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PIB do Agronegócio cresce 2,42% no 1° bimestre de 2020
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cresceu em fevereiro 1,2%, mesma taxa de crescimento do mês anterior. Com isso, no acumulado do 1° bimestre de 2020, a alta foi de 2,42% (Tabela 1).
Tanto no mês quanto no acumulado do período, apenas o PIB do segmento de insumos teve queda, de 0,11% em fevereiro e de 0,7% no acumulado. Em fevereiro, as altas foram de 1,64% para o segmento primário, de 1,4% para os agrosserviços e de 0,81% para a agroindústria (Tabela 1). No acumulado, os crescimentos dos PIB dos segmentos primário, de agrosserviços e agroindustrial foram, respectivamente, de 3,86%, 2,72% e 1,37%.
Entre os ramos do agronegócio, o PIB cresceu tanto no agrícola quanto no pecuário, com destaque para o segundo. Especificamente, o ramo agrícola cresceu 0,66% no mês e 1,33% no período de janeiro a fevereiro, e o ramo pecuário teve altas de 2,29% no mês e 4,61% no período (Tabela 2 e Tabela 3). É importante destacar que esses resultados ainda não contemplam dados relativos ao volume de produção de atividades importantes para o agronegócio, como o setor sucroenergético e diversas atividades pecuárias, que estavam indisponíveis até o fechamento deste relatório.[1]
Tabela 1. PIB do Agronegócio: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)
A Tabela 2 mostra os resultados específicos do ramo agrícola do agronegócio. A alta de 0,66% do PIB em fevereiro decorreu principalmente do crescimento de 1,57% do segmento primário agrícola. Os agrosserviços e a agroindústria também expandiram, 0,57% e 0,34%, respectivamente. Resultado similar foi observado para o acumulado do período: o crescimento de 1,33% do PIB do ramo agrícola refletiu a alta importante de 3,92% do segmento primário, seguida das altas de 1,05% dos agrosserviços e de 0,37% das agroindústrias de base agrícola.
Tabela 2. Ramo Agrícola: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)
O excelente resultado da agricultura (segmento primário agrícola) reflete os preços maiores na comparação de janeiro e fevereiro de 2020 frente ao mesmo período de 2019, com destaque para café, soja, milho e arroz. Reflete também a expectativa de maior produção no campo. Além da bienalidade positiva para o café, a Conab aponta que a safra de grãos deverá ser recorde, mesmo com os problemas climáticos no Rio Grande do Sul e a pandemia da Covid-19.
A Tabela 3 mostra os resultados para o ramo pecuário. De modo geral, o excelente resultado do PIB desse ramo no início de 2020 esteve atrelado ao mercado ainda aquecido para as proteínas, um efeito inercial que vem de 2019 –relacionado principalmente à elevação dos preços das carnes suína e bovina, como resultado da demanda aquecida no mercado externo em decorrência da Peste Suína Africana (PSA), e ao reflexo dessa elevação nos preços das proteínas substitutas, como a carne de frango e os ovos.
Tabela 3. Ramo Pecuário: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)
Especificamente, em fevereiro, apenas o PIB dos insumos pecuários recuou (0,12%), com altas de 2,84%, 2,34% e 1,75% para os agrosserviços, a agroindústria e o segmento primário de base pecuária, respectivamente. Com isso, no acumulado do bimestre, as variações do PIB foram de 5,65% para os agrosserviços, 4,58% para a agroindústria, 3,78% para o segmento primário e -0,51% para os insumos (Tabela 3).
Ressalta-se que esse relatório considera nos cálculos do PIB as previsões mais recentes para as safras agrícolas e as informações de preços e produção industrial observados até fevereiro de 2020. Logo, os efeitos da chegada do Coronavírus no Brasil ainda não estão contemplados nos resultados apresentados das diferentes atividades agropecuárias e agroindustriais.
SEGMENTO DE INSUMOS: insumos mantêm baixa em fevereiro
O PIB do segmento de insumos do agronegócio recuou 0,11% em fevereiro, acumulando queda de 0,7% no 1° bimestre de 2020 (Tabela 1). Para os insumos agrícolas, as quedas no período foram de 0,11% no mês e 0,78% no bimestre, e para os insumos pecuários, foram de 0,12% em fevereiro e 0,51% no acumulado dos 2 primeiros meses do ano (Tabela 2 e Tabela 3). Conforme se observa na Figura 1, que mostra as variações anuais esperadas de volume, de preços e de faturamento, os faturamentos esperados estão menores para todas as indústrias de insumos acompanhadas. Destaca-se que o patamar de comparação é alto, tendo em vista o excelente desempenho do PIB dos insumos em 2019.
Referente à indústria de fertilizantes e corretivos de solo, tem-se aumento da produção anual esperada na ordem de 14,15%. Contudo, essa variação não foi suficiente para compensar a queda de 14,41% nos preços reais, quando analisado o acumulado de janeiro a fevereiro de 2020 comparativamente ao mesmo período de 2019. Então, projeta-se redução de 2,29% do faturamento anual da atividade para 2020. A redução de preços na comparação entre os bimestres reflete, primeiramente, o alto patamar dos preços observado no mesmo período de 2019. Em segundo lugar, reflete a costumeira queda consequente do menor movimento de comércio, típico de início de ano, uma vez que as compras antecipadas para a safra de grãos passam a ganhar força a partir de abril.
Figura 1. Insumos: variação (%) anual de volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de fevereiro
Para a indústria de defensivos é esperada queda de 5,70% no faturamento, resultado da combinação de redução de 9,00% da produção esperada para o ano e aumento de 3,62% dos preços, na comparação entre períodos iguais (janeiro e fevereiro de 2020 e de 2019). O avanço dos preços refletiu principalmente a desvalorização do Real frente ao Dólar. No caso da produção, como ressaltado em relatório anterior, a queda não reflete uma produção enfraquecida em 2020, mas, sim, o alto patamar de comparação: houve forte alta da produção de defensivos em janeiro e fevereiro do ano passado.
Para a indústria de máquinas agrícolas, também se projeta variação negativa do faturamento anual da atividade (-8,0%), como resultado do recuo dos preços (-4,27%) na comparação entre períodos e da produção esperada para 2020 (-3,9%). Conforme a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), ainda se espera que esse quadro mude, considerando a expectativa de bons preços das commodities e a desvalorização do Real frente ao Dólar, assim como a provável disponibilidade de recursos para financiar a modernização do maquinário, em contraste ao ocorrido em 2019.
SEGMENTO PRIMÁRIO: agropecuária mantém excelente desempenho em fevereiro
O PIB do segmento primário do agronegócio cresceu 1,64% em fevereiro, acumulando alta de 3,86% no primeiro bimestre do ano (Tabela 1). Para o primário agrícola, as altas foram de 1,57% no mês e 3,92% no bimestre, e para o primário pecuário, foram de 1,75% no mês e 3,78% no bimestre (Tabelas 2 e 3).
No caso da agricultura, considerando a média ponderada das diversas culturas acompanhadas, espera-se aumento de 3,57% na produção, impulsionada principalmente pelas maiores expectativas de safra para a soja e o café. No caso dos preços, também considerando uma média ponderada, o aumento foi de 6,59% na comparação entre os primeiros bimestres de 2019 e de 2020, influenciado sobretudo pelos comportamentos das cotações de café, soja, milho e arroz. Então, para o faturamento anual, a expectativa é de aumento de 10,4%. Para o segmento primário pecuário, ainda não há informações sobre volume produzido. Então, o aumento esperado de 14,65% no faturamento, considerando a média das atividades acompanhadas, reflete a alta de mesma magnitude no preço médio dessas atividades, na comparação entre bimestres.
As Figuras 2 e 3 e a Tabela 4 detalham os resultados específicos do segmento por atividades agrícolas e pecuárias. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas pelo Cepea, espera-se crescimento de faturamento em 2020 para: arroz, banana, cacau, café, cana-de-açúcar, mandioca, milho, soja, tomate e trigo. Já as culturas para as quais se esperam quedas no faturamento são: algodão, batata, feijão, fumo, laranja, uva, madeira em tora, madeira para celulose e lenha para carvão.
Entre as culturas com resultado positivo no faturamento, destaca-se o caso do café, cujo aumento esperado é de 34,64%, impulsionado pela produção esperada 20,84% maior e pela alta de 11,43% nos preços reais, na comparação entre janeiro e fevereiro de 2019 e de 2020. Quanto à produção, segundo a Conab, a expansão decorre da influência da bienalidade positiva em quase todas as regiões produtoras, em especial as de café arábica, marcadas por maiores áreas em produção e produtividades. Destaca-se também os ganhos produtivos esperados para o café conilon, devido às boas condições climáticas nas regiões produtoras da variedade. Com relação aos preços, a equipe Café/Cepea apontou que o elevado patamar no mercado brasileiro no bimestre refletiu a desvalorização do Real frente ao Dólar e o aumento dos preços internacionais do produto, nesse último caso, decorrente da oferta restrita no mercado físico brasileiro no curto prazo. A equipe destacou que o estoque de passagem, especialmente de cafés finos, estava reduzido no início do ano: além da menor produção desses tipos na safra 2019/2020, devido a questões climáticas, a comercialização dos cafés bons e finos foi intensa no final de 2019. Então, mesmo com a aproximação da colheita da safra 2020/2021 no Brasil, que deverá ser 20,84% maior, o preço do café foi sustentado.
Para o milho, a alta de 29,66% nos preços, na comparação entre janeiro e fevereiro de 2019 e de 2020, refletiu na elevação de 32,03% esperada no faturamento, frente ao pequeno aumento esperado na produção anual, de 1,82%. De acordo com a equipe Milho/Cepea, a elevação dos preços refletiu a disponibilidade restrita (menores estoques devido às exportações recordes em 2019) em um cenário de demanda doméstica aquecida. Quanto à produção, segundo a Conab, o sutil aumento esperado decorre da provável maior área destinada à cultura, em especial a de segunda safra, uma vez que se projeta uma redução na produtividade da cultura.
Para a cultura do arroz, o maior faturamento esperado (18,12%) reflete principalmente as altas nas cotações do produto na comparação entre bimestres (16,74%), uma vez que se espera apenas um leve aumento na quantidade produzida (1,18%). Segundo a Conab, a maior produção esperada está relacionada à expectativa de ganhos produtivos, visto que se observa menor área destinada à cultura, especialmente do arroz irrigado – responsável por mais de 75% da produção nacional. Segundo a equipe Arroz/Cepea, a redução da área está relacionada à baixa rentabilidade da cultura, levando produtores a migrarem para culturas mais rentáveis. Com relação aos preços, a equipe do Cepea destacou que as condições de oferta e demanda do produto no País sinalizavam para a menor disponibilidade interna do grão, mesmo tendo em vista a queda do consumo interno brasileiro, o que explica o patamar elevado.
No caso da soja, a elevação dos preços, na comparação entre janeiro e fevereiro de 2019 e de 2020 (5,82%), e da produção esperada para o ano (6,11%), explicam a projeção de crescimento do faturamento (12,29%). De acordo com a Conab, a produção recorde é reflexo da expansão da área destinada à cultura e dos ganhos produtivos esperados. Apesar da quebra de safra no Rio Grande do Sul, as melhores condições climáticas nos demais estados produtores possibilitaram o crescimento da produtividade. No caso dos preços, como destacado no relatório anterior, o aumento na comparação com o primeiro bimestre de 2019 refletiu o movimento geral de elevação das cotações do produto, principalmente no segundo semestre daquele ano, reflexo das condições climáticas adversas que afetaram o cinturão agrícola dos Estados Unidos, da desvalorização do Real frente ao Dólar, do clima desfavorável ao semeio no Brasil naquele período e do baixo excedente da soja brasileira.
Para a mandioca, a expansão de 4,87% esperada no faturamento é resultado, principalmente, do aumento de 4,14% nos preços reais na comparação entre bimestres, uma vez que se projeta apenas uma leve alta da produção anual, em 0,70%. Por sua vez, o alto patamar de preço no início de 2020 reflete um efeito inercial da forte elevação no último trimestre de 2019. De acordo com a equipe Mandioca/Cepea, essa elevação no fim de 2019 foi explicada pela menor produção, reflexo da menor área destinada à cultura, da falta de interesse de colheita por parte dos produtores e das condições climáticas adversas que prejudicaram os trabalhos no campo.
No caso do trigo, o maior faturamento anual esperado (5,14%) é reflexo apenas da expansão esperada na produção anual (5,37%), uma vez que se observou ligeira redução nos preços reais (-0,21%) na comparação entre períodos (primeiro bimestre de 2019 e de 2020). De acordo com a Conab, o crescimento da produção está relacionado com as expectativas de maior área destinada à cultura e de maior produtividade. Quanto aos preços, apesar da ligeira queda real na comparação com o primeiro bimestre de 2019, esses se elevaram mensalmente em janeiro e fevereiro desse ano. Segundo pesquisadores do Cepea, o movimento de alta no mercado doméstico vinha ocorrendo desde outubro do ano passado, influenciado pela desvalorização do Real frente ao Dólar e consequente dificuldade na importação.
No caso do tomate e da banana, os incrementos esperados no faturamento são decorrentes de maiores preços reais na comparação com o primeiro bimestre de 2019, visto que se projeta menor produção para ambas as culturas.
Para a banana, as elevações no faturamento e nos preços são de 11,41% e 15,52%, respectivamente. Para a produção, espera-se uma redução de 3,56%. Apesar do patamar mais alto de preços na comparação com o primeiro bimestre de 2019, as cotações do produto recuaram ao longo de janeiro e fevereiro desse ano. Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, a oferta da banana nanica se manteve elevada em janeiro, o que, somado à menor demanda devido às férias escolares, fez com que as cotações reduzissem. Em fevereiro, a oferta diminuiu a partir da segunda quinzena do mês e houve aumento gradativo da demanda com o fim das férias escolares, fazendo com que as cotações da variedade iniciassem um movimento de recuperação.
No caso do tomate, a alta de faturamento esperada é de 14,52%. Os preços aumentaram 23,07% na comparação entre bimestres e é esperada produção 6,95% menor. Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, a elevação dos preços refletiu o menor volume ofertado no mês de janeiro em decorrência da maturação acelerada que ocorreu desde outubro de 2019 devido ao forte calor (restou pouca oferta para janeiro). No mês de fevereiro, as cotações foram pressionadas devido à intensificação da safra verão.
Figura 2. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de fevereiro
Tabela 4. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de fevereiro
Entre as culturas para as quais se projetam reduções no faturamento, para o algodão, a queda esperada é de 8,50%, reflexo dos preços reais 11,72% menores, visto que se projeta maior produção anual, com alta de 3,65%. Segundo a Conab, o aumento da produção (que deverá alcançar volume recorde) está relacionado a maiores produtividades e área destinada à cultura (principalmente no Mato Grosso e na Bahia). Segundo a Companhia, esperam-se ganhos produtivos devido às condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento da cultura e aos grandes investimentos feitos no setor. Quanto aos preços, embora estejam em patamares mais baixos na comparação com o primeiro bimestre de 2019, se elevaram ao longo de janeiro e fevereiro deste ano. A equipe Algodão/Cepea destaca que a valorização se deveu à posição firme da maior parte de vendedores e à desvalorização do Real frente ao Dólar, que favoreceu as exportações e contribuiu para diminuir a disponibilidade interna. A equipe também evidenciou que o volume a ser colhido no Brasil será quatro vezes superior à demanda doméstica estimada, fazendo com que o País tenha condições, e necessidade, de atender à demanda mundial durante todo o ano de 2020.
Para a laranja, a redução no faturamento esperado (-6,25%) é resultado de menores preços reais (-10,17%) na comparação entre janeiro e fevereiro de 2020 frente ao mesmo período de 2019. Para a produção espera-se um incremento de 4,37%. O menor patamar de preços nesse início do ano, segundo pesquisadores do Cepea, refletiu o fato de que a oferta da safra 2019/2020 foi volumosa e ainda havia muitas laranjas das variedades tardias no mercado.
Para o segmento primário da pecuária, como já destacado, as informações de produção ainda não estavam disponíveis até o fechamento desse relatório, de modo que as variações retratadas a seguir se referem a variações de preços, tal como apresentado no último relatório. De modo geral, o alto patamar de preços dos animais (com destaque para suínos e bovinos) e do ovo no acumulado de janeiro e fevereiro de 2020, frente ao mesmo período de 2019, ainda reflete um efeito inercial da forte elevação verificada ao longo do ano passado, em decorrência da elevação abrupta da demanda de países asiáticos acometidos pela Peste Suína Africana (PSA). A Figura 3 detalha os resultados específicos do segmento por atividades pecuárias.
Figura 3. Pecuária: Variação anual dos preços e do faturamento 2020/2019 com informações de fevereiro
A bovinocultura de corte apresenta projeção de aumento de 20,42% de seu faturamento, em função do avanço dos preços de mesma magnitude na comparação entre períodos (janeiro e fevereiro de 2020 e de 2019). Conforme mencionado no último relatório, tal resultado remete ao avanço dos preços ao longo do ano de 2019, em consequência do forte crescimento da demanda de países asiáticos. Ainda, conforme a equipe Boi/Cepea, a sustentação dos preços no mês de fevereiro refletiu a baixa oferta de animais para abate e as vendas aquecidas da carne bovina.
No caso da avicultura de corte, o avanço foi de 3,41% nos preços na comparação entre períodos iguais (janeiro e fevereiro de 2020 e de 2019). Segundo a equipe Frango/Cepea, o aumento do preço do frango vivo em fevereiro refletiu a elevação de custos enfrentada pelos avicultores, seja pelo aumento dos preços do milho ou do farelo de soja. O aumento de custos também afetou os preços de ovos, que apresentaram avanços na ordem de 22,38% na comparação entre bimestres. Além dos custos, a equipe Ovos/Cepea destacou outros fatores de impulso aos preços: (i) aumento da demanda, por se tratar de uma proteína alternativa às carnes, seja pelo preço mais barato ou pelo período de quaresma; (ii) altas temperaturas observadas no início do mês, o que influenciou tanto na mortalidade das galinhas poedeiras quanto no tempo de vida útil dos ovos.
No caso da suinocultura de corte, os preços avançaram 38,98% na comparação entre períodos (janeiro e fevereiro de 2020 e 2019) – também influenciados pelo aumento da demanda asiática ao longo de 2019. Especificamente no mês de fevereiro de 2020, segundo a equipe Suínos/Cepea, foi registrada queda nos preços em virtude da redução da demanda doméstica, principalmente na primeira quinzena do mês, apesar da baixa oferta de animais para abate e do bom ritmo de embarques da carne suína brasileira.
Dentre as atividades que compõem o segmento primário da pecuária, a produção de leite é a única que apresenta projeção de redução do faturamento (-10,06%), como resposta ao recuo dos preços, na mesma magnitude. Conforme e equipe Leite/Cepea, o movimento de queda representa um comportamento sazonal associado à ocorrência de chuvas que influencia o aumento da produção e, consequentemente, a queda do preço – embora a produção tenha crescido a um ritmo mais lento do que o esperado.
SEGMENTO INDUSTRIAL: Agroindústria cresce novamente em fevereiro, acumulando alta de 1,37% no primeiro bimestre
Após avançar em janeiro, a agroindústria cresceu novamente em fevereiro, 0,81%. Com isso, o crescimento acumulado no primeiro bimestre do ano foi de 1,37% (Tabela 1). Para a indústria de base agrícola, as altas foram de 0,34% no mês e 0,37% no acumulado do ano (Tabela 2). Para a de base pecuária, os crescimentos foram de 2,34% e 4,58% em fevereiro e no bimestre, respectivamente (Tabela 3). Novamente, ressalta-se que as informações de volume de abate de bovinos, suínos e aves ainda não estavam disponíveis até o fechamento do relatório e, para essas atividades, só foram contabilizadas variações de preços.
Na indústria de base agrícola, espera-se alta de 1,19% no faturamento anual, resultado de preços médios 1,47% menores e do avanço de 2,7% na produção. Para a indústria de base pecuária, o aumento esperado no faturamento é de 9,52%, via preços 13,19% maiores e queda de 3,25% na produção. Essa queda da produção média do segmento, por enquanto, reflete apenas as expectativas de menores volumes produzidos de produtos de couro e de derivados lácteos; ao serem incorporadas as informações da indústria do abate, haverá revisão importante e provavelmente positiva da taxa.
No acompanhamento feito pelo Cepea para a evolução do PIB, as indústrias de base agrícola para as quais se espera crescimento do faturamento em 2020, consideradas informações até fevereiro, são: biocombustíveis, moagem e fabricação de produtos amiláceos, produtos do fumo, açúcar e óleos vegetais. Já as indústrias de base agrícola para as quais se espera queda do faturamento em 2020 são: produtos e móveis de madeira, celulose e papel, têxtil e vestuário, indústria do café, conservas de frutas, verduras e outros vegetais, bebidas e outros produtos alimentares (Figura 4).
No caso do setor sucroalcooleiro, os aumentos esperados de faturamento anual no cálculo com dados até fevereiro são de 18,6% para etanol e 12,6% para açúcar – em ambos os casos, refletindo apenas as variações de preços entre bimestres, já que as informações de produção para 2020 ainda não estavam disponíveis. Com relação ao etanol, a equipe Etanol/Cepea apontou que a alta nos preços vinha ocorrendo desde outubro do ano passado. Segundo a equipe, a demanda deu o tom aos preços do etanol hidratado na safra 2019/2020, influenciada pela vantagem do biocombustível frente à gasolina C nas bombas. Adicionalmente, a alta no primeiro bimestre do ano refletiu o otimismo no setor, já que o início do Programa Renovabio se deu em janeiro. Menciona-se que o cenário para o setor de biocombustíveis se deteriorou de forma intensa a partir de março – fato ainda não contabilizado nos cálculos do PIB desse presente relatório. O setor foi afetado por dois choques negativos – queda dos preços do petróleo e queda da demanda devido às medidas de isolamento social relacionadas à Covid-19 – que, em conjunto, culminaram em uma crise sem precedentes. Esse cenário passará a ser captado no próximo relatório do PIB do agronegócio.
Para o açúcar, a equipe Açúcar/Cepea apontou que, depois de duas safras sucessivas de superávit mundial do produto, na safra atual deverá haver déficit global, pois são esperadas quedas de produção da Índia e da Tailândia. A equipe ainda evidenciou que usinas paulistas continuaram restringindo as ofertas para o mercado spot e aumentaram os valores de seus pedidos de venda, devido aos estoques limitados e à desvalorização cambial. Somado a este cenário, no decorrer de fevereiro, os preços externos do açúcar demerara também registraram picos de alta, impulsionando as cotações domésticas.
Figura 4. Agroindústrias de base agrícola: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias agrícolas acompanhadas
Para a indústria de óleos vegetais, o crescimento esperado para o faturamento anual, de 8,8%, reflete a alta de 6,0% nos preços reais, na comparação entre janeiro e fevereiro de 2019 e de 2020, e o aumento de 2,6% projetado na produção anual. Como destacado no relatório anterior, os maiores preços no bimestre refletiram as boas perspectivas em termos de demanda, interna e externa, para o óleo e o farelo de soja (para a produção de biodiesel e de ração animal, respectivamente).
No segmento industrial do ramo pecuário, por sua vez, a indústria de abate foi a única atividade que apresentou desempenho positivo, ao passo que laticínios e couro e calçados registraram variação negativa do faturamento anual esperado, conforme mostra a Tabela 5.
Tabela 5. Agroindústrias de base pecuária: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias pecuárias acompanhadas
Referente à indústria de abate e preparação de carnes e pescado, projeta-se crescimento de 18,61% do faturamento em 2020, como resposta, principalmente, ao avanço de 18,42% nos preços, na comparação entre períodos (janeiro e fevereiro de 2020 e de 2019), e sutil aumento de 0,20% da produção (que reflete apenas o comportamento da produção de pescado, dada a indisponibilidade de dados de abate de bovinos, suínos e aves). Conforme mencionado no último relatório, tal variação dos preços refletiu a valorização das carnes brasileiras ao longo do ano passado, como resposta ao aumento da demanda externa. Especificamente no mês de fevereiro, contudo, houve recuo dos preços de carnes suínas e de frango, diante das dificuldades com a demanda doméstica.
SEGMENTO DE SERVIÇOS: PIB dos agrosserviços acumula alta importante no primeiro bimestre, de 2,72%
O PIB dos agrosserviços do agronegócio brasileiro cresceu 1,4% em fevereiro, acumulando alta de 2,72% no primeiro bimestre do ano (Tabela 1). Entre os ramos do agronegócio, para o agrícola, as altas foram de 0,57% em fevereiro e de 1,05% no acumulado do bimestre (Tabela 2). Para o ramo pecuário, o PIB dos agrosserviços cresceu 2,84% no mês e expressivos 5,65% no acumulado de janeiro e fevereiro (Tabela 3).
O desempenho positivo do segmento de serviços reflete, no ramo agrícola, principalmente o comportamento do segmento primário, que segue com expectativa de elevação importante da produção, e no ramo pecuário, os bons resultados dentro da porteira e na agroindústria – ambos com impacto na demanda por serviços de transporte, comercialização, armazenagem, entre outros serviços necessários para que os produtos cheguem ao consumidor final, seja ele o mercado doméstico ou internacional.
CONCLUSÕES
Depois de crescer em janeiro, o PIB do agronegócio brasileiro avançou novamente em fevereiro, 1,2%. Com isso, no acumulado do bimestre, o crescimento foi de 2,42%. O crescimento do PIB do agronegócio tem sido impulsionado principalmente pelo segmento “dentro da porteira”, que cresceu 3,86% no acumulado do bimestre. A agroindústria e os agrosserviços também tiveram alta. Houve redução do PIB apenas para o segmento de insumos. Tanto o agrícola quanto o pecuário acumularam alta no período, mas com destaque para o segundo, que cresceu 4,61% no acumulado dos 2 primeiros meses de 2020.
Como enfatizado ao longo desse relatório, no caso do ramo pecuário, ressalta-se que os resultados ainda não contemplam dados relativos a volume de produção da maior parte das atividades. Desse modo, o bom desempenho retratado reflete, na verdade, apenas o comportamento dos preços, que foi favorável às cadeias pecuárias na comparação entre os primeiros bimestres de 2019 e de 2020. O elevado patamar de preços nos primeiros meses de 2020 refletiu um efeito inercial da forte elevação verificada ao longo de 2019, resultado da demanda aquecida pelas carnes bovina e suína no mercado externo, em decorrência da PSA, e seu reflexo nos preços domésticos das proteínas substitutas, como a carne de frango e os ovos. Além disso, o mercado também esteve relativamente aquecido no primeiro bimestre de 2020, devido ao bom ritmo das exportações, com a demanda doméstica permanecendo como um desafio para o ramo.
Para o ramo agrícola, o crescimento de 1,33% acumulado dos 2 primeiros meses de 2020 refletiu sobretudo o alto crescimento de 3,92% do PIB do segmento primário. Para esse segmento, considerando a média ponderada das diversas culturas acompanhadas, espera-se aumento de 3,57% na produção. Além da bienalidade positiva para o café, a Conab aponta que a safra de grãos deverá ser recorde, mesmo com os problemas climáticos no Rio Grande do Sul e a pandemia da Covid-19. Somado ao incremento de produção, o PIB também tem sido impulsionado por preços favoráveis: o preço médio das culturas acompanhadas teve aumento de 6,59% na comparação do 1° bimestre de 2020 frente ao mesmo período de 2019. Já a alta dos preços determinada sobretudo pela evolução das cotações de café, soja, milho e arroz.
Ressalta-se que esse relatório considera nos cálculos do PIB as previsões mais recentes para as safras agrícolas e as informações de preços e produção industrial observados até fevereiro de 2020. Por isso, os efeitos da chegada do Coronavírus no Brasil ainda não estão contemplados nos cálculos, algo que deve ocorrer já nas próximas publicações.
ANEXO I – Evolução mensal do PIB DO AGRONEGÓCIO
A1) PIB do Agronegócio: Taxas de variação mensal e acumulada (em %)
A2) PIB do Agronegócio: Participações dos segmentos (em %)
A3) PIB Volume do Agronegócio: Taxa anual (em %)*
Nota técnica: O PIB Volume do Agronegócio trata-se do PIB do agronegócio calculado pelo critério de preços constantes. Resulta, portanto, a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA
O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.
Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).
Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor.
Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:
• PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.
• PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).
Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx