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O potencial do mercado brasileiro para a agricultura
Na página da Caixa Federal na Internet consta a informação de que 13,9 milhões de famílias estão cadastradas no programa Bolsa Família.
Considerando que cada família seja formada por 4 pessoas, que é a média brasileira atual, temos aproximadamente 55,6 milhões de pessoas vivendo em situação de pobreza ou extrema pobreza, que são as condições que permitem ao cidadão ter seu cadastro aprovado para se beneficiar do programa Bolsa família.
Para se ter a dimensão do que significa essa quantidade de pessoas, que representa mais de ¼ da população brasileira, basta comparar com o somatório da população de 10 países europeus, especificamente: Portugal, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Bélgica, Estônia, Letônia, Lituânia e Luxemburgo. Juntos, esses 10 países somam 54,5 milhões de pessoas. Ou seja, 1 milhão menos que o cadastro do programa Bolsa Família.
Criar condições para melhorar a renda das famílias que estão cadastradas no Bolsa Família significará um incremento gigantesco ao mercado doméstico. Com mais renda, essas famílias seguramente consumiriam mais e o mercado, especialmente de alimentos, construção civil, roupas e serviços, teria um novo universo para explorar.
Fundamental, portanto, que ao Bolsa Família sejam conectados programas de capacitação técnica e acesso às tecnologias disponíveis para os membros das famílias.
A China está conseguindo excelentes resultados com o programa de crescimento inclusivo que vem realizando ao longo dessa década. A tecnologia e a política de inovação estão na base do programa chinês, que busca construir um estilo de crescimento econômico inclusivo que priorize a abertura de postos de trabalho qualificados e valorizados. O trabalhador qualificado, ao ocupar esse cargo, muda sua renda familiar.
Evidente que, no Brasil, precisamos primeiro sensibilizar os dirigentes públicos para que estudem um pouco mais. Principalmente que entendam que para o País o que importa não são os próximos 4 anos, muito menos as manchetes de jornais com suas fotos. O que de fato importa é a construção de condições onde as pessoas possam trabalhar, produzir e reproduzir em paz e com prosperidade.
O exemplo chinês é muito rico. Ao priorizar dentro de suas fronteiras a interação entre pessoas e inovação tecnológica, os dirigentes chineses indicam caminhar na direção que os dirigentes alemães, já de longa data, identificaram como sendo o caminho mais promissor, que é exatamente a preocupação com a capacitação das pessoas e com o desenvolvimento científico e tecnológico.
De fato, a maior riqueza de uma nação não é o que ela tem na conta bancária, mas sim a população educada e capacitada que ocupa o interior de suas fronteiras.
A formula de crescimento econômico inclusivo chinês, que procura capacitar as pessoas e estimular o ânimo para a criação e afloramento do espirito empreendedor e de inovação das massas, pode ser utilizada em qualquer País, visto que ela lida com seres humanos.
É muito comum nos eventos sobre agronegócio e comércio internacional ouvir palestrantes falando maravilhas do mercado chinês, onde as pessoas estão aumentando o poder aquisitivo e consumindo mais e melhores alimentos e outros produtos.
Efetivamente estão falando do resultado da gestão pública chinesa, que de fato interessa ao Brasil.
Todavia, ao Brasil interessa também, e interessa muito, conhecer a competência dos gestores chineses e as ferramentas de gestão que utilizaram para gerar o resultado que está melhorando a posição econômica da China e, indiretamente, ajudando o Brasil.
Caso a gestão pública brasileira consiga produzir um crescimento econômico inclusivo, que ofereça melhores condições para as famílias brasileiras que estão na pobreza ou extrema pobreza, a produção brasileira conseguiria um grande espaço não só lá na China, mas aqui, bem pertinho.
Talvez para isso seja preciso que os governantes não tenham vergonha de reconhecer a situação real da população do País, que administram de forma tão incompetente. Certamente, para um governante é mais cômodo pregar o aproveitamento do sucesso da gestão pública chinesa, ressaltando a janela para a exportação de produtos, do que reconhecer sua incompetência de criar condições semelhantes àquela que os governantes chineses criaram.
Contudo, possivelmente a incompetência no campo da gestão não esteja apenas na esfera governamental. Quem sabe o empresariado brasileiro e suas instituições representativas possam buscar inspiração na cultura empresarial alemã, cuja parcela de sucesso é atribuída à construção de um modelo doméstico de interação baseado mais na cooperação e no consenso do que na competição predatória, e esse modelo de cooperação cobre toda a teia socioeconômica: o setor produtivo, o sistema financeiro, os sindicatos de trabalhadores e as instituições do Estado. No universo da agricultura, desde as audiências públicas realizadas na Câmara dos Deputados em 2005 sobre o endividamento dos agricultores, muito pouco conseguimos avançar na construção de uma distribuição de renda mais justa na cadeia do agronegócio. Falta um ambiente menos predatório, mais cooperativo.
De fato, precisamos acelerar a ruptura com os modelos de gestão que já demonstraram não ser eficientes, substituindo-os por modelos mais competentes e conectados com o mundo globalizado, que é uma realidade que veio para ficar.
*Reginaldo Minaré é Advogado, Mestre em Direito, especialista em regulamentação da biotecnologia. Consultor de tecnologia da CNA