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20 de janeiro de 2023
Artigo*/Sueme Mori: Novidades na cesta de Natal das exportações do Agro
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POR CNA

No ano passado, as exportações de produtos agropecuários brasileiros bateram novo recorde: US$ 159 bilhões. Esse valor é 32% acima do resultado de 2021 e 64% maior do que foi vendido em 2019, ano pré-pandemia.

Houve pouca mudança em termos de produtos e destinos, mas a cesta de Natal das exportações do agro de 2022 trouxe algumas novidades que merecem destaque, como os aumentos expressivos das vendas de milho e das compras da Índia.

O conflito entre Rússia e Ucrânia afetou o mercado mundial de grãos, com a redução da oferta global e consequente aumento de preços. O impacto nas exportações brasileiras pode ser medido pela ampliação em 197% das vendas de milho para o mundo. Esse resultado colocou o produto como o segundo mais vendido do agro em 2022, atrás apenas da soja em grãos, ultrapassando as exportações da carne bovina e do açúcar de cana, por exemplo.

Além do milho, as vendas de trigo e óleo de soja também tiveram crescimento bem acima da média: 241% e 107%, respectivamente.

Sobre a Índia, o país saltou da 22ª posição no ranking dos principais destinos, em 2021, para o 9º lugar no ano passado. A principal causa foi o aumento das aquisições de óleo de soja. No total, as compras indianas de produtos agropecuários brasileiros cresceram 128%. Irã e Colômbia também subiram de posição, com ampliação das compras em mais de 100%.

O mercado indiano merece atenção especial do agro brasileiro. Dois fatores impulsionam o aumento da demanda por alimentos: crescimento demográfico e de renda. Com 1,4 bilhão de habitantes, a Índia ultrapassará a China ainda neste ano e se tornará o país mais populoso do mundo. Em termos econômicos, a estimativa é que a Índia cresça 6,1% em 2023, mais do que a China e a média mundial.

Falando em China, o país continua sendo, de longe, o principal destino das exportações agropecuárias do Brasil. Os US$ 50,8 bilhões comprados pelos chineses em 2022 são mais do que a soma das aquisições da União Europeia, Estados Unidos, Irã, Japão e Tailândia, mercados que ocupam a 2ª, 3ª, 4ª, 5ª e 6ª posição no ranking dos principais destinos. Vale destacar que, apesar do aumento do valor importado, a participação do mercado chinês no total vendido pelo setor teve uma pequena queda, de 34% em 2021 para 32% em 2022.

Assim como já era esperado, o crescimento da demanda chinesa por produtos agropecuários vem desacelerando. Espera-se que, na próxima década, o aumento anual seja de 0,6%, bem menor do que os 2,3% dos últimos anos. Esse efeito já foi sentido em 2022, quando o volume de soja em grãos importado pela China do Brasil foi 11% menor do que em 2021. Os chineses compram mais de 68% de toda a soja em grãos brasileira vendida para o mundo.

Pela sua importância econômica e geopolítica, o que acontece na China tem repercussões no restante do mundo. Em 2022, o crescimento da economia chinesa foi de 3%, bem abaixo dos 8,1% de 2021 e a previsão, de acordo como FMI, é que este ano, esse número chegue a 4,4%. Ainda inferior ao que a China registrou nos últimos anos, mas acima dos 2,7% que o Fundo prevê para a economia mundial.

Além da China, outras questões que continuarão influenciando o comércio internacional agrícola em 2023 são a guerra entre Rússia e Ucrânia, a ocorrência de eventos climáticos extremos que causam impacto na produção e consequentemente na oferta global de alimento, e na desaceleração do crescimento da economia global.

Outro tema que já vinha ganhando força há alguns anos e que vai estar, em 2023, no centro do debate será a entrada em vigor de medidas que estabelecem requisitos ambientais para a importação de produtos agropecuários. União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos são os mercados onde as discussões estão mais adiantadas.

O cenário global continua com uma série de incertezas e, por isso, a “bola de cristal” está com a visão opaca de como realmente será o comércio agrícola internacional e como o Brasil será afetado. O que é certo é a necessidade de que sejam ampliados os esforços, tanto do governo quanto do setor privado, para que o País continue aumentando a sua participação no mercado global. Abertura comercial, diversificação de pauta e de destinos, ampliação da base exportadora e políticas de incentivo às exportações continuarão sendo fundamentais para o crescimento do País.

Sueme Mori é diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

*Artigo originalmente publicado no Broadcast