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PIB brasileiro fecha 2024 com alta de 3,4%; agropecuária registra queda em razão de adversidades climáticas

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou crescimento de 0,2% no quarto trimestre de 2024 em relação ao trimestre imediatamente anterior, segundo dados das Contas Nacionais Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou bem abaixo dos registrados nos trimestres anteriores, com destaque para o segundo trimestre, que teve alta de 1,3%. Com isso, o PIB do país encerrou 2024 com crescimento de 3,4%, totalizando R$ 11,7 trilhões.
Pela ótica da demanda, o grande destaque do ano foi o Consumo das Famílias, que cresceu 4,8% em 2024 na comparação com 2023. Esse crescimento foi impulsionado por um conjunto de fatores, como os programas de transferência de renda do governo federal, o aquecimento do mercado de trabalho e os ganhos reais do salário mínimo e de outros benefícios sociais. Outro item que apresentou crescimento foi a Formação Bruta de Capital Fixo (investimento privado), que avançou 7,3%.
Pela ótica da oferta, o resultado foi impulsionado pelos setores de Serviços e Indústria, que cresceram 3,7% e 3,3%, respectivamente, em relação a 2023. Na mesma base de comparação, a Agropecuária registrou queda de 3,2%, devido a adversidades climáticas que afetaram a produção e a produtividade de culturas importantes ao longo do ano. Com esse desempenho, a participação do setor no PIB total recuou para 5,58%, uma queda de 0,44 ponto percentual em relação a 2023 (6,02%).


Considerando o acumulado de 2024 em relação a 2023, entre os setores e subsetores da economia que registram melhor desempenho, destacam-se a Indústria da Construção (4,3%), e as Indústrias de Transformação e o Comércio, ambos com crescimento de 3,8%. É importante ressaltar que, em 2024, o setor industrial foi fortemente impulsionado pelo conjunto de ações do Plano de Neoindustrialização, no âmbito da Nova Indústria Brasil, lançado em 2023 e com horizonte de atuação até 2033.
Do lado do recuo, destaca-se a Agropecuária, que teve retração de 3,2% por conta das adversidades climáticas. O gráfico 1 apresenta os resultados do PIB dos setores e subsetores, considerando a variação acumulada de 2024 em relação a 2023.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção total de grãos atingiu 297,7 milhões de toneladas na safra 2023/24, uma redução de 7,2% em relação à safra 2022/23, quando alcançou 320,9 milhões de toneladas. A colheita do milho foi a mais impactada. A área plantada dessa cultura foi reduzida em 5,5% em 2024, na comparação com 2023, e sua produtividade caiu 7,2%. Como resultado, a produção de milho apresentou queda de 12,3% na mesma base de comparação. A soja, por sua vez, registrou crescimento na área plantada (3,9%), mas sofreu recuo na produtividade (-8,8%), levando a uma queda de 5,1% na produção total da oleaginosa. As quedas de produção previstas pela Conab vão ao encontro das estimativas anuais do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE, que estimam perdas de 12,5% e 4,6% nas produções de milho e soja, respectivamente.
No caso do café, regiões com alta concentração de arábica, como Minas Gerais, enfrentaram condições climáticas menos favoráveis em 2024, resultando em um pequeno aumento na produção (1,4%). Vale destacar que 2024 era um ano de bienalidade positiva, mas, devido ao clima, a produtividade ficou bem abaixo da inicialmente projetada. Já o café canephora, cultivado principalmente no norte do Espírito Santo e no Norte do país, foi ainda mais impactado por adversidades climáticas, como altas temperaturas e estiagens prolongadas. Como resultado, a produtividade foi fortemente comprometida, levando a uma redução de 2,5% na produção, segundo o LSPA.
A cana-de-açúcar também foi afetada negativamente pelas adversidades climáticas em 2024. O Centro-Sul, responsável por cerca de 90% da produção, sofreu com a seca e os incêndios – especialmente no estado de São Paulo, que concentra 60% da produção total –, o que impactou fortemente a produtividade da região. No Nordeste, a seca e a estiagem também afetaram a cultura, mas com menor intensidade. Diante desse cenário e considerando o ótimo desempenho em 2023, a perda na produção de cana em 2024 foi estimada pela LSPA em 0,9%.
Por outro lado, a pecuária e a produção florestal contribuíram positivamente para o resultado no PIB em 2024. Destaca-se a estimativa de crescimento na produção pecuária em 2024, impulsionada pelo aumento no abate de animais. Com base nos dados preliminares do 4º trimestre da Pesquisa Trimestral de Abates do IBGE, o abate de bovinos no país totalizou 39,2 milhões de cabeças em 2024, um aumento de 14,9% em relação a 2023. O abate de aves totalizou 6,4 bilhões de cabeças, alta de 2,5% em relação a 2023. Já o abate de suínos somou 57,9 milhões de cabeças, um crescimento de 1,1% na comparação anual. Como resultado, a produção de carnes bovina, aves e suína cresceu 14,0%, 2,3% e 0,6%, respectivamente, atingindo volumes recordes para as três proteínas.
O Gráfico 2 apresenta as variações na produção de 2024 em comparação a 2023, com base nos dados do LSPA/IBGE. Importante destacar que, entre as culturas que registraram queda em 2024, a representatividade dessas culturas no Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária chega a aproximadamente 43%, enquanto as culturas que apresentaram crescimento representam cerca de 9% do VBP. Vale ressaltar, em especial, as quedas do milho e soja que, juntas, correspondem a quase 35% de todo o VBP agropecuário.

Considerações finais
Em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou crescimento de 3,4% em relação a 2023. Esse resultado foi impulsionado, principalmente, pelo aumento das Despesas de Consumo das Famílias, favorecido pelo mercado de trabalho aquecido, pela valorização real do salário mínimo e pelo forte crescimento dos gastos públicos com programas sociais.
Sob a ótica setorial, os setores de Serviços e a Indústria apresentaram os melhores desempenhos. Já a Agropecuária foi negativamente impactada por adversidades climáticas, que provocaram quebras de safra ao longo do ano, especialmente na produção de grãos, resultando em uma queda de 3,2% no PIB do setor. Vale destacar que esse resultado ficou abaixo do esperado, uma vez que se projetava uma retração pouco superior a 2% para o setor no ano.
A retração da Agropecuária em 2024 não deve se repetir em 2025, uma vez que as condições climáticas mais favoráveis devem possibilitar a recuperação da produção das culturas de verão, como soja e milho. No segundo semestre, também se espera um clima propício, com potenciais impactos positivos sobre a produtividade agrícola. Assim, em 2025, a Agropecuária, a exemplo de 2023, tem potencial para se tornar o grande destaque do ano e um dos principais motores do crescimento do PIB nacional.
No entanto, o ano será desafiador em razão dos custos de produção, com taxa de juros elevada e depreciação do Real frente ao dólar, o que encarece insumos agropecuários importados, como defensivos e fertilizantes. Além disso, será necessário atenção às políticas públicas voltadas ao setor, especialmente as de gestão de risco, como o seguro rural, e as de fomento à atividade, considerando possíveis restrições fiscais que podem afetar a disponibilidade de recursos orçamentários. Essas políticas são fundamentais para garantir a sustentabilidade e a resiliência do setor no médio e longo prazo, assegurando seu papel fundamental na produção de alimentos e no crescimento econômico nacional.
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PIB Brasil | 4º trimestre de 2024
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