Fortes e independentes, mulheres do campo tocam os negócios e mudam a realidade
Seja com as mãos na terra ou organizando pessoas por um objetivo comum, elas avançam em busca de uma vida melhor para si e para a comunidade
Antes relegadas à participação secundária no campo, hoje as mulheres do meio rural estão nas lavouras, nas associações e nos tratores, transformando a realidade do meio rural sem deixar de lado as lutas comuns a todas as mulheres – como Zilda Marta, Edilene e Josimar, mineiras que, de suas casas no campo, ajudam a mudar o mundo.
Dia 15 de outubro é comemorado o Dia Internacional da Mulher Rural e, no marco da campanha internacional #MujeresRurales, mujeres con derechos, o Brasil inicia a sua participação nos “15 dias de ativismo pelo empoderamento das mulheres rurais”. A ideia é difundir os principais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Dos 17 objetivos, em pelo menos três essas produtoras mineiras dão sua contribuição: Igualdade de Gênero (5º), Redução das Desigualdades (10º) e Consumo e Produção Responsáveis (12º) – e sua atuação serve de inspiração para mais mulheres avançarem.
Para que todos cresçam
Zilda Marta Almeida Cândido é moradora de Miraí, na Zona da Mata. Polivalente, ela conta que escolheu viver na zona rural e transformar o sítio onde nasceu em uma propriedade viável e próspera. Após se capacitar em vários cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Minas Gerais (SENAR MINAS), ela resolveu compartilhar os conhecimentos e ajudar outros produtores rurais na empreitada: tornou-se mobilizadora (profissional que viabiliza a realização dos cursos por meio de uma entidade parceira do SENAR) e criou uma associação e uma feira livre no município, o que deu a várias famílias a oportunidade de aprender e agregar renda extra.
Zilda cresceu em um sítio na comunidade de São José do Alegre. O pai saiu da roça, mas ela decidiu continuar cuidando da propriedade. “Vendi o que tinha na época e não deixei que ele vendesse o sítio. Depois me casei e voltei para lá, mesmo sem condições mínimas de viver. Era uma situação muito precária. Não tinha como produzir direito, a gente não tinha condições financeiras”, lembrou.
Hoje, a situação é outra: “Minha família cultiva banana, café e faz bolos, pães e biscoitos. Tudo está melhor, aprendemos a valorizar o que temos na propriedade e mudamos a nossa visão. É um pedaço pequeno, mas temos fartura de tudo. Tenho orgulho de morar no campo”, conta.
A Associação de Agricultores Familiares e Artesãos de Miraí, criada por Zilda, existe há 11 anos e conta hoje com 32 pessoas associadas. O grupo entrega produtos para a merenda escolar, para fornecedores, mercados e também comercializam na Feira da Agricultura Familiar, que também foi uma conquista do grupo. A associação ainda conta com uma sala na rodoviária da cidade, onde ficam expostas peças de artesanato.
“Foi um incentivo. Caso contrário, não tinha como a gente viver aqui. E as pessoas estão valorizando mais o trabalho porque estão vendo os resultados. É muito gratificante para mim ver que os ex-alunos estão trabalhando. Os que querem conseguem chegar a algum lugar”, ressaltou Zilda.
Força feminina no café
Na região das Matas de Minas, as mulheres não são meras ajudantes: estão nos papéis principais da cafeicultura. Têm visão diferenciada para a gestão do negócio e de pessoas, buscam constante o aprimoramento e a qualidade.
Edilene Veríssimo, 32 anos, moradora de Martins Soares, tem um objetivo firme: crescer e ajudar ativamente na propriedade cafeeira. Nascida no campo, ela cresceu em meio aos cafezais. Filha de pequeno produtor, com oito anos já fazia a colheita e ajudava no terreiro. Mais tarde, depois de três anos na cidade, retornou à zona rural, onde ainda auxilia a família e o marido na cafeicultura.
Na propriedade de três hectares, ela e o marido produzem os grãos que são enviados à cooperativa e também para uma cafeteria em São Paulo. Integrante de um grupo formado apenas por mulheres para Assistência Técnica e Gerencial – ATeG Café do SENAR MINAS, Edilene acredita que o público feminino tem que buscar aprendizado, o que incentiva a mulher a ter mais coragem.
Assim como Edilene, Josimar Augusto Sodré, 48 anos, vive do café. Junto com a filha Luana Augusto de Paula Sodré, 20, trabalha na comunidade de Vargem Alegre, em Alto Jequitibá. Há mais de um ano passaram a investir no café especial e vislumbram na metodologia de ATeG a oportunidade de crescer.
A filha também colhe os frutos de se dedicar ao negócio. Empregar esforços no café especial junto com a mãe e a irmã fez Luana mudar sua visão: “Melhorou o preço e aprendi a negociar e cuidar melhor. Com mulheres à frente ainda existe um preconceito, mas as pessoas de fora reconhecem”, avaliou. “Quando você busca conhecimento e estuda, você vê o que está faltando e passa a anotar tudo. Estou me preparando para colocar os ensinamentos em prática. Daqui a seis meses tudo vai estar mais organizado. Participar de cursos e programas faz a gente criar compromisso, nos anima e nos ajuda a crescer”, aconselha Josimar.
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