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Análise de custos e desempenho econômico da fruticultura no contexto atual
Em 2024, o Projeto Campo Futuro realizou painéis de levantamento de custos de produção para seis culturas do segmento de fruticultura, abrangendo cinco estados. O objetivo foi gerar indicadores técnicos e gerenciais para fornecer informações estratégicas que auxiliem no desenvolvimento e proteção do setor ampliando a competitividade do agro nacional.
Este trabalho apresenta os resultados médios por cultura, com uma análise das situações econômicas observadas ao longo do ano. O Gráfico 1 mostra os dados econômicos médios obtidos para as culturas de uva, maçã, manga, laranja, goiaba e limão.
O Custo Operacional Efetivo (COE) inclui todos os componentes de custos, que resultam da relação entre os coeficientes técnicos (quantidade utilizada) e seus respectivos preços. Também estão incluídos os gastos administrativos e os custos financeiros do capital de giro. Esses componentes são atualizados a cada ciclo produtivo. Entre as culturas analisadas, a produção de uva apresentou o maior COE, seguida por maçã, manga, laranja, goiaba e limão. Vale destacar que, no caso da goiaba, foram consideradas apenas as despesas de um ciclo produtivo de sete meses.
Analisando a composição do COE por cultura (Gráfico 2), observamos que, na produção de uva no Vale do São Francisco, a maior parte dos custos está relacionada à remuneração da mão de obra, representando 33% do total. Fertilizantes correspondem a 18%, e as despesas administrativas somam 15%. Na produção de maçã no Sul do Brasil, a mão de obra também é o principal custo (26%), seguida por gastos com pós-colheita, que incluem serviços de beneficiamento e embalagem (22%), e produtos fitossanitários (21%).
No cultivo de manga no Vale do São Francisco, os fertilizantes são o maior componente do COE, com 27%, seguidos pela mão de obra (23%) e custos com mecanização (19%). Para a laranja, os produtos fitossanitários representam 26% do COE, seguidos pela mão de obra (25%) e fertilizantes (17%). Já na produção de goiaba, os fertilizantes correspondem a 31% do COE, produtos fitossanitários a 26% e a mão de obra a 17%. Para o cultivo de limão, os principais componentes são a mão de obra (33%), mecanização (23%) e fertilizantes (21%).
Observa-se que as culturas de uva e maçã, que demandam altos investimentos em lavouras, máquinas e implementos agrícolas, apresentam maiores valores de depreciação (gráfico 1). É importante que os produtores compreendam os impactos financeiros dessas depreciações e tomem decisões mais assertivas afim de diluir os custos de produção. O alto valor de depreciação também reforça a necessidade de reinvestimento no médio e longo prazo. Uma estratégia viável é otimizar o uso dos ativos, como o compartilhamento de máquinas entre propriedades, reduzindo a depreciação por unidade produzida.
Ressalta-se que os preços da laranja estão significativamente mais elevados do que em um cenário de normalidade. Mesmo em um cenário otimista, o valor de referência médio é de R$ 53,29 por caixa, conforme análise de preços coletados desde maio de 2016 pelo Projeto Campo Futuro. As principais causas dessa elevação estão associadas à redução da oferta da fruta e aos baixos estoques de suco, provocados por adversidades climáticas e pela infestação de greening nas principais regiões produtoras. Em agosto, o preço médio de cotação nas praças do Campo Futuro foi de R$ 88,83 por caixa, enquanto os levantamentos de 2024 apontaram uma média de R$ 71,39 por saca, o que causa uma compensação nas perdas produtivas.
A volatilidade dos preços de uva, manga, limão e goiaba também beneficiou os resultados, especialmente considerando o momento de coleta dos dados. A cultura da uva, em particular, obteve preços superiores devido à redução da oferta, consequência das adversidades climáticas enfrentadas nas safras do segundo semestre de 2023 e do primeiro semestre de 2024. No caso da manga, o preço observado durante o painel foi de R$ 3,90 por quilograma. Historicamente, à medida que o final do ano se aproxima e a oferta aumenta, os preços tendem a cair, podendo chegar a R$ 2,00 por quilograma em um cenário pessimista, colocando a atividade em risco de descapitalização. Já para a goiaba, o preço coletado durante o painel foi, em média, R$ 1,39 por quilograma, mas com o aumento da oferta, o valor pode cair para R$ 0,69 por quilograma, e caso fique abaixo de R$ 0,56 por quilograma, a atividade entra em um cenário de descapitalização.
No caso do limão, o preço praticado durante o painel foi de R$ 50,00 por caixa, embora ao longo do semestre o valor médio tenha sido de R$ 25,00 por caixa. Mesmo com essa variação, a cultura continua a apresentar resultados bastante positivos, demonstrando-se uma das mais eficientes economicamente dentre as analisadas.
A gestão eficiente da fruticultura deve levar em conta as oscilações de preços e volumes comercializados, buscando diversificar estratégias de venda e alinhar a produção com as melhores janelas de mercado. A volatilidade dos preços ressalta a importância de monitorar continuamente o mercado e ajustar a estratégia de comercialização para garantir resultados sustentáveis.
Os resultados demonstram como a fruticultura desempenha um papel fundamental na geração de renda e segurança alimentar, especialmente nas principais regiões produtoras. A análise do COE e da composição de ustos das diferentes culturas evidencia a importância da fruticultura na absorção de mãode obra, com participação signifi cativa nos custos, variando entre 17% e 33%. Isso reforça o papel da atividade na promoção do desenvolvimento socioeconômico e na sustentabilidade econômica de pequenas e médias propriedades.
Além de gerar empregos, a fruticultura contribui para a segurança alimentar. O fortalecimento da produção de frutas garante o abastecimento interno e diversifica a alimentação da população. No entanto, a fruticultura enfrenta desafios como a volatilidade dos preços dos insumos e do mercado, o que exige uma gestão eficiente e políticas públicas de apoio ao setor.