Produtores investem em fontes alternativas para reduzir custos no campo
Por: FAEG
A conta de energia próximo ao mínimo e sem reduzir o consumo parece um desejo difícil. Mas é uma realidade cada vez mais viável para produtores rurais em Goiás. Isso porque o investimento na geração a partir de fontes renováveis ganhou impulso e mais confiança a partir de 2016, quando resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) passou a permitir o desconto na fatura do excedente gerado com regras mais claras.
Assim, seja do tipo biomassa, biogás ou fotovoltaica, há uma diversificação nas fontes que permite reduzir impactos ambientais, aproveitar potencial e economizar. Nas fazendas goianas há exemplos desde o uso de dejetos de granjas até madeiras, sem contar o tradicional bagaço de cana e a radiação solar para a geração de eletricidade que pode ser enviada para a linha de distribuição ou somente consumida na propriedade. Inclusive este foi o tema (Fontes de Energias Renováveis) da última edição do programa Agrinho, cuja premiação ocorreu no final de novembro.
Para ter uma ideia, no Estado são 319 unidades consumidoras de energia com geração distribuída – produção que vai para a linha de distribuição e soma uma potência instalada de 5,56 mil quilowatts (kW) –, segundo a Aneel. Dessas, 26 estão no campo, sendo 22 fotovoltaicas e quatro termoelétricas a biogás que possuem a produção a partir de resíduos de animais.
O produtor de suínos de Rio Verde, Charlis Eduardo Leão, faz parte desse time há cerca de um ano e meio e há três gera energia. Ele explica que a eletricidade é cara e sua demanda é alta, o que resultava em uma conta de até R$ 20 mil por mês. Diante desse peso na contabilidade, buscou informação e resolveu aproveitar o subproduto da granja. “Já tem o biodigestor, as bactérias decompõem os resíduos, geram o gás que é jogado no meio ambiente ou queimado e veio a ideia de comprar um gerador a base do gás metano”, diz.
Deu tão certo que no horário de pico o motor da granja suporta a demanda e há até excedente com o bônus para ser usado em outras unidades consumidoras. São 120 kW de potência. “Aproveito o que era jogado fora e hoje pago R$ 3 mil de energia e tem mês que vem zerado. Então para a gente foi muito bom”, afirma ao lembrar que a região também sofre com falta de energia, o que resultava em prejuízos, pois os animais não suportavam o calor e a alimentação é automatizada.
O próximo passo é colocar um pequeno gerador para quatro pivôs de irrigação para as culturas da soja, de milho e feijão. O desejo é tornar a propriedade autossustentável. Para o primeiro projeto, foram necessários R$ 200 mil de investimento e aproveitou linha de crédito com um ano de carência e cinco para pagar, estratégia para conseguir aproveitar a geração sem se comprometer. Com mais de 15 mil animais, 12 casas e oito barracões, avalia que o retorno será rápido.
Expansão
O assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Pedro Arantes, afirma que assim como esse sistema usado em granjas no Estado há também a expansão expressiva com relação à geração fotovoltaica com projetos grandes para suprir, especialmente, pivôs e armazéns. “Foi criado um programa para a energia solar (Goiás Solar) e há financiamentos específicos com prazo de carência e é interessante para não faltar energia e se gerar a mais conseguir receber o saldo”, ressalta.
“A aceitação no campo tem sido enorme”, diz o diretor-executivo da Stonos Desenvolvimento Criativo, Pedro Provazio Lara de Almeida, sobre a geração de energia limpa. Ele avalia que mesmo desconectada da rede (sistema off-grid) há usos específicos e muito utilizados da energia solar, como para bombeamento de água, e que a geração compensa não só onde falta energia da companhia de distribuição. Engenheiro eletricista, ele explica que quando é para uma necessidade menor no campo não faz sentido puxar quilômetros de rede para fazer a ligação e, mesmo sem a compensação, o sistema off-grid possibilita retorno. A duração é de cerca de 25 anos e o investimento se paga em sete. A partir de R$ 11,6 mil, segundo ele, é possível aproveitar a radiação solar e o Estado faz parte da região chamada de cinturão solar.
Apesar de todo o crescimento, ele lembra que ainda há muito desconhecimento. Com mais linhas de crédito e informação, a aposta é num aumento ainda maior na geração. Isso é o que também acredita o produtor de grãos de Jataí, Valdecir Sovernigo. Para o autoconsumo remoto, há cerca de um mês ele faz a compensação da energia que gera em sua propriedade. São 300 kW de potência instalada. “Achei rápido, prático e não tem impacto ambiental. ” Investiu cerca de R$ 1,8 milhão e usa para armazém, pivôs e casas. “Penso que deve reduzir em 90% a conta de energia”, pontua ao citar que tinha meses em que desembolsava aproximadamente R$ 50 mil com a fatura da companhia de distribuição.