Paraná
Avicultura: escala garante melhores resultados no PR
Levantamento de custos de produção aponta que modelos de negócio maiores resultam na sustentabilidade a médio e longo prazos aos produtores de aves
Por: Comunicação Social – Sistema FAEP/SENAR-PR
A produção de aves no Paraná tem na escala um importante aliado para a viabilidade. É o que aponta o levantamento de custos de produção do Sistema FAEP/SENAR-PR, realizado em novembro e dezembro de 2020. De modo geral, sistemas produtivos com maior capacidade de alojamento garantem sustentabilidade a médio e longo prazos para os avicultores. Já os menores, têm vivido uma situação delicada, com prejuízos quase que generalizados, quando considerada a diferença entre as receitas e os custos totais.
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Em uma avaliação do Estado como um todo, os resultados da avicultura tiveram leve melhora na comparação com os números de novembro de 2019. Na maior parte dos casos, no entanto, as melhorias não foram suficientes para garantir margens positivas aos produtores. Apesar de, com o dólar alto, as exportações terem subido de R$ 9,5 bilhões para R$ 11 bilhões (+15,8%) em 2020, o Valor Bruto de Produção (VBP) das aves ter batido recorde e a demanda interna ter se mantido aquecida, os bons resultados não tiveram repasses significativos aos valores pagos pela indústria ao produtor.
De acordo com o responsável pela metodologia do levantamento de custos, Ademir Francisco Girotto, aparentemente houve descompasso entre os resultados das empresas e os reajustes oferecidos aos produtores. “Tínhamos uma expectativa de rentabilidade em alta, em função das exportações que cresceram bastante. Esperava um resultado positivo melhor do que o que apareceu. Em regra geral, o resultado cobriu os ‘Custos Variáveis’ e no máximo o ‘Custo Operacional’. Quanto menor o aviário, o resultado foi mais complicado”, apontou o economista.
Outro ponto que chamou a atenção do especialista, que realiza esse mesmo estudo há décadas, foi a constatação de que durante a pandemia, com suas instabilidades, alguns produtores tiveram aumento no intervalo entre alojamentos. “Teve região com quase 52 dias de intervalo para limpeza de aviário, enquanto em outros foram de 30 dias. Esse dado variou bastante, o que interfere no volume de lotes por ano, com reflexo direto na rentabilidade do produtor”, revelou.
Mariana Assolari, técnica do Sistema FAEP/SENAR-PR, diz que após acompanhar as rodadas de coleta de dados e sistematização dos números teve a impressão de que as mudanças constatadas, na média, foram pouco significativas. “Se analisarmos o contexto geral, não tivemos diferença significativa na atividade agropecuária. Algumas regiões registraram leves aumentos nos repasses, mas também altas nos seus custos de produção. Podemos dizer que foi um ano meio quieto, atípico, com um dos maiores destaques para o fato de, mesmo com todas as dificuldades, a produção não ter sido paralisada”, sintetiza.
Reajustes
O avicultor de Cianorte, no Noroeste do Paraná, Diener Santana produz frango pesado, com três aviários, capazes de alojar 50 mil aves de uma única vez. Apesar de nos últimos anos ter ampliado o número de barracões gradativamente, de tempos para cá ele reclama que tem ficado difícil de pagar as contas. Ele chegou ao ponto de ter que vender um pedaço de terra para pagar uma parcela de um financiamento que fez para construir o terceiro barracão.
“Gastamos, fizemos o investimento com expectativa de retorno, que não veio da forma como esperávamos. Além disso, tivemos a questão da subida do custo da energia elétrica. De cinco anos para cá, gastávamos em torno de R$ 3 mil por mês em eletricidade e isso pulou para patamares de R$ 6 mil a R$ 7 mil”, compartilha.
Esse cenário de custos de produção maiores do que os reajustes repassados pelas indústrias, para Santana, tem freado os investimentos dos produtores de aves. “Durante um bom período houve uma remuneração satisfatória à produção. Mas, desde 2018, houve uma alteração muito brusca na cadeia produtiva. Hoje, para mim, não há perspectiva de ampliação e grandes investimentos”, reclama.
Em Chopinzinho, no Sudoeste do Paraná, Juliana Jackoski Miglioranza, presidente da associação de avicultores do município, vai na mesma linha. Produtora de frango griller (leve), ela produz, junto à família, cerca de 4 milhões de aves por ano. “A avicultura se apresenta numa situação bem delicada, trabalhando no vermelho com prejuízos generalizados, infelizmente. Não recebemos reajustes significativos, apesar de as integradoras estarem vendendo a um dólar super alto lá fora e com uma demanda alta internamente”, diagnostica.
Na região, de acordo com Juliana, os produtores tiveram impactos diretos também do maior intervalo entre lotes dos frangos. “Além de menos lotes, houve diminuição da densidade (quantidade de frangos alojados). Isso prejudica porque os custos continuam quase iguais e a gente deixa de faturar. Mesmo assim, nós não paramos, mesmo com todo aquele medo do que poderia ocorrer se houvesse colapso nas integradoras por conta da Covid-19. Continuamos muito fortes, determinados em continuar a produção. Mas posso dizer que foi um ano muito complicado”, avalia.
No Norte Pioneiro, em Jacarezinho, Hamilton Junior Camargo tem aviários com capacidade para 74 mil frangos. O produtor acompanha seus custos na ponta do lápis e vê a viabilidade da avicultura com cautela. “Mão de obra está complicado, energia elétrica e a manutenção dos aviários também. Nesses últimos seis meses, itens da parte elétrica, os derivados de ferro, tudo o que vai para substituir. Novos investimentos precisam ser bem avaliados, porque a situação é crítica”, aconselha.
Camargo bate na tecla de que os avicultores paranaenses precisam investir tempo no controle efetivo dos custos, para conhecer o terreno onde se está pisando. “Quero enfatizar essa questão de que precisamos fazer a conta de quanto ganhamos no ano inteiro e comparar com o ano anterior. É fundamental termos esses valores em um plano mais amplo para enxergar se houve ou não houve aumento e se o reajuste da integradora cobriu esse aumento. Sem isso, é impossível gerenciar custos de produção”, ensina.
Mão de obra
Como de costume, a mão de obra seguiu ocupando o posto de maior vilã nos custos de produção. Pegando como exemplo um aviário de 140 metros por 14 metros, em Chopinzinho, com produção de frango pesado, os gastos com obrigações trabalhistas representaram 44,54% do custo total. Em seguida aparece energia elétrica, com 14,43%, lenha/pellet com 9,19% e troca e reposição de cama 8,64%. Enquanto isso, no mesmo município, em aviários de frango griller, a participação dos custos ficou da seguinte forma: mão de obra (37,79%), energia elétrica (8,77%), lenha/pellet (19,74%) e troca e reposição de cama (8,03%).
Metodologia
A metodologia aplicada foi a mesma dos anos anteriores em relação às planilhas e fórmulas usadas nos cálculos (ver o quadro abaixo). Em reuniões em cada região, produtores levaram seus números e repassaram para o consultor da FAEP, Ademir Francisco Girotto. Depois, este compilou os números e fez as contas para chegar ao resultado final, com apoio da FAEP.
O que mudou, neste ano, foi que o levantamento foi feito à distância, via videoconferências online. Tradicionalmente, há dois estudos por ano, mas, por conta da pandemia do novo coronavírus, a rodada do início do ano foi suspensa. Assim, a comparação ficou sendo novembro de 2019 com novembro de 2020.
“As videoconferências no levantamento de custos foram uma novidade para todo mundo. Houve lugares que as conexões não ajudaram, mas deu para levantar as informações que precisávamos”, disse Girotto, que também agradeceu o empenho de todos os produtores que compareceram nos encontros digitais com dados para contribuir.
Levantar custos é garantir renda
O presidente da Comissão Técnica da Avicultura da FAEP, Carlos Bonfim, lembra que o levantamento de custos é uma ferramenta crucial para os avicultores não trabalharem no escuro. “É um instrumento muito bom para a gente avaliar o custo do dia a dia, na atividade, para ver como estão andando as coisas. Assim, temos como comparar o nosso estudo com as planilhas disponibilizadas pelas empresas integradoras. Há alguns anos estamos fazemos esse trabalho e tendo resultados em negociações de reajustes”, conta Bonfim.
O presidente da comissão lembra que em diversas ocasiões já ocorreram conquistas de melhores preços no âmbito das Comissões de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs), que contam com todo o apoio da FAEP. “Temos que saber quanto estamos gastando de lenha, energia, funcionários, manutenção e todos os itens. Com o levantamento de custos, vamos vendo as oscilações nossas, comparando com outras regiões do Estado do Paraná”, aconselha.
O fato de ser uma metodologia com tradição, puxada pelo Sistema FAEP/SENAR-PR, fornece credibilidade aos dados. “As próprias empresas já não questionam a metodologia usada. Claro que isso não quer dizer que eles paguem o que a gente levanta, mas é uma referência. Hoje, é fundamental e eu acredito que vá ser cada vez mais importante fazer esse levantamento, pois os números são muito ajustados, temos que ficar em cima para cobrar e garantir uma boa rentabilidade à atividade”, revela.
ANÁLISE
Melhoras, mas abaixo das expectativas
Por Mariana Assolari, técnica do Detec do Sistema FAEP/SENAR-PR
As projeções para a avicultura em 2020 eram com certeza mais otimistas do que realmente pudemos vivenciar, mas ainda foi possível manter uma estabilidade, o que exigiu imensos esforços e investimentos nos estabelecimentos rurais e nas plantas frigoríficas para garantir a segurança de todos os envolvidos na cadeia.
Por um lado, a exportação da carne de frango paranaense em 2020 foi maior quando comparado a 2019. Por outro, o consumo interno teve redução em consequência da pandemia por impactar fortemente o setor de food services, com fechamento de bares, restaurantes e hotéis, por exemplo, grandes consumidores desse produto e seus derivados no país e no mundo. Os resultados foram números estáveis a campo, com ligeiro aumento no alojamento e abate de frangos de corte no Paraná.
Um desafio enfrentado pela avicultura durante o ano foi a crise na oferta de insumos importantes para a alimentação animal, como os grãos e outros compostos da ração, os quais atingiram valores nunca antes alcançados. A escassez obrigou as indústrias a reformularem a ração enviada aos avicultores, o que em muitas situações resultou em má qualidade da ração e, consequentemente, comprometimento no desenvolvimento das aves e prejuízo ao produtor.
O Sistema FAEP/SENAR-PR dará continuidade a esse trabalho em 2021, apoiando o avicultor paranaense na construção de uma atividade financeiramente sustentável, lembrando que a participação dos atores da cadeia – sindicatos rurais, avicultores, representantes das agroindústrias, vendedores de equipamentos e demais instituições – é essencial para a evolução do trabalho e conquistas almejadas pelo setor produtivo.
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