Brasília (10/06/2025) – Durante o painel ‘Energia e Água para o Desenvolvimento da irrigação no Brasil’ do 3º Workshop ‘Setor Agropecuário na Gestão da Água’, especialistas destacaram a importância da aproximação e do diálogo do agro com o setor elétrico para vencer os desafios da distribuição de energia no setor rural.
O evento foi promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), na terça (10), em Brasília, e reuniu produtores rurais, presidentes de Federações estaduais de agricultura e pecuária, especialistas e representantes do setor público e privado.
O presidente da Comissão Nacional de Irrigação da CNA, David Schmidt, citou o estudo ‘Demanda Energética na Agricultura Irrigada’, lançado durante o evento, e citou a necessidade de se ter dados para identificar a disponibilidade hídrica para a irrigação.
Schmidt falou ainda da preocupação do produtor com o uso da água para garantir sua produção e defendeu o debate sobre autogestão, modelo usado em outros países onde o produtor rural gerencia o recurso natural.

“Hoje, temos números para saber o tamanho do desafio e, assim, desdobrar um plano de ação para começar a superar isso. Não será da noite para o dia, mas se a gente conseguir evoluir, 5% todo ano, eu tenho certeza de que isso vai continuar impulsionando a produção sustentável e a segurança alimentar do Brasil”, afirmou.
Giuseppe Vieira, secretário nacional de Segurança Hídrica do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MDIR), falou das ações do órgão e reforçou que existe uma cooperação técnica entre o MIDR e os ministérios de Minas e Energia e Agricultura para buscar soluções para o que ele considera o principal gargalo do setor: a expansão da energia no meio rural.
O secretário disse que é essencial discutir com as distribuidoras a inclusão das demandas da agricultura irrigada no planejamento dessas empresas. “Além, é claro, de qualificar essas demandas para que as distribuidoras busquem o agricultor para atendê-lo e garantir a segurança jurídica desse produtor.”

O secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pedro Neto, destacou o papel das entidades para criar um ambiente favorável para o produtor na expansão da irrigação.
Ele pontuou alguns entraves para isso, como as outorgas de uso da água, disponibilidade de energia e transferência de tecnologia.
“A gente tem a terra, o recurso hídrico, o marco regulatório e um grau de empreendedorismo elevadíssimo do produtor rural brasileiro, mas temos esses desafios para superar.”

Em relação ao uso sustentável da água para irrigação, Neto recomendou o reconhecimento dos polos de agricultura irrigada como ambientes próprios para apoiar o desenvolvimento da produção sustentável e sugeriu a oferta de crédito “mais atraente” para que os produtores possam investir em tecnologias de baixa emissão de carbono e em sistemas irrigados com pegada hídrica.
Na avaliação do professor Afonso Santos, da Universidade Federal de Itajubá, um dos responsáveis pela elaboração do estudo sobre a demanda energética do agro, é necessário mudar a cultura do setor elétrico para melhorar o ambiente de discussão com os demais setores.
Segundo ele, essa mudança só será possível por meio do poder público. “Temos essa força, a CNA, os sindicatos e as federações estaduais, mas não força de disputa, e sim de soluções e de convencimento.”

O professor lembra que o setor elétrico avançou muito com a Resolução Normativa n.º 1000/2021 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que estabelece as regras para a prestação do serviço público de distribuição de energia elétrica e criou uma compensação para os irrigantes.
“Hoje, quando falta energia para o irrigante, ele pode receber um dinheiro significativo, mas não sabe nem quantificar o tempo. E se isso não for devidamente registrado, não vai receber. E mesmo que ele receba energia, mas for de má qualidade ou a tensão for ruim, ele tem direito a essa compensação. E ele não sabe disso. Então existe uma distância entre a boa intenção do regulador, no caso a Aneel, com o usuário.”

Sobre a possível mudança do setor elétrico, a moderadora do painel e assessora técnica da CNA, Jordana Girardello, falou sobre a Medida Provisória n.º 1300/2025 do Governo Federal.
Audiência pública – Após o painel, a programação do workshop seguiu com uma audiência pública na Câmara dos Deputados onde foi lançado o Pacto pela Agricultura Irrigada no Brasil.