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20 de outubro de 2017
Prioridade regional da FAO busca criar mecanismos para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas na agricultura
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POR INSTITUTO CNA

A América Latina e o Caribe é uma das regiões mais ricas do mundo em recursos naturais. Possui 23% das terras com potencial de cultivos, recebe 29% das precipitações do planeta e tem sete dos 25 lugares do mundo com as mais altas concentrações de espécies endêmicas. Por outro lado, a região também tem sofrido nos últimos anos com os fortes impactos das mudanças climáticas e os desastres ambientais. Segundo o Índice de Risco Climático Global, três dos cinco países com maior risco estão na América Latina e Caribe: Honduras, Haiti e Nicarágua.

Entre 2003 e 2014 o custo dos desastres naturais na região chegou a 34 milhões de dólares, um quarto das perdas globais e afetou a 64 milhões de pessoas. Um terço da população regional mora em regiões altamente expostas às ameaças de desastras naturais. E ainda, o setor agrícola dos países da região sofreu, no período citado, 16% dos danos e perdas causados pelos desastres, sendo que 71% afetaram os cultivos, 13% as florestas, 10% a pecuária e 6% a pesca.

 

Para fazer frente a essa realidade, a FAO estabeleceu como prioridade regional uma Iniciativa voltada para o Uso sustentável dos recursos naturais, adaptação às mudanças climáticas e a gestão de riscos de desastres. O principal objetivo é adotar na região um modelo agrícola sustentável que proteja os recursos naturais, gere desenvolvimento socioeconômico equitativo que permita adaptação às mudanças climáticas.

 

Para alcançar resultados eficazes a FAO propõe uma agricultura sustentável que conserve a terra, a água, e os recursos genéticos, vegetais e animais, não degrade o meio ambiente e seja tecnicamente apropriada, economicamente viável e socialmente inclusiva e justa. Desde que foi adotada em 2016, a Iniciativa Regional vem trabalhando com os países para elaborar políticas agroambientais, apoia o processo de formulação de uma estratégia regional de Gerenciamento de Riscos de Desastres no âmbito da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e fortalecer os sistemas de controle de pragas e doenças agrícolas.

De maneira específica as principais ações nesses países visam o fortalecimento dos planos nacionais de gerenciamento de riscos, a adaptação dos agricultores familiares às mudanças climáticas e o fortalecimento dos sistemas de informação agroclimática e de preços. Além disso, a Iniciativa prevê o aumento das capacidades institucionais para promover a resiliência, apoiando processos de recuperação em áreas degradadas.

Impactos das mudanças climáticas na agricultura brasileira
Os eventos globais como aumento da temperatura e os longos períodos de secas têm atingido de maneira significativa a produção agrícola brasileira e as projeções para o futuro não são nada animadoras, segundo importantes estudos desenvolvidos por instituições brasileiras.

A Rede Clima, instituída pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em 2007 para atender às necessidades nacionais de conhecimento sobre mudanças do clima, aponta que, áreas agrícolas brasileiras e culturas como feijão, soja, trigo e milho serão especialmente afetadas pelas mudanças climáticas até 2030. Estima-se que para o feijão, a queda vai de 54,5% a 69,7% do total, com base nas safras atuais. Já a soja, importante produto de exportação do país, tem uma redução esperada de 15% a 28%.

Outro importante organismo criado pelo governo brasileiro é o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, liderado pelos Ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente. Dados do Painel indicam que o Brasil poderá perder cerca de 11 milhões de hectares de terras agriculturáveis devido às alterações climáticas nos próximos 13 anos. A mais afetada será a região Sul, importante potência agrícola, representando quase metade dessa área.

Já estudos da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária indicam que caso o país não adote medidas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, a mandioca, por exemplo, desapareceria do semiárido e o café migraria para a região Sul devido às poucas condições de sobrevivência no Sudeste.

Esses são apenas alguns exemplos do que podemos vivenciar nos próximos anos. Por isso, é necessário tentar amenizar os impactos gerados pelas mudanças no clima e também criar mecanismos de adaptação. A agricultura, apesar de sofrer bastante com os efeitos, também é uma das causadoras, principalmente no diz respeito às emissões de gases de efeito estufa no meio ambiente.

Compromissos brasileiros
O Brasil vem dando sinais importantes de que está ciente da necessidade de fortalecer as medidas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Um passo de bastante relevância foi dado durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-21) realizada no final de 2015 em Paris.

Na ocasião o país se comprometeu a cumprir uma das metas mais ambiciosas em relação à redução de emissão de gases do efeito estufa ao estabelecer uma diminuição de 37% até 2025 e de 43% até 2030 em relação a 2005. Para isso o governo pretende, entre outros pontos, investir na adoção de biocombustíveis e outras formas de bioenergia; adotar medidas eficazes que permitam o reflorestamento; recuperar florestas e pastagens degradadas; avançar na tecnologia de produção agropecuária de baixo carbono, tendo como principal motor o modelo de integração desenvolvido pela Embrapa conhecido como lavoura-pecuária-floresta (iLPF); além de fortalecer políticas públicas e medidas contra o desmatamento ilegal da Amazônia até 2030.

Cabe ressaltar que atualmente o escritório da FAO no Brasil desenvolve projetos importantes em parceria com o governo que podem contribuir para que o país cumpra a meta da COP-21 e se torne exemplo mundial. Um dos projetos está ligado à implementação do Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas na Amazônia (PRADAM) que busca disseminar práticas de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) na região amazônica.

A FAO Brasil também atua junto ao Serviço Florestal Brasileiro na elaboração do Inventário Florestal Nacional. Significativos resultados já foram registrados: uma área correspondente a 158 milhões de hectares já foi inventariada; conclusão de levantamentos de dados em campo no Distrito Federal e nos estados de Santa Catarina, Sergipe, Ceará, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Rio de Janeiro.  Outros cinco estados já iniciaram as coletas de dados em campo - Rio Grande do Sul, Rondônia, Bahia, Mato Grosso, Pará, Paraná e Alagoas. Após a conclusão dos dados em âmbito nacional, espera-se que o Inventário reúna um conjunto de dados único que devem ser usados na formulação de políticas públicas e projetos de uso e conservação dos recursos florestais.

O Brasil tem recursos e força política para desenvolver modelos de produção e de preservação dos recursos naturais de forma sustentável. A FAO seguirá caminhando junto com o país para identificar os principais gargalos, seja para avançar na adoção de novas tecnologias do campo e/ou na implementação de capacitação para os agricultores, por meio do fortalecimento da assistência técnica.

*Alan Bojanic, representante da FAO no Brasil

 

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