ALIMEN T AN D O O B R A SILEIRO

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Boletim
6 de abril de 2018
Agronegócio fecha 2017 com alta produção e preços em baixa, refletindo em menor renda no setor
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POR CNA

O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), registrou queda de 0,54% em dezembro. Em 2017 a baixa no PIB do agronegócio foi de 4,55% comparativamente ao ano anterior, e a participação do setor no PIB Brasileiro foi de 21,58%[1].

Conforme detalhado ao longo deste relatório, e apresentado na tabela 1, o desempenho adverso do PIB do agronegócio reflete retrações no PIB em todos os quatro segmentos que o compõe:  insumos  (-5,65%),  segmento primário  (-3,67%),  agroindústria  (-4,40)  e  agrosserviços (-5,06%). Comportamento similar foi verificado nos resultados mensais, especialmente após junho. Até maio, embora os demais segmentos já apresentassem resultados negativos, o desempenho do PIB “dentro da porteira” (segmento primário) mantinha-se em terreno positivo. De modo geral, a elevada oferta juntamente com demanda interna ainda fraca levou a significativo recuo nos preços comprometendo a renda dos agentes envolvidos no agronegócio.

Tabela 1. PIB do Agronegócio: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)

As Tabelas 2 e 3 apresentam os resultados mensais e acumulados do período desagregados por ramo (agrícola e pecuário). No ramo agrícola, como se observou na análise agregada do agronegócio, todos os segmentos apresentaram queda na renda, tanto na avaliação mensal quanto na anual (Tabela 2).

Vale destacar que, no segmento primário (“dentro da porteira”), a variação negativa da renda foi amenizada pela elevada produção de 2017. Na média ponderada dos produtos acompanhados, o aumento da produção foi de 14,00% frente a 2016, enquanto para preços, houve forte retração de 15,39%. A elevada safra, por sua vez, foi resultado das boas condições climáticas verificadas no ano para grande parte das culturas, o que permitiu que os investimentos em tecnologia no campo se refletissem em ganhos de produtividade.

Tabela 2. Ramo Agrícola: Taxas de variação mensal e acumulada no período (%)

No ramo pecuário, também se verifica redução, tanto no acumulado quanto na avaliação mensal, para todos os segmentos (Tabela 3). Como no ramo agrícola, os preços exerceram pressão significativa sobre os resultados (queda real de 8,4% comparativamente ao ano anterior, na média ponderada das atividades acompanhadas). Destaca-se que o ano de 2017 foi especialmente desafiador ao ramo pecuário, em virtude da baixa demanda interna e implicações relacionadas à operação “Carne Fraca” da Polícia Federal, que colocou em xeque o sistema de inspeção sanitário do País.

Tabela 3. Ramo Pecuário: Taxas de variação mensal e acumulada no período (%)

 

SEGMENTO DE INSUMOS: Atividades de máquinas agrícolas e medicamentos terminam o ano com alta na produção e na renda

O segmento de insumos do agronegócio recuou 5,65% em 2017, com baixa de 0,95% entre novembro e dezembro. Dentre as indústrias do segmento de insumos acompanhadas, foi observado crescimento no faturamento das atividades de máquinas agrícolas (3,79%) e medicamentos para animais (3,39%), com queda nas demais. A Figura 1 apresenta a variação anual estimada do volume, preços reais e faturamento das indústrias de insumos acompanhadas pelo Cepea para a evolução do PIB.

Figura 1. Insumos: variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2017/2016

A produção da indústria de máquinas agrícolas seguiu em alta ao longo de 2017 (4,60%). A grande safra no campo, melhorou a confiança dos produtores e culminou na realização de investimentos. Para a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) as exportações de máquinas agrícolas também impulsionaram a atividade no período. Porém, agentes do setor destacam que o bom desempenho observado em 2017 pode ser avaliado como um movimento de recuperação do mercado frente às perdas verificadas nos últimos anos, fato que justifica a não elevação real dos preços com relação a 2016.

Já na indústria de fertilizantes, apesar do aumento de 1,04% na produção, o resultado do faturamento foi pressionado por cotações mais baixas, com queda de 7,76%, em média, na comparação 2017 contra 2016. De acordo com pesquisadores da equipe Custos Agrícolas/Cepea, a pressão nos preços reais dos principais fertilizantes em 2017 esteve atrelada, principalmente, à valorização do real frente ao dólar com relação a 2016 e à grande oferta de fosfatados e potássicos no mercado internacional, conforme já destacado ao longo dos relatórios no ano. Com relação à demanda e à elevação da produção, destaca-se o efeito do aumento de área de produção de soja cultivada no ano.  

Já para os defensivos, preços e produção em baixa pressionaram os resultados. Para a queda das cotações influenciaram, além da redução cambial, os altos estoques de passagem (que se acumularam desde 2015).

SEGMENTO PRIMÁRIO: Safra recorde no campo foi destaque em 2017

A renda do segmento primário do agronegócio apresentou resultado negativo entre novembro e dezembro (-0,85%), seguindo a tendência mensal verificada desde junho de 2017 e acumulando baixa de 3,67% com relação a 2016. Em dezembro, tanto no ramo agrícola como no pecuário, os segmentos primários registraram recuos com relação a novembro, de 1,22% e 0,11%, respectivamente. No acumulado anual, os ramos agrícola e pecuário apresentaram quedas, respectivamente, de 4,50% e 1,37% (Tabelas 2 e 3). Estes resultados derivam do comportamento dos preços, volumes de produção e dos faturamentos das culturas agrícolas e atividades pecuárias em 2017, apresentados nas Figuras 2 e 3 e na Tabela 4 (e detalhados a seguir).

O segmento primário agrícola apresentou forte crescimento de produção em 2017:  14,00% na média das atividades acompanhadas. Por outro lado, os preços agrícolas seguiram na direção oposta, com retração significativa pressionando o resultado do PIB. Na comparação de 2017 comparativamente ao ano anterior, a baixa real nos preços médios do segmento foi de 15,39%. De forma similar, para o segmento primário da pecuária, os menores preços (-8,40%, em média) pressionaram os resultados, enquanto que, para a produção, houve crescimento de 4,21% no ano.

Dentre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas pelo Cepea para a evolução do PIB, verificou-se crescimento do faturamento em 2017 para: algodão, feijão, fumo em folha, mandioca, uva e lenha e carvão. Já as culturas a seguir apresentaram queda no faturamento: arroz, banana, batata, cacau, café, cana-de-açúcar, cebola, laranja, milho, soja, tomate, trigo, madeira em tora e madeira para celulose – Figura 2 e Tabela 4.

 

Figura 2. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2017/2016

Fonte: Cepea/USP e CNA (elaborado a partir de dados do IBGE, Conab, IEA/SP, FGV, Cepea, Seagri/BA, Udop).

Tabela 4. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2017/2016

Dentre as culturas que apresentaram crescimento em 2017, o algodão foi um dos destaques. O aumento do faturamento dessa cultura (+16,08%) foi resultado do aumento de 18,64% na quantidade produzida, apesar do recuo de -2,16% nos preços reais comparativamente a 2016. De acordo com a Conab, o algodão foi favorecido em 2017 por boas condições climáticas em todas as regiões produtoras, fato que, em conjunto com a utilização de elevado pacote tecnológico no cultivo, resultou em elevada produtividade média no período (alta de 20,6% comparativamente a 2016). Quanto aos preços, a equipe algodão/Cepea destaca que as exportações da pluma firmes em 2017 equilibraram, em parte, a oferta e a demanda no mercado doméstico, especialmente no segundo semestre, amortecendo a retração nos preços médios ocasionada pela elevação da oferta.

Para o feijão, o aumento no faturamento anual (+25,77%) também foi reflexo da elevação significativa da produção no ano (35,28%), já que os preços caíram 7,03%. De acordo com informações da Conab, registrou-se incremento de 12,1% de área em relação à safra passada (considerando as três safras do produto no ano), com alta na produtividade média de 20,7%, favorecida pelas boas condições climáticas registradas em várias regiões produtoras. Com relação a preços, a pressão baixista adveio da elevada oferta interna, principalmente no período após o mês de maio, quando a expectativa de uma boa terceira safra levou os preços a uma trajetória de queda.

No caso da mandioca, o aumento do faturamento em 2017 (+40,20%) foi garantido pela elevação de 43,25% nos preços comparativamente aos verificados em 2016. Segundo a equipe Mandioca/Cepea, em 2017 houve queda de -2,12% na produção devido às condições climáticas bastante desfavoráveis para a cultura e consequente redução da produtividade média. Com a baixa oferta da raiz no mercado, houve disputa pelo produto disponível nas fecularias, e, com isso, as cotações se elevaram ao longo do ano. A equipe destaca também que, na segunda metade de 2017, os produtores começaram a colher raízes mais novas, em muitos casos abaixo de 12 meses, em função das boas cotações. Porém, ainda assim, a oferta seguiu limitada.

Entre as culturas para as quais registra-se redução do faturamento, tem-se o café, cuja queda foi resultado tanto da baixa na produção (-12,46%) como nos preços (-9,32%). Destaca-se que 2017 foi ano de bienalidade negativa na maioria dos estados produtores, com recuos significativos principalmente na produção da variedade arábica. Segundo a Conab, em Minas Gerais (principal estado produtor), a quantidade produzida da variedade chegou a recuar 20,4% com relação à safra anterior. Com relação às cotações, a equipe Café/Cepea destaca que, mesmo com menor produção na temporada, os preços do arábica foram pressionados pela queda externa, principalmente nos primeiros meses do ano. No segundo semestre, os estoques razoáveis nos países consumidores e a boa expectativa quanto à próxima temporada brasileira (2018/19) influenciaram as baixas nas cotações internas e externas do arábica. Quanto ao robusta, a demanda por parte de torrefadoras para composição de blends esteve aquecida, mas os preços caíram em decorrência da maior produção interna da variedade e também das perspectivas de maiores ofertas nas temporadas 2018/19 brasileira e 2017/18 do Vietnã.

Para a cana-de-açúcar, a redução no faturamento foi resultado da queda, em 2017, tanto da produção (3,28%) como nos preços reais (0,70%). De acordo com dados da Conab, no Sudeste, a maior região produtora no Brasil, a área colhida foi inferior à da safra anterior em virtude da redução de área disponível para a colheita. Esse cenário se repetiu em todas as regiões produtoras brasileiras, com exceção do Centro-Oeste. No entanto, a Companhia destaca que, apesar da menor produção, houve aumento da produtividade média da cultura com relação à safra passada. Ainda assim, o ganho de produtividade não foi suficiente para evitar a queda de produção da cultura.

Para o trigo, a queda no faturamento deveu-se à queda na quantidade produzida, estimada em 36,62%, bem como à redução de 20,41% nos preços, verificados na comparação real anual entre 2017 e 2016. Para a equipe Grãos/Cepea, os elevados estoques de passagem, provenientes da boa safra em 2016, e as elevadas importações diante da grande oferta e preços atrativos externos, pressionaram as cotações internas, principalmente nos primeiros meses de 2017. Com relação à produção, houve redução da área de cultivo do cereal, o que, somado à menor produtividade em 2017 (devido ao clima desfavorável do plantio à colheita), reduziu em quase 1/3 a produção nacional de 2017 frente à do ano anterior, com essa retrocedendo ao volume obtido em 2007.

No caso da soja, a queda do faturamento ocorreu via menores preços (17,49%), em contraposição ao aumento significativo registrado na produção do ano (19,53%). Segundo a equipe Grãos/Cepea e dados da Conab, a temporada de 2017 foi a de maior área cultivada com soja no Brasil, e, além disso, a cultura apresentou excelente desenvolvimento, respaldado pelo comportamento do clima em praticamente todas as regiões e por investimentos tecnológicos realizados ao longo do período por parte dos produtores. No entanto, além da grande safra no Brasil, os Estados Unidos e a Argentina também apresentaram safras significativas, pressionando a relação estoque/consumo final mundial. Tal cenário, aliado à valorização do Real frente ao Dólar, resultou na queda dos preços da oleaginosa no Brasil em 2017, registrando-se os menores patamares reais desde 2011.

Quanto ao milho, a queda do faturamento justifica-se pela forte baixa dos preços em 2017, comparativamente a 2016 (40,36%). Já a produção cresceu 47,06% frente a 2016. Segundo a Conab, a alta produção veio tanto da maior área (+2,4%), quanto de produtividade (+15,5%), devido às boas condições climáticas na maioria das regiões produtoras. Já a equipe Grãos/Cepea destaca que a produção de milho foi recorde tanto no Brasil como no mundo, cenário este que pressionou as cotações domésticas. Os preços do milho iniciaram 2017 em patamares elevados (ainda reflexo da redução da oferta em 2016), mas, a entrada do cereal da primeira safra levou à queda no preço do produto. Com o acréscimo de oferta, o preço pago ao produtor chegou a ficar abaixo do mínimo governamental em algumas regiões. Nesse ambiente, houve intervenção do governo federal visando sustentar o preço ao produtor e favorecer o escoamento da produção. No segundo semestre, produtores/vendedores insatisfeitos com as quedas nas cotações postergaram ao máximo a negociações do cereal, mesmo com a colheita recorde do milho segunda safra. Este fato, em conjunto com o aumento das exportações, sustentaram os valores ao longo do segundo semestre (mas, não no nível necessário para reverter perda média anual).

Para o segmento primário da pecuária, entre as atividades acompanhadas, verificou-se alta no faturamento dos criadores de suínos e produtores de ovos, mas baixa para leite, bovinos e frango para corte, conforme Figura 3.

Figura 3. Pecuária: Variação anual estimada do volume, dos preços e do faturamento (2017 em comparação com 2016)

Na atividade leiteira, os preços recuaram 8,95%, enquanto a produção cresceu 4,09% no ano. Segundo a equipe Leite/Cepea, 2017 se iniciou com os preços do leite pagos ao produtor em alto patamar, resultado do período de baixa oferta e de alto custo de produção verificado em 2016. Os preços elevados do leite no campo, no início do ano, juntamente com os menores preços do milho e do farelo de soja, motivaram produtores a investirem na atividade e a aumentarem a produção. Tal fato resultou em aumento da oferta de matéria-prima no campo, porém, em descompasso com a demanda, que já vinha enfraquecida desde 2016 por conta da recessão econômica, ocasionando recuo significativo nas cotações.

Na bovinocultura de corte, a queda no faturamento anual é reflexo da redução nos preços reais (-12,45%), já que a produção apresentou crescimento no ano (4,27%). Segundo a equipe Boi/Cepea, o setor pecuário já esperava um ano de dificuldades em 2017, sobretudo relacionadas às vendas internas (devido à crise econômica). Os acontecimentos referentes à cadeia agroindustrial da carne bovina brasileira (relacionados à operação “Carne Fraca” da Polícia Federal, que colocou em xeque o sistema de inspeção sanitário do País), se somaram às dificuldades que já vinham sendo enfrentadas pelo setor, impactando diretamente a demanda e as cotações da arroba. Com isso, os preços do boi gordo e do bezerro caíram em boa parte do ano, com recuperação sendo verificada no último quadrimestre. Segundo pesquisadores do Cepea, esse fôlego no final do ano mostrou a capacidade de reorganização e de resposta da cadeia aos problemas enfrentados, o que pode indicar o desenvolvimento do setor. Outro contraponto foi o ganho com as exportações, que se elevaram mesmo diante da crise, acumulando bons resultados e impactando positivamente sobre o segmento primário da cadeia.

Na suinocultura, registrou-se alta de 4,52% dos preços e de 2,76% na produção. Segundo a equipe Suínos/Cepea, o setor foi beneficiado com baixos patamares dos custos de produção em 2017, principalmente em função dos preços do milho e do farelo de soja. A equipe destaca que, no lado da demanda, o mercado nacional começou a se aquecer na segunda metade de 2017, e essa esteve bem ajustada à oferta de animais, carcaças e cortes nas principais regiões produtoras. Tal contexto garantiu a sustentação dos preços em 2017.

Com relação à avicultura de corte, os preços apresentaram queda de -14,10% e a quantidade produzida elevação de +2,79% em 2017. De acordo com a equipe Frango/Cepea, os preços domésticos acumularam quedas mensais quase que consecutivas. Esse cenário baixista foi atrelado à maior disponibilidade interna da carne, uma vez que a produção nacional cresceu no ano, enquanto o volume exportado foi menor. O alento ao setor avícola veio das significativas reduções nos preços dos ingredientes da ração (como o milho e o farelo de soja), principal insumo para a produção de frangos de corte, especialmente em um período em que a energia elétrica encareceu fortemente.

 

SEGMENTO INDUSTRIAL: Agroindústria expande produção em 2017, mas preços pressionam a renda

 

O segmento industrial voltou a apresentar retração em dezembro (-0,29%), encerrando 2017 com baixa de -4,40% na comparação com 2016 (Tabela 1). Tanto a indústria de base agrícola quanto pecuária apresentaram quedas no mês, de 0,33% e 0,15%, respectivamente. No acumulado anual, os resultados também foram de quedas, para ambos os ramos (Tabelas 2 e 3)

A queda de -2,41% no faturamento da indústria agrícola em 2017 resultou do recuo de -5,29% nos preços reais do segmento. Tal queda de preço, por sua vez, foi reflexo do crescimento de 3,04% da produção média das indústrias acompanhadas. No caso da indústria de base animal, o recuo de 3,71% no faturamento também decorreu de preços 6,23% menores, já que a produção expandiu 2,69%.

No acompanhamento feito pelo Cepea para a evolução do PIB, as indústrias de base agrícola que tiveram destaque com crescimento do faturamento no ano foram: conservas de frutas e outros, café, fumo, móveis de madeira e produtos de madeira, têxteis e vestuário (de base natural), bebidas, celulose e papel e outros produtos alimentares. As demais indústrias acompanhadas tiveram queda no faturamento. O comportamento das indústrias agrícolas analisadas com dados até dezembro/2017 é apresentado na Figura 4.

Figura 4. Agroindústrias de base agrícola: variação anual estimada do volume, preços reais e faturamento das indústrias agrícolas acompanhadas – Ano de 2017 comparado a 2016

A indústria de biocombustíveis (etanol) apresentou redução de 14,71% no faturamento em 2017, com relação ao ano anterior. Tal resultado foi puxado pelas quedas em preços (-12,31%) e na quantidade produzida (-2,73%). Segundo a Equipe Etanol/Cepea, neste ano os representantes de distribuidoras aproveitaram a janela de venda para o biocombustível, visto que o preço relativo etanol/gasolina, considerando-se a diferença de rendimento entre os dois combustíveis, favorecia o consumo do renovável. Isso ocorreu na maior parte dos estados produtores deste combustível. Porém, mesmo com a forte demanda pelos biocombustíveis, que, inclusive, resultou em alta nos preços nos últimos meses de 2017, as médias dos valores dos etanóis anidro e hidratado avaliadas para o ano todo ficaram significativamente abaixo das verificadas no mesmo período da temporada anterior.

Na indústria açucareira, os preços recuaram 16,23%, na comparação entre os anos de 2017 e 2016, ao passo que a produção aumentou 1,99%. Este resultado proporcionou uma variação negativa no faturamento de 14,57%. De acordo com pesquisadores da equipe Açúcar/Cepea, o clima favorável à colheita na safra 17/18 acelerou a produção de açúcar nas usinas, aumentando a oferta do produto no mercado. Este cenário influenciou a queda registrada nos preços. Cabe destacar que no ano de 2016 os preços do açúcar estavam em patamar bastante elevado, devido ao déficit do produto no mercado internacional. Portanto, a queda verificada neste ano para o produto também corresponde a um reequilíbrio das cotações na atividade.

Para a agroindústria de óleos vegetais, o resultado negativo no faturamento (-8,89%) se deu em virtude de uma queda registrada nos preços no ano (-15,17%), já que a produção teve aumento de 7,40%. De acordo com levantamento realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), a crescente produção de óleo de soja ao longo de 2017 contribuiu para a elevação significativa nos estoques do produto e, como consequência, gerou impactos negativos sobre os preços.

Na indústria Têxtil, a variação positiva no faturamento anual foi impulsionada pelo aumento de 5,70% na produção, com modesta redução nos preços reais (-0,04%) em 2017. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), o setor apresentou crescimento a partir do segundo semestre, como efeito da leve recuperação do consumo no mercado interno e da taxa de câmbio ainda favorável à atividade.

Com relação à agroindústria de Celulose e Papel, os aumentos da produção (1,14%) e dos preços reais (0,44%) sustentaram a variação positiva no faturamento do ano (1,57%). A retomada do crescimento brasileiro e o avanço da economia global têm ajudado a indústria papeleira, que vinha acumulando quedas nos anos anteriores.

Com relação às indústrias pecuárias, os dados para 2017 são apresentados na Tabela 5. É possível observar que, para todas as indústrias acompanhadas, o faturamento no ano caiu. Como já apontado, esse resultado decorreu principalmente do movimento desfavorável dos preços.  

Na indústria do abate, a queda no faturamento anual (-2,64%) foi resultado da redução nos preços (-6,19%) apesar da elevação de 3,78% na produção. Segundo a equipe Boi/Cepea, os dados de 2017 foram prejudicados pela operação “Carne Fraca”, com impacto direto sobre os preços da carne bovina cuja modesta recuperação esteve restrita ao último quadrimestre do ano. Apesar da crise no mercado interno, as exportações aumentaram e o Brasil exportou 1,21 milhão de toneladas de carne bovina, quarto melhor resultado da história.

No mercado de suínos, a equipe Suínos/Cepea destaca a recuperação do mercado interno na segunda metade do ano, quando a procura no mercado nacional de carnes se elevou e a atividade esteve bem ajustada à oferta. Esse cenário acabou sustentando os preços da carne ao longo do segundo semestre. Mas, a atividade também foi adversamente impactada pela operação Carne Fraca e, mais recentemente, pelo embargo russo à carne suína. De maneira geral, esses fatores impactaram as exportações, que não atingiram desempenho tão satisfatório em 2017.

No caso da carne de aves, segundo a equipe Aves/Cepea, a maior disponibilidade interna, com o aumento da produção nacional e a redução do volume exportado, pressionou os preços durante o ano. Tal fato acabou limitando a receita do setor.

Para a indústria de lácteos, a quantidade produzida fechou o ano com leve aumento de 0,60%, mas houve queda de 7,45% nos preços. Segundo a equipe Leite/Cepea, o ano de 2017 foi caracterizado por recorrentes desequilíbrios entre oferta e demanda do produto, e as fragilidades da cadeia láctea se ressaltaram. A demanda enfraquecida pelos produtos lácteos elevou os estoques e a competitividade entre as indústrias, impactando diretamente as cotações dos produtos.

Tabela 5. Variação anual estimada do volume, preços reais e faturamento das indústrias pecuárias acompanhas

SEGMENTO DE SERVIÇOS:  reflexo do desempenho dos outros segmentos a montante, serviços fecham o ano em queda

Como observado na Tabela 1, os agrosserviços  também  recuaram  em  dezembro  (-0,49%), fechando 2017 com queda de 5,06% - refletindo as baixas observadas nos demais segmentos do agronegócio. Esse desempenho negativo, em 2017, do segmento dos agrosserviços ocorreu tanto no ramo pecuário (-1,81%) quanto no ramo agrícola, onde a queda foi de- 6,65%.

CONCLUSÕES

O crescimento de 1% do PIB brasileiro em 2017 marcou o início da recuperação da economia brasileira depois da queda acumulada de mais de 7% nos dois anos anteriores. Paralelamente, a atividade no campo mostrava um vigor único: em 2017 o PIB da agropecuária cresceu 13%, e os PIBs volume da Agropecuária e do Agronegócio – indicadores também calculados pelo CEPEA/CNA e comparáveis ao PIB calculado pelo IBGE – expandiram, respectivamente +17,61% e 7,64%. O PIB volume do Agronegócio revela ainda que a expansão no setor se deu em todos os segmentos que o compõe. Além da agropecuária, a expansão no PIB volume dos insumos foi de +0,54%, no da agroindústria +2,86%, e no dos agrosserviços de +5,85%. Ver Tabela A3 – Anexo I.

Apesar dessa pujança do agronegócio brasileiro, a renda dos agentes envolvidos no agronegócio sofreu retração de -4,55% em 2017. Considerando os dados disponíveis até dezembro/2017, o presente boletim revela também que essa queda de renda ocorreu em todos os segmentos que compõem o agronegócio: nos insumos a retração do PIB renda foi de -5,65%; no segmento primário, ou “dentro da porteira” foi de -3,67%; na agroindústria foi de -4,4%; e nos agrosserviços de -5,06%. Ver Tabela A4 – Anexo I.

Esse descompasso entre o excepcional desempenho em termos de volume produzido “dentro da porteira” e a renda obtida com a produção é resultado de uma combinação de fatores que culminou na menor remuneração aos agentes envolvidos no agronegócio. A oferta recorde pressionou os preços no mercado doméstico e garantiu a menor taxa de inflação (IPCA) desde 1998.

Contribuíram nessa direção, outros fatores como: preços internacionais historicamente baixos, taxa real de câmbio apreciada, e demanda doméstica ainda fraca no contexto da lenta recuperação da atividade econômica brasileira.

Em linhas gerais, houve uma significativa transferência de renda do produtor rural para toda a sociedade brasileira. Isso se deu diretamente, via queda de -4,85% nos preços dos “alimentos no domicílio”, e indiretamente via queda da SELIC e via manutenção da taxa de câmbio a R$3,30 por Dólar. Enquanto a estabilidade cambial a nível apreciado garante poder de compra aos brasileiros que demandam produtos estrangeiros ou com componentes estrangeiros; a queda da SELIC – que passou de 13%a.a. em janeiro/2017 para 7%a.a em dezembro do mesmo ano – abre espaço ao barateamento do crédito, para consumo e para investimento, a toda a sociedade brasileira e ao próprio governo cujo custo de rolagem da dívida diminui significativamente.

No momento em que se iniciam as discussões sobre o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) para a safra 2018/19 esse tema assume importância ainda maior pois determinará em que medida o agronegócio – que foi ator determinante para a queda da SELIC, para as estabilidades da inflação e da taxa de câmbio – terá acesso a juros reais mais baixos beneficiando-se, ao menos em parte, dos ganhos que ele próprio viabilizou.

ANEXO I – TABELAS, METODOLOGIA e DADOS DE PIB-VOLUME

A1) PIB do Agronegócio: Taxas de variação mensal, acumulado do período e anual (em %)

A2) PIB do Agronegócio: Participações dos segmentos (em %)

A3) PIB Volume do Agronegócio: Taxa anual (em %)*

Nota técnica: O PIB Volume do Agronegócio trata-se do PIB do agronegócio calculado pelo critério de preços constantes. Resulta, portanto, a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

A4) PARTICIPAÇÃO DO PIB do Agronegócio NO PIB BRASILEIRO (EM %)

A5) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA

O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.

Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).

Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor. 

Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:

PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.

PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).

Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx                                                                                                                                                              

[1] Desde janeiro/2017 o CEPEA, em parceria com a CNA, considera na metodologia do PIB do Agronegócio a nova matriz insumo produto (MIP), divulgada pelo IBGE em 2014. Essa incorporação resultou no recálculo dos coeficientes de participação do agronegócio e, consequentemente, na divulgação de uma nova série temporal da participação do PIB do Agronegócio no PIB Brasileiro (ver anexo I, A4).

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