Publicações
PIB do Agronegócio cresce em março e acumula alta de 3,3% no primeiro trimestre
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cresceu novamente em março, 0,94%. Com isso, no acumulado do primeiro trimestre, a alta foi de 3,3% (Tabela 1).
Tanto no mês quanto no acumulado do trimestre, houve crescimento do PIB para todos os segmentos do agronegócio. Em março, as altas foram de 1,94% para o segmento primário, 0,99% para os agrosserviços, 0,67% para os insumos e 0,11% para a agroindústria (Tabela 1). No acumulado do trimestre, as altas foram de 5,85% no segmento primário, 3,53% nos agrosserviços, 0,43% nos insumos e 1,41% na agroindústria.
O PIB cresceu tanto no ramo agrícola quanto no pecuário, com destaque para o último. O ramo agrícola cresceu 0,39% em março e 1,91% no trimestre e o ramo pecuário cresceu 2,04% no mês e 6,11% no acumulado dos três primeiros meses de 2020. (Tabela 2 e Tabela 3).
Tabela 1. PIB do Agronegócio: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)
A Tabela 2 mostra os resultados do ramo agrícola. No mês, a alta foi reflexo dos desempenhos dos segmentos primário (2,18%), de insumos (0,7%) e de agrosserviços (0,13%), enquanto a agroindústria de base agrícola recuou (-0,5%). No acumulado do trimestre, a agroindústria se manteve praticamente estável (0,03%) e os demais segmentos tiveram alta: 0,47% para insumos, 1,33% para agrosserviços e expressivos 6,43% para o primário.
Tabela 2. Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)
O excelente resultado do segmento primário agrícola reflete os preços maiores na comparação entre os primeiros trimestres de 2019 e de 2020 e, também, a expectativa de maior produção na safra atual. Quanto aos preços, se destacam com altas importantes na comparação trimestral: café, arroz, milho, soja e trigo, além de alguns hortifrutícolas, como banana e tomate. Quanto à produção, as expectativas são muito positivas para produtos importantes no PIB, como café, soja, milho, algodão, laranja, entre outros.
A Tabela 3 mostra os resultados do ramo pecuário. Nota-se que, tanto em março quanto no acumulado, houve alta para todos os segmentos. No mês, os crescimentos foram: insumos (0,59%), primário (1,58%), agroindústria (2,02%) e agrosserviços (2,49%). No trimestre, as elevações foram: insumos (0,34%), primário ou “dentro da porteira” (4,97%), agroindústria (5,94%) e agrosserviços (7,49%).
Tabela 3. Ramo Pecuário: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)
O forte crescimento do ramo pecuário reflete os maiores preços dos diversos produtos no primeiro trimestre de 2020, frente ao mesmo trimestre de 2019. Esse comportamento dos preços decorre, primeiramente, de um efeito inercial que vem de 2019 e, também, do mercado aquecido para as proteínas no início de 2020. A inércia decorre tanto da elevação dos preços das carnes suína e bovina - resultado da demanda aquecida no mercado externo em decorrência da Peste Suína Africana (PSA) – como do reflexo dessa elevação nos preços das proteínas substitutas, como a carne de frango e os ovos.
Esse relatório, que considera nos cálculos do PIB as previsões mais recentes para as safras agrícolas e as informações de preços e produção observados até março de 2020, já capta os primeiros efeitos da chegada do Coronavírus no Brasil. Em geral, no mês de março, a pandemia gerou um comportamento altista nos preços de diversos produtos agropecuários. Além do seu impacto via efeito de desvalorização cambial, a possibilidade de isolamento social, naquele momento, causou picos de demanda que impulsionaram os preços do arroz, da banana, do café e dos ovos, por exemplo.
SEGMENTO DE INSUMOS: insumos crescem em março
O PIB do segmento de insumos do agronegócio cresceu 0,67% em março, acumulando alta de 0,43% no trimestre (Tabela 1). Para os insumos agrícolas, as altas foram de 0,7% no mês e 0,47% no período, e para os insumos pecuários, foram de 0,59% em março e 0,34% no trimestre (Tabela 2 e Tabela 3). Conforme se observa na Figura 1, que mostra as variações anuais esperadas de volume, de preços e de faturamento, os faturamentos esperados estão menores para as indústrias de máquinas agrícolas e medicamentos para animais e maiores para as indústrias de fertilizantes, defensivos e rações.
Figura 1. Insumos: variação (%) anual de volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de março
Para a indústria de fertilizantes e corretivos de solo espera-se aumento de 14,46% da produção em 2020. Já os preços reais recuaram 10,45%, na comparação entre o primeiro trimestre de 2020 frente ao primeiro trimestre de 2019. Com isso, espera-se que o faturamento anual da indústria cresça 2,50%. De acordo com a equipe Custos/Cepea, nos primeiros meses desse ano foram registradas altas consecutivas nos preços de fertilizantes diante da redução da oferta proveniente das fábricas, que vinham operando com margens negativas. Contudo, esses aumentos não foram suficientes para superar os patamares praticados em 2019. A redução de preços na comparação entre períodos seria maior, se não fosse a desvalorização expressiva do Real frente ao Dólar.
Para os defensivos, tem-se projeção de crescimento do faturamento anual de 5,58%, impulsionado pelo avanço de 8,29% dos preços desses produtos, na comparação entre janeiro a março de 2020 frente ao mesmo período de 2019, dada a redução de 2,50% da produção esperada para o ano. O aumento dos preços dos produtos reflete a dinâmica no Centro-Oeste, onde os valores dos principais defensivos tiveram altas consideráveis, apesar do recuo na Região Sul.
Para a indústria de máquinas agrícolas, a projeção de faturamento anual é de queda de 5,56%, resultante da redução esperada de 3,30% da produção anual aliada ao recuo de 2,34% dos preços, na comparação entre trimestres. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas Equipamentos (Abimaq) apontou que o setor pode ser prejudicado pela pandemia da Covid-19 Além da redução da capacidade de produção, que variou de acordo com o tamanho das fábricas, o recuo da demanda por açúcar, biocombustíveis e vestuários por parte dos consumidores pode afetar a produção de cana-de-açúcar e algodão e, consequentemente, a demanda por máquinas e implementos agrícolas.
SEGMENTO PRIMÁRIO: agropecuária se destaca novamente em março
O PIB do segmento primário do agronegócio cresceu novamente em março, 1,94%, acumulando assim crescimento de 5,85% no primeiro trimestre do ano (Tabela 1). Para o primário agrícola, as altas foram de 2,18% no mês e 6,43% no trimestre, e para o primário pecuário, foram de 1,58% em março e 4,97% no trimestre (Tabelas 2 e 3).
No caso do primário agrícola, considerando a média ponderada das diversas culturas acompanhadas, espera-se aumento de 2,6% na produção, com crescimentos para produtos importantes no PIB como café, soja, milho, algodão, laranja, entre outros. No caso dos preços, também considerando uma média ponderada, o aumento real foi de 10,34% na comparação entre os primeiros trimestres de 2019 e de 2020 – com destaque para as altas importantes para café, arroz, milho, soja e trigo, além de alguns hortifrutícolas, como banana e tomate. Então, o crescimento esperado no faturamento anual é de 13,20% para o segmento primário agrícola.
Para o segmento primário pecuário, considerando a média das atividades acompanhadas, houve alta de 16,05% nos preços na comparação trimestral, com valorizações para todos os produtos exceto o leite. Já para a produção, houve redução média de 1,4% na mesma comparação, resultado da queda observada para bovinos de corte. Então, como reflexo dos bons preços, espera-se crescimento do faturamento anual, de 14,42%.
As Figuras 2 e 3 e a Tabela 4 detalham os resultados específicos do segmento por atividades agrícolas e pecuárias. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas, espera-se crescimento de faturamento em 2020 para: arroz, banana, cacau, café, cana-de-açúcar, mandioca, milho, soja, tomate e trigo. Já as culturas para as quais se esperam quedas no faturamento são: algodão, batata, feijão, fumo, laranja, uva, madeira em tora, madeira para celulose e lenha e carvão.
As culturas de arroz, cacau, café, milho, soja e trigo apresentam expectativas positivas como reflexo da expansão tanto na produção anual esperada quanto nos preços reais. Já para as culturas de cana-de-açúcar, banana, mandioca e tomate, o crescimento no faturamento esperado é reflexo exclusivamente dos maiores preços na comparação entre os primeiros trimestres de 2019 e 2020, visto que se espera uma menor produção anual.
Na cultura do café, o aumento esperado no faturamento é de 45,60%, impulsionado pela produção anual esperada 20,84% maior e pela alta de 20,49% nos preços reais, na comparação entre janeiro a março de 2019 e de 2020. Segundo a Conab, a maior produção decorre dos ganhos produtivos esperados para o café conilon, devido às boas condições climáticas nas regiões produtoras da variedade, e da influência da bienalidade positiva em quase todas as regiões produtoras, em especial as de café arábica. Com relação aos preços, a alta no trimestre refletiu o período de entressafra e a oferta restrita de cafés finos da safra 2019-2020, a desvalorização cambial e os impactos da pandemia do coronavírus na cadeia do café. Com a Covid-19, houve aumento da demanda internacional no curto prazo (devido às estocagens de produtos), além de problemas de logística decorrentes das restrições de mobilidade interna nos países produtores e, também, aceleração do consumo dos estoques de passagem nos países consumidores.
Para o milho, o maior faturamento esperado (37,30%) reflete a alta de 34,18% nos preços, na comparação entre períodos, e o crescimento de 2,32% esperado para a produção anual. Quanto à produção, segundo a Conab, o aumento decorre do maior volume esperado na segunda safra, visto que houve queda na primeira. Este aumento está atrelado à maior área destinada à cultura, uma vez que se projeta uma redução na produtividade. A elevação nos preços esteve relacionada à maior demanda pelo grão e à retração na oferta. Mesmo com a aproximação do fim da colheita da safra verão, muitos produtores preferiram negociar a soja ao invés do milho. Este cenário, somado à disponibilidade restrita (maior produção, mas com menores estoques), fez com que os preços atingissem os maiores patamares nominais da série histórica do Cepea.
No caso da soja, a elevação dos preços, na comparação entre janeiro a março de 2019 e de 2020 (10,55%), e da produção do ano (4,61%), explicam a projeção de crescimento do faturamento (15,64%). O aumento dos preços no primeiro trimestre do ano refletiu um movimento geral de elevação das cotações do produto que ocorre principalmente desde o segundo semestre de 2019, resultado das condições climáticas adversas que afetaram o cinturão agrícola dos Estados Unidos, da desvalorização do Real frente ao Dólar, do clima desfavorável ao semeio no Brasil naquele período e do baixo excedente da soja brasileira. Especificamente em março, mesmo com o fim da colheita em muitas regiões produtoras, a disputa entre compradores domésticos e internacionais impulsionou as cotações no País. A desvalorização cambial e as ações restritivas nos portos da Argentina em meio à pandemia favoreceram as vendas brasileiras – com dificuldades em adquirir produtos de outros países da América do Sul e atentos ao menor preço e volume abundante no Brasil, novos compradores internacionais direcionaram suas aquisições ao mercado brasileiro. De acordo com a Conab, a produção de soja foi recorde, reflexo da expansão da área destinada à cultura (2,7%) e dos ganhos produtivos (1,9%).
Para a cultura do arroz, o maior faturamento esperado (24,87%) reflete as altas nas cotações do produto na comparação entre períodos (19,38%) e na produção esperada para o ano (4,20%). Com relação aos preços, a equipe Arroz/Cepea evidencia que, mesmo tendo em vista a queda do consumo interno brasileiro, as condições de oferta e demanda do produto no País sinalizavam para a menor disponibilidade interna do grão. Em março, as cotações foram impulsionadas pela desvalorização do Real frente ao Dólar, pela restrição por parte dos vendedores e pela postura mais ativa dos agentes que, devido à pandemia do coronavírus, anteciparam suas compras com o intuito de atender à demanda dos setores varejistas e supermercadistas. Segundo a Conab, a maior produção esperada está relacionada aos ganhos produtivos (7,2%), visto que se espera menor área destinada à cultura (-2,8%), especialmente do arroz irrigado (-4,7%) – responsável por mais de 75% da produção nacional. Esta redução está relacionada à baixa rentabilidade da cultura nos últimos anos, levando produtores a migrarem para culturas mais rentáveis.
No caso do trigo, o maior faturamento anual esperado (10,54%) é reflexo da expansão tanto na produção anual esperada (5,40%) quanto nos preços reais (4,88%) na comparação entre períodos. De acordo com a Conab, o crescimento da produção está relacionado com as expectativas de maior área destinada à cultura (2,4%) e maior produtividade (3,0%). A equipe Trigo/Cepea aponta que as cotações estavam em movimento de alta desde outubro de 2019, influenciadas pela desvalorização do Real frente ao Dólar, por dificuldades na importação, pela baixa oferta no mercado doméstico e, mais recentemente, pela firme demanda interna.
Figura 2. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de março
Para a cana-de-açúcar, a expansão esperada no faturamento (4,99%) é reflexo apenas da alta nos preços reais, de 6,99% na comparação entre janeiro a março de 2020 frente ao mesmo período de 2019, uma vez que se espera ligeira redução de 1,87% na produção. De acordo com a Conab, a queda na produção advém da projeção de menor produtividade da cana para esta safra e da diminuição da área destinada à cultura, especialmente na região Sudeste, principal região produtora.
Para a mandioca, a expansão de 5,40% esperada no faturamento é resultado do aumento de 6,66% nos preços reais na comparação entre períodos, uma vez que se projeta leve queda da produção, de 1,18%. Como evidenciado no relatório anterior, os preços das raízes registraram altas na comparação entre períodos, apesar do crescimento da oferta no primeiro bimestre do ano. Especificamente em março, segundo a equipe Mandioca/Cepea, a alta nos preços foi atribuída à oferta abaixo da expectativa, visto que havia poucas lavouras disponíveis para colheita.
No caso do tomate e da banana, os incrementos esperados no faturamento são decorrentes de maiores preços reais, visto que se projeta menor produção para as culturas. Para o tomate, as elevações no faturamento e nos preços são de 5,39% e 10,69%, respectivamente. Para a produção, espera-se uma redução de 4,79%. Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, a elevação dos preços refletiu o menor volume ofertado no mês de janeiro (em decorrência da maturação acelerada que ocorreu desde outubro de 2019 devido ao forte calor) e a desaceleração da colheita da safra verão em março.
Tabela 4. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de março
No caso da banana, o aumento esperado do faturamento é de 3,72%, via preços 7,78% maiores na comparação entre períodos e queda de 3,77% esperada na produção. Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, a partir do mês de fevereiro as cotações da variedade nanica iniciaram movimento de recuperação devido à menor oferta e ao aumento gradativo da demanda, com o fim das férias escolares, o alagamento na Ceagesp (que prejudicou o comércio) e o carnaval. Esses fatores, aliados ao ritmo limitado da colheita no mês de março, favoreceram o cenário de alta. A equipe ainda destaca que, apesar da menor demanda escolar e da paralisação devido à pandemia, as redes varejistas se mantiveram ativas no período, com o intuito de abastecer o estoque, mantendo o ritmo dos negócios.
Entre as culturas para as quais se projetam quedas no faturamento, tem-se o algodão. Para a cultura, a queda esperada é de 4,85%, reflexo dos preços reais 8,14% menores, visto que se projeta maior produção anual, ou alta de 3,58%. Segundo a Conab, o aumento da produção (que deverá ser recorde) está relacionado ao aumento da produtividade e da área destinada à cultura (principalmente no Mato Grosso e na Bahia). Segundo a Companhia, os ganhos produtivos esperados estão relacionados às condições climáticas, que continuam favoráveis ao desenvolvimento da cultura nas principais regiões produtoras, e aos grandes investimentos feitos no setor. Com relação aos preços, apesar de estarem menores frente ao primeiro trimestre de 2019, apresentaram altas mensais ao longo desse ano. A equipe Algodão/Cepea destaca que esse comportamento refletiu a posição firme da maior parte dos vendedores, a desvalorização do Real frente ao Dólar (favorecendo a exportação e diminuindo a disponibilidade interna) e à demanda aquecida. Em março, as cotações foram pressionadas para baixo pela redução da demanda, já afetada pelas ações que buscavam a redução da disseminação da Covid-19.
Para a batata, o menor faturamento anual esperado (-48,57%) reflete tanto os menores preços reais (-47,45%), na comparação entre períodos, quanto a menor produção esperada para o ano (-2,12%). Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, no fim de fevereiro e em março, os preços foram impulsionados por condições climáticas adversas que afetaram a produtividade e a qualidade dos tubérculos, pelo fim da safra das águas e pela demanda aquecida na terceira semana de março – influenciada pela pandemia do coronavírus. Ainda assim, os valores se mantiveram bem inferiores aos praticados nos mesmos meses de 2019.
Para a laranja, a redução do faturamento anual esperado (-5,60%) é resultado dos menores preços reais (-9,57%) na comparação entre os primeiros trimestres de 2019 e de 2020. Já para a produção, espera-se incremento de 4,38%. Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, apesar de os preços estarem em menores patamares relativamente a 2019, permaneceram firmes no primeiro trimestre de 2020, devido à menor oferta da fruta nesse período de entressafra.
A Figura 3 exibe o comportamento do segmento primário da pecuária. No primeiro trimestre de 2020, com exceção do preço do leite, que registrou queda, todas as demais atividades registraram aumento de preços reais na comparação com o mesmo período de 2019, com destaque para as carnes suína e bovina e os ovos. O alto patamar de preços de carnes refletiu, ainda, o aumento da demanda asiática ao longo de 2019 por carnes brasileiras, em decorrência da Peste Suína Africana (PSA).
Figura 3. Pecuária: Variação anual dos preços e do faturamento 2020/2019 com informações de março
Para a bovinocultura de corte, espera-se crescimento de 12,79% do faturamento anual, como resposta ao avanço de 23,73% dos preços na comparação entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período de 2019. Para a produção, por sua vez, se projeta queda de 8,84% em relação ao ano passado. Os preços do boi gordo apresentaram crescimento ao longo do trimestre, após queda em janeiro, e os patamares permaneceram consideravelmente acima dos experimentados no mesmo período de 2019. Isso pode ser atribuído à: (i) forte elevação de preços ao longo do ano passado, em virtude do crescimento contundente da demanda respondente à PSA; (ii) persistente baixa oferta de animais para abate, devido ao crescente abate de fêmeas em anos recentes; e (iii) manutenção da demanda internacional.
Para a avicultura de corte, projeta-se crescimento de 8,07% do faturamento anual. Os preços de aves, na comparação entre períodos, avançaram 3,35%, enquanto a produção deverá crescer 4,57% em 2020. De acordo com a equipe Frango/Cepea, especificamente em março, o mercado de frangos registrou fortes demandas externas e domésticas pela carne frente à pandemia da Covid-19, o que favoreceu o aumento dos preços ao produtor. Além desse fator, o aumento dos preços do milho e do farelo de soja fez com que os avicultores reajustassem as cotações do frango vivo.
Dentre as atividades do segmento primário da pecuária, a suinocultura de corte é a que registra o maior crescimento esperado para o faturamento anual da atividade (50,07%). Tal expectativa deve-se ao aumento considerável dos preços no acumulado do ano (39,45%), na comparação com o mesmo período de 2019, além do aumento da produção esperada para 2020 (7,61%). A carne suína foi fortemente beneficiada pelo aumento expressivo da demanda internacional, em especial, dos países assolados pela PSA. Dessa forma, o comportamento inercial dos preços faz com que os patamares observados estejam bem acima daqueles registrados no mesmo período de 2019, em todos os elos da cadeia. Todavia, conforme a equipe Suíno/Cepea, o acompanhamento mensal da atividade tem registrado redução da liquidez no setor, o que se deve à redução da demanda doméstica em 2020.
A produção de leite é a única atividade cujo faturamento anual esperado apresenta queda (-8,55%), especialmente em virtude do recuo dos preços (-9,91%) na comparação entre períodos. Apesar de estarem em patamares abaixo dos observados no mesmo período do ano passado, os preços do leite apresentaram crescimento contínuo ao longo do primeiro trimestre desse ano. A sustentação dos preços ao produtor, conforme equipe Leite/Cepea, se deveu à disputa das indústrias para assegurar a compra do leite no campo, haja vista a sua baixa oferta. A menor disponibilidade de leite, por sua vez, esteve atrelada às instabilidades climáticas e às variações nos regimes de chuvas, como a prolongada estiagem presenciada na região Sul do País, que reduziu a disponibilidade de pastagens e causou estresse calórico nas vacas leiteiras.
SEGMENTO INDUSTRIAL: Agroindústria fica praticamente estável em março
O PIB da agroindústria ficou praticamente estável em março, com leve alta de 0,11%. Com isso, o crescimento acumulado no primeiro trimestre do ano foi de 1,41% (Tabela 1). Os cenários no mês foram opostos entre os ramos, com a indústria de base agrícola recuando 0,5% e a de base pecuária crescendo 2,02%. Diante disso, no período, a indústria agrícola manteve estabilidade (0,03%) e a pecuária expandiu (5,94%) – Tabela 2 e Tabela 3.
Na indústria de base agrícola, espera-se alta de 2,27% no faturamento anual, resultado de preços médios 1,38% maiores e do aumento de 0,88% na produção. Entre o último relatório e esse, com a inclusão das informações de março, houve piora sobretudo no indicador da produção agroindustrial de origem vegetal. Para a indústria de base pecuária, o aumento esperado no faturamento é de 7,74%, com preços 15,09% maiores, mas queda de 6,39% na produção.
No acompanhamento feito pelo Cepea para a evolução do PIB, as indústrias de base agrícola para as quais se espera crescimento do faturamento em 2020 são: biocombustíveis, moagem e fabricação de produtos amiláceos, produtos do fumo, açúcar e óleos vegetais. Já as indústrias de base agrícola para as quais se espera queda do faturamento em 2020 são: produtos e móveis de madeira, celulose e papel, têxtil e vestuário, indústria do café, conservas de frutas, verduras e outros vegetais, bebidas e outros produtos alimentares (Figura 4).
Para a indústria do açúcar, a expansão esperada no faturamento (41,4%) é reflexo dos aumentos tanto nos preços (19,3%), na comparação de janeiro a março de 2020 frente a janeiro a março de 2019, quanto na produção esperada para o ano (18,5%). Segundo a equipe Açúcar/Cepea, os preços foram impulsionados pela projeção de déficit global e pela desvalorização cambial. Especificamente em março, as cotações domésticas foram pressionadas diante da incerteza mundial com relação ao coronavírus. A equipe destacou que nem mesmo a desvalorização do Real frente ao Dólar foi capaz de impulsionar as cotações naquele mês. Com relação à produção, a Conab aponta que a elevação é atribuída à maior quantidade de ATR destinada à produção de açúcar, visto que se busca reduzir os impactos da dupla crise que atinge o mercado de biocombustível e impulsionar as vendas dessa commodity no mercado internacional.
No caso da produção de biocombustíveis, espera-se ligeiro aumento de 2,3% no faturamento anual, ainda por conta dos preços 14,1% maiores na comparação entre os primeiros trimestres de 2019 e de 2020, tendo em vista a produção esperada 10,3% menor. A equipe Etanol/Cepea aponta que a alta nos preços no período foi reflexo do viés de alta observado desde outubro do ano passado. Entretanto, os preços foram pressionados fortemente no mês de março devido à queda nas cotações do petróleo e à diminuição da demanda por etanol – marcada pelo avanço da pandemia de coronavírus e pelas ações de restrição de mobilidade adotadas pelo governo. Com relação à produção, a Conab aponta que a redução é atribuída à menor quantidade de ATR destinada à produção do combustível, como já comentado na análise sobre o açúcar.
Figura 4. Agroindústrias de base agrícola: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias agrícolas acompanhadas
Para a indústria de óleos vegetais, o crescimento esperado de 15,9% para o faturamento anual reflete a alta de 12,2% nos preços reais, na comparação entre janeiro a março de 2019 e de 2020, e o aumento esperado da produção, de 3,3%. Os preços altos no primeiro trimestre refletiram as perspectivas positivas naquele período em termos de demanda interna e externa para o óleo e o farelo de soja, para a produção de biodiesel e de ração animal.
Com relação à indústria de papel e celulose, a queda esperada de 8,7% no faturamento decorre da redução de 11,2% dos preços, na comparação entre períodos. Embora os preços apresentem redução na comparação entre períodos, se elevaram ao longo do ano no país. Especialistas apontam que houve elevação da cotação em dólar da celulose nos principais mercados em que o produto é negociado. Entretanto, a pandemia do coronavírus pressiona este avanço, visto que reduz a demanda por papéis e, por consequência, por celulose. Adicionalmente, como destacado no relatório anterior, os menores preços frente ao início de 2019 refletem, principalmente, os recuos sucessivos da cotação da celulose ao longo de 2019 devido aos estoques elevados no mercado internacional.
Quanto à agroindústria de base pecuária, somente a indústria de abate e preparação de carnes e pescados registrou projeção de crescimento do faturamento anual esperado. As demais indústrias, couro e calçados e laticínios, registraram variação negativa do faturamento anual esperado.
No tocante aos laticínios, a indústria espera queda de 13,40% no seu faturamento anual, em decorrência da queda de 13,70% da produção esperada para o ano. Especificamente no mês de março, houve alta na demanda por laticínios devido às incertezas em relação à Covid-19. Muitos atacadistas elevaram os ritmos de compras de leite longa vida (UHT), e os consumidores, por sua vez, realizaram estoques. Contudo, o choque de demanda não foi registrado em todos os produtos que compõem a indústria de derivados. O queijo muçarela, por exemplo, teve o escoamento de sua produção dificultado por conta da paralisação dos serviços de alimentação, fazendo com que suas cotações recuassem. A mesma situação se observou com preços da manteiga.
Já para a indústria de abate e preparação de carnes e pescado espera-se crescimento do faturamento anual (15,51%), impulsionado pela variação positiva dos preços reais (20,70%) na comparação entre janeiro a março de 2020 frente ao mesmo período de 2019. Quando à produção, espera-se redução anual (-4,03%). A redução da oferta de boi gordo fez com que pecuaristas recusassem ofertas de menores valores e, com isso, os frigoríficos passaram a oferecer preços mais altos; além disso, as vendas externas da carne estiveram aquecidas no período, favorecendo os preços domésticos. No caso da carne de frango, embora os preços estejam em patamar elevado frente ao mesmo período de 2019, recuaram ao longo do primeiro trimestre de 2020. A queda refletiu a menor demanda doméstica por carne, devido ao período de férias escolares e à redução no poder aquisitivo da população. Ainda no caso da carne de frango, como já apontado na análise relativa ao segmento primário, especificamente em março, o mercado registrou fortes demandas externa e doméstica por carne, em decorrência da Covid-19. Por fim, no mês de março foi registrada uma redução na demanda por carnes suínas no mercado atacadista, fazendo com que os frigoríficos diminuíssem o ritmo de produção.
Tabela 5. Agroindústrias de base pecuária: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias pecuárias acompanhadas
SEGMENTO DE SERVIÇOS: PIB dos agrosserviços cresce 3,53% no trimestre
O PIB dos agrosserviços do agronegócio brasileiro cresceu 0,99% em março, acumulando alta de 3,53% no primeiro trimestre (Tabela 1). Entre os ramos, as altas foram de 0,13% no mês e 1,33% no período para o agrícola, e de 2,49% no mês e 7,49% no período para o pecuário (Tabela 2 e Tabela 3).
O crescimento dos agrosserviços no ramo agrícola, reflete principalmente o comportamento do segmento primário (em que se observa expectativa de maior produção e preços em alta), e no ramo pecuário, os bons resultados antes e dentro da porteira, e na agroindústria.
CONCLUSÕES
O PIB do agronegócio cresceu em março, 0,94%. Foi o terceiro mês seguido de crescimento, acumulando alta de 3,3% no 1° trimestre de 2020, frente ao mesmo período do ano anterior. Tal crescimento tem sido impulsionado principalmente pelos segmentos primário (ou “dentro da porteira”) - que cresceu 5,85% no 1° tri/2020 - e dos agrosserviços, que acumulam alta de 3,53% no mesmo período. Enquanto no ramo agrícola, o crescimento de 1,91% no PIB do 1° trimestre foi garantido, basicamente, pela alta de 6,43% do segmento “dentro da porteira”; no ramo pecuário a expansão de 6,11% no mesmo período, reflete a dinâmica positiva não apenas “dentro da porteira” (4,97%), mas também da agroindústria (5,94%) e, principalmente, dos agrosserviços (7,49%).
Os resultados do ramo agrícola, em geral, refletem altas tanto de preço como de produção de produtos importantes na composição do PIB, como café, soja e milho. Além disso, outros produtos importantes observaram altas apenas de preço (arroz e trigo), ou apenas de produção, como algodão e laranja.
Já no ramo pecuário, a expansão no PIB reflete, principalmente, alta de preços. Entre todas as atividades primárias e agroindustriais do ramo pecuário, houve queda apenas nos preços do leite pagos ao produtor, e dos produtos de couro e calçados. O elevado patamar dos preços pecuários nos primeiros 3 meses de 2020 ainda é reflexo dos efeitos da Peste Suína Africana na China, tanto na aquecida demanda externa por carnes brasileiras, como nas altas de preços domésticos das proteínas substitutas à carne bovina, como frango e ovos.
Os impactos das medidas de isolamento social foram apenas parcialmente captados no presente relatório, cujo período de referência é o 1° trimestre de 2020. Em geral, no mês de março, a pandemia gerou um comportamento altista nos preços de diversos produtos agropecuários. Além do seu impacto via efeito de desvalorização cambial, a possibilidade de isolamento social, naquele momento, causou picos de demanda que impulsionaram os preços do arroz, da banana, do café, da carne de frango e dos ovos, por exemplo.
A partir de abril, os efeitos da Covid-19 sobre os preços agropecuários foram mais difusos. Os preços da soja e do trigo foram favorecidos por restrições na Argentina diante da pandemia, e os preços do arroz e do café foram favorecidos pelos incrementos de demanda para a estocagem. Com cenário oposto, o ambiente de incertezas e a queda na demanda doméstica levaram a reduções de preço do milho, algodão, laranja, suínos, aves e os derivados lácteos. Os efeitos do Covid-19 sobre o agronegócio em abril, serão avaliados no próximo Comunicado Técnico, com dados referentes ao 1° quadrimestre de 2020.
ANEXO I – Evolução mensal do PIB DO AGRONEGÓCIO
A1) PIB do Agronegócio: Taxas de variação mensal e acumulado do período (em %)
A2) PIB do Agronegócio: Participações dos segmentos (em %)
A3) PIB Volume do Agronegócio: Taxa anual (em %)*
Nota técnica: O PIB Volume do Agronegócio trata-se do PIB do agronegócio calculado pelo critério de preços constantes. Resulta, portanto, a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA
O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.
Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).
Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor.
Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:
• PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.
• PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).
Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx