendimento: a produção de laranjas e mexericas.

Hoje, ele é um dos maiores citricultores da região de Leopoldo de Bulhões, na divisa com Goianápolis, a 39 km de Goiânia. Suas três propriedades somam 80 mil árvores frutíferas, sendo 12 mil mexeriqueiras e o restante, laranjeiras. A produção média por pé adulto varia entre três e quatro caixas de frutas, um volume considerado bom diante dos desafios do setor.

“O negócio começou com meu pai e meu irmão, e, no meio do caminho, eu também entrei. Já são 20 anos dedicados à citricultura. Assim como na construção, aqui também enfrentamos obstáculos. Hoje o preço da laranja está bom, mas já precisei recomeçar várias vezes. As pragas e doenças, que começaram nos Estados Unidos, passaram por São Paulo e agora chegam a Goiás, são nossos maiores desafios”, relata Gilmar.

Se nas construções é preciso prevenir infiltrações e rachaduras para manter a estrutura segura, no campo o cuidado é semelhante. A grande ameaça para os citricultores é o greening, uma doença causada pela bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus, que compromete toda a “arquitetura” das árvores e inviabiliza a produção. A praga chegou a Goiás por meio de mudas sem procedência, vendidas em caminhões, e foi identificada pelo técnico de campo do Senar Goiás, Lucas Marquezan Nascimento.

Para evitar que sua plantação seja contaminada, Gilmar adotou um sistema rigoroso de inspeção, trazendo um “fiscal de obra” para o pomar: o pragueiro, profissional encarregado de vistoriar as árvores quinzenalmente.

“Ele percorre os talhões em um trajeto estratégico, examinando cada planta da base até o topo. Se encontra qualquer sinal de praga, a árvore é removida e queimada imediatamente. Mas além das doenças, temos que enfrentar outro fator que, assim como na construção, pode comprometer tudo: o clima. O excesso de sol nas áreas de sequeiro, que não são irrigadas, exige um planejamento cuidadoso para evitar prejuízos”, explica Gilmar.

Se na engenharia a organização financeira de uma obra é essencial para evitar desperdícios e garantir a entrega dentro do prazo, no campo não é diferente. A produção de Gilmar começou em abril de 2025 e seguirá até março de 2026, com expectativa de colher 150 mil caixas de laranjas e mexericas, um crescimento de 33 mil caixas em relação ao ano anterior.

Mas além da expansão da produção, a gestão financeira das fazendas está passando por reforma. Há oito meses a técnica de campo do Senar Goiás, Marina Teixeira Arriel, passou a oferecer Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), por meio do Sindicato Rural de Anápolis, nas propriedades. A parte administrativa ganhou um novo alicerce.

“O Gilmar tem uma produção muito bem manejada, com controle rígido sobre pragas e doenças, mas a parte administrativa precisava de organização. Começamos estruturando as receitas e despesas da propriedade. Ele contratou uma funcionária para cuidar dessa parte e fizemos um inventário dos recursos. Nosso objetivo é que, até o fim do primeiro ano de assistência, ele tenha clareza total sobre o que entra, o que sai e quanto de capital está investido no negócio”, detalha Marina.

Com essa nova estruturação, Gilmar agora pode construir planos mais sólidos para o futuro. Recentemente, ele plantou 12 mil novas mudas de laranja e pretende diversificar a produção ao longo do ano, evitando a dependência exclusiva da safra convencional. Para isso contará com a ajuda das inovações da ciência, por meio de formulas que permitem controlar as fases de florada e colheita.

“O Senar veio para agregar muito. Agora temos um controle mais eficiente dos fluxos financeiros, algo que antes era feito sem tanta disciplina. Isso me dá uma visão clara dos investimentos e me permite tomar decisões estratégicas com segurança”, afirma o produtor.

No cenário nacional, de acordo com entidades que monitoram o setor, a safra 2024/25 do cinturão citrícola de São Paulo e Minas Gerais começou com uma projeção de 232,38 milhões de caixas, mas foi reestimada para 223,14 milhões devido às condições climáticas adversas e interferência de pragas. A redução de 4% impactou os estoques de suco de laranja, elevando os preços. Em março de 2025, a caixa de 40,8 kg ultrapassou os R$ 110, um dos melhores valores dos últimos anos.

Diante dos desafios que as regiões grandes produtoras de citros vêm enfrentando, Goiás passou a ser escolha de muitos produtores que encontram aqui boas condições para ampliação desse tipo de cultura. “Principalmente o avanço do greening em São Paulo e Minas Gerais tem levado produtores a migrar para o estado, que oferece clima e solo favoráveis para o cultivo de citros. Outro fator é que a produção goiana ainda não é suficiente para abastecer o mercado interno. Precisamos trazer laranjas de São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Com o declínio da produtividade nas regiões já mencionadas e aumento da demanda internacional por suco de laranja, Goiás tem um grande potencial para crescer e se consolidar no setor”, informa a técnica de campo.

Voltando a trajetória de Gilmar, a história dele mostra que independente do tempo em uma profissão é possível encarar novos projetos, mesmo que em plantas diferentes. Seja executando obras ou cultivando pomares, o segredo do sucesso está no planejamento, na inovação e na resiliência. Depois de boa parte da vida levantando estruturas de concreto, ele agora constrói um futuro sólido na citricultura, onde cada safra bem-sucedida é um tijolo a mais nesse mercado em expansão.

Comunicação Sistema Faeg/Senar/Ifag

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