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2 de maio de 2017
Difusão de inovações no agronegócio
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POR CNA

A difusão de inovações no agronegócio (agribusiness), conceito criado pelos pesquisadores John Davis e Ray Goldberg (Harvard-EUA) em 1957, deriva de um vasto elenco de fatores associados e abriga uma leitura bem mais ampla do que o foco exclusivo nos produtos agrícolas, pecuários e florestais, pois a tomada de decisão dos empreendedores é fundamentada em conjunturas estimulantes ou restritivas dos mercados interno e externo. Portanto, ela é conjuntural e não apenas uma decisão solitária, independente, e que possa lograr rentabilidade econômica nas atividades agropecuárias e nos sistemas florestais. Porém, não há risco zero em nenhuma atividade humana nos cenários rurais e urbanos. 
 
A economia, que não pode ser considerada perversa, em si mesma, tende a eliminar numa perspectiva de tempo os processos produtivos pouco eficientes e numa competição aberta no agronegócio, na indústria, agroindústria, no comércio e nos serviços, o que não implica em desconhecer os subsídios diretos e indiretos havidos, por haver, e segundo as políticas públicas praticadas por governos. 
 
A arte de inovar presume também acesso aos conhecimentos científicos e tecnológicos, gerados pela pesquisa, pública e privada, mas não determina o sucesso com segurança como se fora cálculos matemáticos, pois os mercados são pendulares, enigmáticos, e apesar das previsões mais otimistas.
 
Veja-se, sem muitos detalhamentos, outro cenário convergente à agro economia; são 14,2 milhões de brasileiros desempregados (IBGE-abril/2017), o mais alto preço que decorre da recessão econômica e por atingir também o cerne da economia familiar, o que ainda contribui para reduzir despesas, deteriorar a qualidade de vida e até colocar liminarmente num compasso de espera os investimentos. A população de Portugal, enquanto país, é de 10,26 milhões de habitantes (Google/29.04.17/21h 15 min) ou ainda 5,68 vezes mais desempregados do que a população total do município de Belo Horizonte (2015) e não contando apenas a força de trabalho. Para avaliar é preciso medir.
 
Se se pudesse fazer um cálculo por baixo e apenas didático, tendo-se como base o salário mínimo vigente de R$ 937,00, o volume bruto de dinheiro da massa salarial desse contingente humano desempregado seria de R$ 13,305 bilhões ao mês que, multiplicado 12 e mais o 13º, somaria R$172,97 bilhões ou US$ 54,47 bilhões (dólar comercial em 20.04.17) no período de um ano. Para se ter uma ideia do tamanho dessa conta, negativa, o PIB do Uruguai alcançou US$ 55,26 bilhões em 2016, segundo o Banco Central do Uruguai (BCU). 
 
Portanto, esse cenário brasileiro adverso tem profundo efeito na renda familiar e no consumo presumível de alimentos, tecnologias, produtos, serviços, e na formação do PIB. Mas, há sinais de melhoras na economia do Brasil. Essa não é uma análise econômica, assunto de economistas.
 
Além disso, uma das singularidades do agronegócio se fundamenta no fato de que não há como driblar os ciclos produtivos e reprodutivos das culturas e criações ao que devem acrescentar os riscos climáticos. Uma linha de montagem de veículos automotores pode ser suspensa por tempo determinado e voltar a funcionar normalmente em função das novas perspectivas dos mercados. Depois de plantada a semente é torcer para que haja vigoroso crescimento, boas safras e preços justos também para os multiplicadores de riquezas no campo.
 
Mas, inovar requer permanente acesso aos conhecimentos e boas práticas, sustentáveis, nos 5,2 milhões de estabelecimento rurais no Brasil e dos quais 551.617 se abrigam em Minas Gerais e acrescentando os setores da fruticultura e horticultura. Seria relevante assinalar que não basta gerar a inovação tecnológica, embora seja essencial, à medida em que exige ser compartilhada e pactuada nas paisagens rurais e nos caminhos dos sistemas agroalimentares. O universo rural transcende a porteira da fazenda. 
 
Porém, nem tudo é novo a exemplo do motor a quatro tempos (ciclo Otto), que já emplacou 141 anos desde seu lançamento no mercado europeu, de acordo com historiadores.
 
O agronegócio não se resume apenas no comprar e vender, visão fomentista, entretanto, houve um tempo em que se admitia que os produtores eram soberanos nas suas escolhas. Presumivelmente, sim, quando havia a predominância absoluta da população rural residente sobre a urbana, que fundamentava e mantinha um mercado tipicamente rural, excetuando-se o café que ganhou fôlego nas exportações desde 1850, embora chegasse ao Brasil em 1727. 
 
Apenas como exemplos; quando a Emater-MG foi criada em 1948 a população mineira residente no campo era de 70,0%. Em nível nacional, no ano de 1950, a taxa média de urbanização atingia apenas 36,1% para uma população total de 18,78 milhões de brasileiros ou 63,9% viviam nas paisagens rurais (IBGE).
 
Os cenários mudaram numa série histórica e o agronegócio brasileiro colocou o País como o segundo maior produtor de alimentos do mundo nos últimos 40 anos e sem comprometer o abastecimento interno e ao exportar dezenas de produtos para mais de 140 países. Entre os anos de 2014 e 2016, o superávit externo acumulado no agronegócio foi de US$ 226,58 bilhões (MAPA).
 
Entretanto, como a mudança é a única coisa permanente no mundo, cabe formular uma outra indispensável pergunta; para onde deverá caminhar o agronegócio brasileiro no viger do século XXI? Que os “Centros de Inteligência” saibam minimamente formular as suas hipóteses e presumíveis alternativas, pois o futuro começou ontem.
 
Vale assinalar que o livro “O mundo rural do Brasil do século 21”, multidisciplinar nas suas abordagens, editado pela Unicamp (SP), Instituto de Economia e Embrapa, é uma indispensável fonte de consultas e, entre os autores e coordenadores, sem demérito de nenhum outro, está o engenheiro agrônomo Eliseu Alves (PhD), mineiro, fundador e ex-presidente da Embrapa.

*Benjamin Salles Duarte é engenheiro agrônomo

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