Efeitos de fatores climáticos sobre os custos e resultados econômicos da pimenta-do-reino
Campo Futuro
A produção agropecuária brasileira é fortemente influenciada pelas condições climáticas, que afetam diretamente a produtividade, os custos e os resultados econômicos das atividades no campo. Como exemplo, analisamos detalhadamente os impactos dos fatores climáticos sobre os custos de produção e os resultados econômico-financeiros da pimenta-do-reino, com base nos levantamentos realizados pelo Projeto Campo Futuro (Sistema CNA/Senar). A partir dos dados coletados em painéis técnicos em três regiões produtoras, é possível compreender como a instabilidade climática afeta a viabilidade da atividade e os desafios enfrentados pelos produtores, dada a sensibilidade da cultura a variações de temperatura, umidade e regime hídrico.
Produtividade e Estrutura Produtiva
As propriedades modais analisadas nos painéis do Projeto Campo Futuro apresentam áreas produtivas entre 2 e 2,5 hectares, com produtividade de 3 kg de pimenta seca por planta, o que equivale a cerca de 5,3 a 5,4 toneladas por hectare. No entanto, em São Mateus e Jaguaré, as adversidades climáticas — como estiagens prolongadas e temperaturas elevadas — provocaram uma quebra de 50% na produtividade, reduzindo-a para 2,7 toneladas por hectare.
Em Itabela (BA), por outro lado, a produtividade se manteve estável, mesmo diante das variações climáticas, o que evidencia diferenças regionais na resiliência da cultura. Cabe destacar que o rendimento entre pimenta verde e pimenta seca também varia entre as regiões, sendo de 4:1 em São Mateus (ES), de 3,5:1 em Jaguaré (ES) e de 3:1 na Bahia, o que influencia diretamente os custos de secagem e o volume comercializado.
Composição de Custos e Resultados Econômico-Financeiros
A condução da lavoura representa o maior componente de custo, sendo composto por mão de obra, mecanização, irrigação, corretivos, fertilizantes e produtos fitossanitários. A colheita e pós-colheita também têm peso significativo, sendo diretamente afetadas por chuvas fora de época, que dificultam o ponto ideal de colheita e comprometem a qualidade do produto.
O Gráfico 1 apresenta a composição do Custo Operacional Efetivo (COE) para os modais produtivos estudados nas três regiões, e cenários simulados de normalidade produtiva em São Mateus e Jaguaré (ES).
Ao analisar os itens que compõem os custos de produção da pimenta-do-reino, observa-se uma expressiva participação da mão de obra, empregada tanto nos tratos culturais quanto na colheita. O segundo principal item de custo varia conforme o modelo produtivo adotado em cada região. Em São Mateus, destaca-se o grupo “outros – colheita e pós-colheita”, com forte impacto da etapa de secagem, que é terceirizada e compromete cerca de 10% da receita da atividade. Já em Jaguaré e Itabela, os produtores utilizam secadores próprios, o que implica apenas em custos com energia elétrica e depreciação — este último não considerado na composição do Custo Operacional Efetivo (COE), mas sim no Custo Operacional Total (COT).
Ao analisar os componentes do Custo Operacional Total (COT) — depreciação e pró-labore — e do Custo Total (CT) — que inclui a remuneração do capital próprio, capital circulante e da terra — em relação à Receita Bruta (RB) da atividade (Gráfico 2), é possível observar indicadores econômicos relevantes que ajudam a compreender o desempenho financeiro da produção de pimenta-do-reino.
Para todos os cenários estudados, obteve-se Margem Bruta, obtida por meio da subtração entre a Receita Bruta (RB) e o COE, positiva. Resultado indica que a atividade consegue custear os desembolsos do ciclo produtivo, indicando manutenção da atividade no curto prazo.
No entanto, ao avaliar o cenário de quebra na produção no ES, tem-se Margem Liquida negativa em Jaguaré, o que indica que a atividade consegue realizar o compromisso de pagamento dos desembolsos, mas não remunera na totalidade a mão de obra familiar na gestão da atividade e as depreciações. Já ao simular cenário de normalidade produtiva, a atividade obtém ML positiva. Cabe destacar que, nos modais estudados no estado, a receita foi insuficiente para cobrir os Custos Totais da atividade, que incluem a remuneração do capital investido.
Em paralelo, em cenário de estabilidade climática e produtiva, como observado na Bahia, os indicadores econômicos são positivos. Tem se ainda uma relação benefício/custo de 1,25 — ou seja, para cada R$ 1 investido, há retorno de R$ 1,25.
Considerações Finais
A viabilidade econômica da pimenta-do-reino está fortemente condicionada à estabilidade climática e à capacidade de resposta do produtor frente aos desafios ambientais. Investimentos em tecnologias de manejo, irrigação eficiente, insumos para mitigação de impactos do clima – como altas temperaturas e insolação, são essenciais para garantir a sustentabilidade da atividade.
Além disso, políticas públicas voltadas à assistência técnica, crédito rural e seguro agrícola podem contribuir para reduzir a vulnerabilidade dos produtores e fortalecer a cadeia produtiva da pimenta-do-reino, especialmente em regiões mais suscetíveis às mudanças climáticas.